Eleições 2022
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3 de novembro de 2022
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16:05

Bolsonaristas agridem e impedem cinco equipes de TV de registrarem atos golpistas

Por
Flávio Ilha
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Homem que agrediu equipe da Bandeirantes foi preso em flagrante pela Brigada Militar (BM). Foto: Reprodução
Homem que agrediu equipe da Bandeirantes foi preso em flagrante pela Brigada Militar (BM). Foto: Reprodução

Integrantes de pelo menos cinco equipes de TV foram ameaçados e impedidos de realizar seu trabalho nos atos bolsonaristas que desde a terça-feira (1º) são registrados em frente à sede do Comando Militar do Sul, no Centro de Porto Alegre.

Os eleitores do presidente Jair Bolsonaro (PL) pedem intervenção militar contra o resultado das eleições de domingo (30), que deu a vitória ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apologia à ditadura militar é crime no Brasil, previsto na Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83), na Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/50) e no Código Penal (artigo 287).

O caso mais grave envolveu a equipe da TV Bandeirantes, que teve uma câmera danificada e o repórter Matheus Goulart agredido por um homem. O agressor foi preso em flagrante pela Brigada Militar (BM). Segundo a corporação, o homem – que não teve a identidade divulgada – agrediu Goulart e o cinegrafista Rogério Aguiar pelas costas com socos e empurrões.

O agressor, que vestia uma camiseta verde e amarela do presidente Jair Bolsonaro, fugiu mas foi detido por pessoas que testemunharam o ato de violência. “Apesar das provocações que ouvíamos, comuns em coberturas deste tipo, o clima era tranquilo. As pessoas estavam, inclusive, nos mostrando os cartazes e pedindo que filmássemos. Até que o covarde chegou, me empurrou, deu um soco na nuca do Rogério e outro soco no rosto do Moisés [motorista], que caiu no chão. O covarde ainda tentou quebrar nosso equipamento. Em parte, conseguiu”, relatou Goulart.

A equipe recebeu atendimento no Hospital de Pronto Socorro e logo depois registrou um boletim de ocorrência. A Bandeirantes repudiou a agressão e informou, em editorial lido em seus telejornais, que o ato configurou um crime. “Além dos danos físicos e materiais causados pelo agressor, é uma afronta à Constituição. Não cometer crimes como o fechamento de ruas e estradas, isso sim é agir de acordo com a Constituição. Agredir jornalistas no pleno exercício do seu trabalho é atentar contra a ordem democrática e o estado de direito”, pontuou a emissora.

Também profissionais da Record e do SBT sofreram intimidações e ofensas quando registravam o ato bolsonarista que pedia intervenção militar em reação à vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de domingo (30). O movimento ganhou força na quarta-feira (2), quando milhares de pessoas interromperam o trânsito na região e também hostilizaram frequentadores da Feira do Livro de Porto Alegre.

Na Record, a repórter Daiane Dalle Tese e sua equipe foram hostilizadas e impedidas de registrar o ato durante uma participação ao vivo para o programa Balanço Geral. Um boletim de ocorrência foi registrado pela repórter, mas nenhum agressor acabou identificado. A repórter relatou que um homem começou a transmitir seu boletim em uma live e a chamar de mentirosa. “Gravem esse rosto, essa pessoa é mais uma que mente”, relatou ela sobre as falas do agressor.

O repórter João Pedro Tavares e o cinegrafista Danúbio Germano, da RDC TV, foram cercados pelos bolsonaristas e obrigados a desligar o equipamento de gravação. Eles tiveram de deixar o local para evitar novas agressões. O repórter Lucas Abati e o cinegrafista Cristiano Mazoni, ambos do SBT, também foram impedidos de trabalhar. Equipe da RBS TV também deixou o local.

A Record do Rio Grande do Sul emitiu uma nota de repúdio contra as agressões e lembrou que a liberdade de imprensa é um dos pilares da democracia. A Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert) também repudiou a violência dos bolsonaristas. “Meios de comunicação livres são sempre um importante pilar do estado democrático de direito”, diz o documento.

O ex-governador Eduardo Leite (PSDB), reeleito para o cargo, foi às redes sociais manifestar indignação. “Ataques à imprensa são atentados contra a democracia. Os episódios de hoje em Porto Alegre, cometidos por quem se recusa a aceitar o resultado das urnas, são inaceitáveis e devem ser repudiados por todos. Minha solidariedade aos profissionais”, escreveu.

O Sindicatos dos Jornalistas afirmou que, “em hipótese alguma”, vai admitir que agressões desse tipo sejam feitas contra os profissionais que estão exercendo seu direito ao trabalho. A presidente Laura Santos Rocha vinculou as agressões ao governo de Bolsonaro, que “criou um clima hostil também da parte dos apoiadores do atual presidente, que agem de forma perversa, desrespeitando o resultado democrático das urnas”.

Segundo ela, o sindicato encaminhou ofícios às autoridades de segurança pública para que “investiguem e punam os responsáveis por mais esse ataque à imprensa, além de garantirem a segurança da imprensa no exercício de sua função”. Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), foram registrados 18 casos de agressões a jornalistas em 2021 na região Sul, representando 6,06% do total de 430 casos no país.


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