Meio Ambiente
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20 de fevereiro de 2023
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17:59

Centro de monitoramento emitiu alertas três dias antes dos temporais no litoral de SP

Fortes chuvas afetaram principalmente as praias do município de São Sebastião, no litoral norte de SP. Foto: Divulgação/Defesa Civil de São Paulo
Fortes chuvas afetaram principalmente as praias do município de São Sebastião, no litoral norte de SP. Foto: Divulgação/Defesa Civil de São Paulo

Da Agência Brasil

O temporal que afetou o litoral norte de São Paulo, deixando centenas de desabrigados e desalojados e provocando mortes, foi previsto com antecedência de pelo menos três dias, segundo informações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). 

O coordenador-geral de Operações do Cemaden, Marcelo Seluchi, afirmou, em entrevista à Agência Brasil, que a Defesa Civil Nacional e as defesas civis locais foram alertadas sobre a possível ocorrência do temporal.

“Na quinta-feira passada (16), nós já tínhamos uma certa confiabilidade da previsão. Pensamos que algum evento extremo ia acontecer no litoral de São Paulo. Então enviamos uma nota técnica [à Defesa Civil Nacional] com um texto relatando isso. Então a Defesa Civil Nacional convocou uma reunião com as defesas civis de São Paulo, Rio e Minas Gerais na sexta-feira à tarde”, explica Seluchi.

De acordo com Seluchi, na sexta-feira, a previsão de risco do Cemaden já marcava o litoral norte de São Paulo com a cor vermelha, que mostra risco geológico “muito alto”.

A Defesa Civil Nacional também divulgou, em seu perfil no Twitter, na manhã de sábado (18) a previsão do Cemaden para riscos muito altos de deslizamento no litoral norte de São Paulo e no sul do Rio de Janeiro.

Na tarde de sábado (18), algumas horas antes do desastre, o Cemaden conseguiu ter uma noção mais clara sobre onde o temporal ia chegar com mais força.

No mesmo dia, o centro enviou  alertas para um risco “muito alto” de “movimentos de massa”, ou seja, de deslizamentos de terra para cidades como Caraguatatuba, Ilhabela, Ubatuba e também São Sebastião, onde mais de 30 pessoas morreram. “O mais importante nesses casos de grandes desastres é antecipar da melhor forma possível, com a maior antecedência possível”, explica Seluchi.

Segundo o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto, as chuvas começaram por volta das 21h de sábado (18) no município. A partir daí, a prefeitura emitiu alertas de Defesa Civil e preparou sua infraestrutura de resposta e socorro. Em coletiva à imprensa hoje, ele informou que já tinha recebido comunicado sobre fortes chuvas que cairiam na cidade.

“O que não se esperava era a densidade dessas chuvas, que ultrapassaram 600 milímetros num curto espaço de tempo. Às 3h [de domingo], o Centro de Coordenação de Emergência e de Contingência foi ativado. Nós nos reunimos no centro operacional da prefeitura, com a presença do Corpo de Bombeiros, coordenando todas as ações e já recebendo os primeiros chamados de escorregamentos e alagamentos”.

A prefeitura não divulgou qualquer alerta prévio aos riscos de chuva na madrugada de domingo. Ainda nas primeiras horas da madrugada, as três redes de São Sebastião divulgaram posts com fotos e vídeos celebrando “sucesso” do carnaval apesar da chuva.

O primeiro alerta sobre chuvas fortes só seria publicado no Twitter da prefeitura às 7h de domingo, depois do temporal.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) suspendeu o descanso no feriado de carnaval para visitar hoje (20) a região atingida pelos temporais. Ele sobrevoou a região atingida e esteve em São Sebastião. No local,  disse que os governos federal, estadual e municipal devem atuar juntos para superar a tragédia que deixou, até o momento, 36 mortos. 

“Estamos juntos. Acabou a eleição”, disse, ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto. “Se cada um ficar trabalhando sozinho, nossa capacidade de rendimento é muito menor. Por isso, precisamos estar juntos.”

Em entrevista, Lula manifestou solidariedade ao povo do litoral norte de São Paulo e pediu orações não apenas pelas vítimas e suas famílias, mas para que a chuva cesse ao longo dos próximos dias e o tempo permita a continuidade dos trabalhos de resgate.

“Uma boa reza, com muita fé, sempre ajuda a reconquistar o que a gente quer.”

Ele lembrou que, “há muito tempo”, não se via no país governador, presidente e prefeito sentados à mesa em função de algo em comum e que atinge a todos. “É uma demonstração de que é possível exercer a nossa função na democracia mesmo quando a gente pertence a partidos diferentes. O bem comum do povo é muito mais importante do que qualquer divergência que a gente possa ter.”

Durante visita, Lula garantiu a reconstrução de casas atingidas pelos temporais, desde que em áreas consideradas seguras e aptas para moradias. Ele lembrou que há municípios brasileiros que registraram tragédias semelhantes há anos e que, ainda assim, o problema habitacional das famílias afetadas não foi resolvido.

O presidente pediu ao prefeito de São Sebastião auxílio para mapear as localidades em que a Defesa Civil atesta segurança para a construção de casas. “Desta vez, vai acontecer de verdade. Só arrumar terreno mais seguro”, disse. “Vocês vão voltar a ter um ninho, para cuidar da família de vocês”, completou.


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