Eleições 2022
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28 de outubro de 2022
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09:39

Último debate entre candidatos ao Piratini é marcado por ofensas e poucas propostas

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Sul 21
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Assunto foi tema de debate entre Leite e Onyx na campanha ao governo. Imagem: Reprodução/RBS
Assunto foi tema de debate entre Leite e Onyx na campanha ao governo. Imagem: Reprodução/RBS

Por Flávio Ilha e Luciano Velleda

Os dois candidatos que disputam o governo do Rio Grande do Sul no segundo turno das eleições promoveram um troca-troca de acusações mútuas que envolveram ofensas pessoais e acusações grosseiras. A frase mais ouvida no debate realizado pela RBS, o último antes da eleição de domingo, foi “dá um Google”.

No momento, as pesquisas apontam uma virada de Eduardo Leite (PSDB) sobre Onyx Lorenzoni (PL), com uma diferença média de seis pontos percentuais.

Expressões como “mentiroso”, “dissimulado”, “desonesto” e “criminoso” foram muito ouvidas nas quase duas horas de embate. No final, temas como educação, cultura e segurança, que até chegaram a ser abordados, foram ofuscados pela grosseria. No primeiro bloco, os candidatos tiveram 30 minutos livres – 15 minutos para cada um – para debaterem sobre qualquer tema. O tempo de perguntas, réplicas e tréplicas foi administrado pelos candidatos.

O trecho foi marcado por uma intensa troca de acusações entre os dois candidatos, que se acusaram várias vezes de mentirosos – além de apelarem aos ouvintes para que pesquisassem sobre os assuntos em debate. Leite começou descaracterizando um dos principais bordões do bolsonarismo: uma luta do bem contra o mal.

“Não estamos travando uma luta do bem contra o mal. É uma eleição. A política existe para nos fazer mais felizes, não para tornar o ar irrespirável”, disse o ex-governador em seu pronunciamento inicial.

O tema da adesão do estado ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que rendeu debates intensos durante a semana, voltou à pauta logo em seguida. Lorenzoni criticou a adesão e defendeu que o governo usasse o plano de Promoção do Equilíbrio Fiscal (PEF) para sanar as contas públicas – o que é inviável, segundo Leite, pois a nota do Rio Grande do Sul não permite adesão ao programa.

Lorenzoni voltou a dizer que o ex-governador é uma “usina de inverdades” e que “empilha mentiras umas sobre as outras”. O candidato do PL criticou os memes da campanha de Leite sobre o tema e disse que os problemas do estado deveriam ser tratados com seriedade. “Nosso estado não é uma brincadeira”, afirmou.

Também houve acusações pessoais. Leite lembrou que Lorenzoni negou um aperto de mão em um debate e o ex-ministro acusou o ex-governador de se vitimizar. “Pare de fazer mimimi. Sua campanha é baixaria de manhã, de tarde e de noite. O senhor me acusa de um crime que não cometi, agrediu minha família, minha mulher. Mas eu tenho Deus, aqui tem a verdade”, disse.

O momento mais tenso do primeiro bloco foi quando o tema da covid-19 foi mencionado. Leite lembrou que Lorenzoni não se vacinou contra a doença, mas o candidato bolsonarista acusou o ex-governador de “prender” todo mundo em casa e defendeu que a melhor terapia era se infectar, para ficar imune a novas manifestações do vírus.

“Morreram mais de 40 mil gaúchos, candidato. Mais de 600 mil brasileiros. Isso me ofende. É uma desumanidade, uma crueldade. As pessoas ansiavam pela vacina. O vírus era transportado no corpo das pessoas. Que bom que o senhor resistiu, que bom que não teve de pra ir para uma UTI. Mas muitos morreram”, retrucou Leite.

O segundo bloco do debate foi sobre temas escolhidos pelos candidatos. Onyx Lorenzoni escolheu a cultura e perguntou a Eduardo Leite quais suas propostas para o setor. O ex-governador construiu a resposta relacionando a área cultural com a economia, defendendo o investimento por criar emprego e gerar renda. Leite deu exemplos de realizações do seu governo, como recursos para o Pró-Cultura, melhorias em equipamentos culturais e junto aos grupos do tradicionalismos gaúcho.

Ao pegar novamente a palavra, o candidato do PL saudou que ambos tivessem o mesmo entendimento sobre a importância da cultura como área impulsionadora da economia. “Nisso concordamos”, disse.

Lorenzoni logo demonstrou que levantou o tema da cultura para direcionar seu discurso à favor das entidades tradicionalistas e destacou compromissos assumidos com o MTG e CTGs. Com uma boa dose de exagero, chegou a dizer que a metade sul do RS tem “o maior parque folclórico do mundo”.

Na sequência, Leite enfatizou a estratégia que foi sua marca no debate: provocar o adversário para que desse detalhes de seus planos. A intenção do candidato do PSDB foi sempre tentar demonstrar que Lorenzoni não conheceria o tema em profundidade. Em contrapartida, Lorenzoni respondeu afirmando ser “simples” atuar em favor da cultura, para novamente discursar sobre o tradicionalismo e citar a necessidade de investir nos rodeios. Foi quando Leite disse que seu adversário estava “copiando” investimentos que seu governo já realiza em reformas de rodeios.

