Política
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5 de julho de 2021
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19:01

Por que estou aqui: as histórias e motivações por trás dos cartazes no #3J

Por
Luiza Castro
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Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

Meu nome é Rodrigo Teixeira, eu tenho 25 anos, sou ator e professor de teatro formado pela UFRGS, trago aqui um cartaz que tá escrito, de um lado, “eu vim por nós, pai” e, do outro lado, “mito é o sus”. Meu pai não está com covid, mas ele tá com câncer, está tratando do câncer já há dois anos, e eu só estou na rua hoje porque ele me ensinou que é importante a gente ir pra rua lutar pelo que a gente acredita, pelos nossos valores. Ele está há dois anos acamado, não pode sair de casa, então eu tô aqui hoje pra representar a nossa família, essa memória de infância e de luta que o meu pai nos deixou.

Assim como Rodrigo, milhares de pessoas foras às ruas no último sábado (3) protestar contra o governo de Jair Bolsonaro. Impulsionado pelas últimas revelações na CPI da Covid e pela expressiva adesão às manifestações anteriores, o #3J foi um dos maiores atos dos últimos meses. O Sul21 esteve presente e desta vez, para além das pautas e reivindicações coletivas, conta em imagens algumas das histórias por trás dos cartazes presentes na marcha. Vacina, impeachment, luto, revolta e memória: leia, a seguir, relatos de quem esteve no #3J em Porto Alegre.

Meu nome é Alana. No dia 19 de maio eu perdi o meu pai, depois de 30 dias internado, por complicações da covid, que ele contraiu na semana em que a vacinação atingiria o grupo etário dele. Se a vacinação tivesse começado um mês antes, o meu pai não teria morrido aos 66 anos, depois de ficar um ano trancado em casa, se protegendo, tomando todos os cuidados necessários, mesmo assim o vírus alcançou ele. Eu trago ele comigo.

Sou Fabio, tenho 50 anos, sou policial civil e estou aqui com a minha companheira, Valentina. Queríamos chamar a atenção para a importância de entendermos o que é a PEC 32, a PEC da reforma administrativa, que vai destruir o que resta dos serviços públicos, atingindo em cheio principalmente a população mais pobre. A denúncia feita por um servidor público na CPI, demonstrou bem o que pode ocorrer se um servidor não tiver preservada a sua estabilidade. Nesse caso específico, seria demitido. Resolvemos ilustrar o cartaz com a frase repetida à exaustão pelo presidente da República para dizer que no governo dele não havia corrupção, quando, na verdade, está atolado em denúncias. A PEC 32 é o marco regulatório da corrupção.

Meu nome é Pâmela Santos da Silva, tenho 31 anos e eu estou aqui em nome do meu pai e do meu cunhado, que faleceram por causa de um presidente podre, que não está nem aí para a vida de ninguém. Houve 53 e-mails que poderiam ter sido respondidos e não foram. Então, eu estou aqui por eles, e por todo um povo que luta por um futuro melhor. [na verdade, foram 101 e-mails da Pfizer ao governo Bolsonaro]

Meu nome é Liana Pereira Teixeira, tenho 51 anos. Eu sou do interior, estou na Capital hoje porque vim visitar a minha filha e já aproveitei pra vir me manifestar. Eu perdi uma irmã agora em março, ela tinha 60 anos e faleceu de covid. Ela ficou três meses no hospital, e não aguentou, e a gente tá aqui porque a gente acredita que precisamos de dias melhores, oportunidades melhores pra todo mundo, e sabemos que a vacina é a salvação.

Eu sou André Ramos, tenho 34 anos, sou técnico de enfermagem. Meu tio veio a falecer devido à covid-19 em março, no ápice da pandemia. Infelizmente, ele não sobreviveu ao processo de intubação, teve uma parada cardíaca. Ele deixou, além da minha tia, mais três filhas. Ele partiu e isso foi muito desgastante pra nós, porque ele foi uma pessoa muito importante na nossa família. Não somente pra minha tia e pras filhas dele, mas também pra minha mãe, pra mim e pros meus irmãos. Ele foi um tio muito presente e foi uma perda muito grande pra nós. Agora que alguns membros da minha família já conseguiram se vacinar, é seguir em frente como pudermos. Eu estou no ato por ele. Como eu sou da área da saúde, eu vi muitas pessoas, não somente da idade dele, que tinha 60 anos, mas também muitas pessoas com a minha idade que morrerem por causa desse vírus. Eu vim aqui pelos demais também, por todas as perdas que tivemos, porque é necessária a saída do Bolsonaro, ele já fez muita coisa errada. A gente já previa isso, e a pandemia só mostrou o quanto ele é ineficaz pro cargo que ele ocupa. Perdemos 520 mil pessoas pra comprovar isso, então eu acho que já tá mais do que na hora dele sair.

Meu nome é Jenifer, eu tenho 27 anos. Atualmente, sou atendente de telemarketing e eu estou aqui hoje porque a situação está pedindo que a gente se posicione, que a gente esteja na rua. A gente tem um presidente que mata muito mais do que qualquer vírus. A gente poderia estar numa situação totalmente diferente no nosso país, e já passou da hora da gente pedir ele fora. Ele já deveria estar fora há muito tempo, não deveria nem ter entrado, e é por esse motivo que eu vim hoje pro ato, com as minhas duas primas, e estamos juntas aqui na luta.

Eu sou o Rodrigo. Eu tenho 40 anos e faço parte do coletivo da Coluna Vermelha, que é um coletivo de torcedores do Inter. Estou aqui com o meu filho, o Vicente, que vai fazer 4 anos mês que vem, e a gente tá aqui pra tentar derrubar o Bolsonaro, porque não dá mais pra gente ficar do jeito que está. Tá tudo muito caro, desde o gás de cozinha, comida, arroz, feijão, carne, tá tudo caríssimo. Ninguém aguenta mais e precisamos urgente derrubar o Bolsonaro. E por isso estamos trazendo aqui também uma parte da torcida do Inter, que tá saindo da arquibancada e vindo pra rua pra ajudar a protestar, se politizando, se organizando e se somando nas mobilizações pela derrubada do Bolsonaro.


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