A saúde foi o segundo tema abordado no bloco, dessa vez escolhida pelo candidato do PSDB. Leite lançou a isca sobre o projeto de “clínicas de especialidades” que tem sido divulgado por Lorenzoni e cuja inspiração vem do estado de Goiás. O candidato bolsonarista expôs sua proposta, dizendo que custaria R$ 20 milhões a construção de cada 10 clínicas e mais R$ 2 milhões ao mês de manutenção.

Ao retomar a palavra, Leite criticou seu adversário por propor trazer para o RS um projeto sem considerar a realidade local. E baseou sua afirmação enfatizando o baixo percentual de atendimento pelo SUS dos hospitais filantrópicos de Goiás em comparação com os do RS. “Sua proposta não para em pé”, afirmou o ex-governador.

Ao que Lorenzoni respondeu que os recursos viriam de uma futura boa gestão, algo que Leite, disse ele, não sabe fazer. “Dá um google aí”, sugeriu Lorenzoni para o telespectador. A empresa americana foi citada inúmeras vezes ao longo do debate, sempre com a sugestão do eleitor “dar um google” para checar os temas discutidos entre os candidatos.

O terceiro bloco foi o mais agressivo. O trecho até começou com perguntas sobre cultura e educação, mas acabou descambando para as acusações de caixa 2 que envolvem Lorenzoni. Leite provocou o candidato do PL ao mencionar que já defendeu a criminalização da prática antes de ser flagrado recebendo dinheiro de empresas. “Quantas vezes o senhor recebeu recursos em caixa 2?”, questionou.

Lorenzoni, assim como fez no debate anterior, se esquivou da resposta. E atacou de volta afirmando que o ex-governador é réu num processo de improbidade administrativa que pode torná-lo inelegível. Leite disse que a ação já foi considerada improcedente em duas instâncias.

O candidato bolsonarista também tentou desviar o foco da pergunta ao lembrar que o ex-governador adotou um severo lockdown que quebrou, segundo ele, 200 mil empresas no estado. Também tentou colocar em pauta a acusação de que o ex-governador contratou uma “pet shop” (na verdade, uma clínica veterinária) de Pelotas, sua base eleitoral, para realizar exames de covid-19 e casos de corrupção na Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), que administra os pedágios no estado.

“Já resolvi meu problema com a Justiça”, disse Lorenzoni. Leite, no final do bloco, afirmou que o candidato do PL foi acusado em três episódios de caixa 2 envolvendo a Odebrecht e a JBS, num total de R$ 300 mil. O candidato bolsonarista pagou R$ 189 mil numa acordo judicial para encerrar os processos.

“O senhor lucrou R$ 111 mil com os crimes que cometeu. Caixa 2 é dinheiro vivo, não é PIX, é mala, é dinheiro em atílio, em sacola, o que for. Na Lava Jato tinha um nome, e não era o meu, era do meu adversário. O senhor tem uma mancha na sua biografia. Ele [Lorenzoni] diz que eu tenho que lavar a boca para falar em seu nome. Mas nem com água e sabão ele se limpa. Precisamos de um governador que não minta, que seja honesto, que não tenha acordões”, atacou.

Lorenzoni devolveu na mesma moeda: “O senhor é leviano, mentiroso e dissimulado. O senhor desviou recursos ao pagar aposentados e pensionistas com dinheiro do Fundeb, fez pedalada pior que a Dilma. Não pode pagar aposentado e pensionista com Fundeb. Isso é desvio de finalidade. É pedalada fiscal, o senhor vai ficar inelegível”, retrucou.

O quarto e último bloco do debate novamente foi com temas escolhidos pelos candidatos. Leite optou por falar de segurança pública, desfilou números e investimentos da sua gestão e questionou o que Lorenzoni planeja para o tema.

Foi quando o candidato bolsonarista iniciou sua resposta retornando ao tema do bloco anterior, que havia terminado discutindo a educação. Deste momento em diante, o telespectador veria que o último bloco do debate não teria a melhor condução.

Leite seguiu apostando na estratégia de tentar mostrar que Lorenzoni não domina os assuntos e não tem propostas. Provavelmente levando em conta a péssima repercussão para seu adversário do debate anterior deles numa rádio da capital, em que o candidato bolsonarista virou meme ao não responder sobre o Regime de Recuperação Fiscal, o ex-governador insistiu o tempo todo com o questionamento: “Mas qual sua proposta?”.

E assim o “debate” de segurança pública passou por temas como o feminicídio, a legalização das drogas e o controle dos presídios, todavia, sem que fosse possível uma mínima troca de ideias.

O tema seguinte foi emprego, dessa vez escolhido por Lorenzoni. O resultado do debate, porém, não foi muito diferente. Até chegar ao ponto em que Leite demonstrou sua insatisfação com a estratégia de Lorenzoni de não responder os questionamentos e sempre devolver com outra pergunta.

“Não tem proposta. Tentei falar sobre feminicídio e não teve proposta, sobre sistema prisional e não teve proposta. Só copia nossas propostas. É lamentável”, disse o ex-governador.

O tema do emprego chegou a passar por problemas do setor calçadista, mas sempre de modo truncado. Ao fim, Lorenzoni se gabou de sua suposta eficiência como ministro do governo Bolsonaro. “Tenho entregas. Sou um ‘resolvedor’ de problemas”, afirmou.

Seguiram-se algumas trocas de farpas até o fim do debate, sem deixar de manter a sugestão para o telespectador que ficou acordado até meia-noite “dar um google” e checar o que os candidatos falam de si mesmo e do oponente.


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