Geral
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7 de fevereiro de 2025
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17:20

Operação resgata 18 trabalhadores indígenas de condições análogas à escravidão em Bento Gonçalves

Por
Felipe Prestes
felipenprestes@gmail.com
Trabalhadores estavam alojados em um galpão de madeira sem piso Foto: MTE
Trabalhadores estavam alojados em um galpão de madeira sem piso Foto: MTE

Uma operação coordenada por auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 18 trabalhadores indígenas de condições análogas à escravidão em Bento Gonçalves. A maioria dos trabalhadores havia se deslocado de uma terra indígena kaingang no município de Benjamin Constant do Sul. Eles foram contratados por uma empresa de prestação de serviços para a colheita da uva. A ação contou com o apoio da Secretaria de Assistência Social e da Guarda Municipal de Bento Gonçalves, além da Polícia Rodoviária Federal.

Na última quarta-feira (5), um grupo de dez trabalhadores procurou acolhimento junto à assistência social de Bento Gonçalves, após ser dispensado e despejado de seu alojamento sem o devido pagamento pelo tempo trabalhado. A fiscalização do trabalho foi acionada e, em inspeção realizada no mesmo dia, identificou outros oito trabalhadores mantidos nas mesmas condições inadequadas de trabalho.

Os 18 trabalhadores resgatados estavam alojados em um galpão de madeira sem piso, paredes ou coberturas adequadas, e dormiam em colchões dispostos no chão do salão, atrás de um bar e dentro das canchas de bocha. As seis mulheres e doze homens tinham idades entre 17 e 67 anos, sendo alguns deles não alfabetizados. No local também estavam presentes um bebê e uma criança de cinco anos. De acordo com os relatos, o alojamento chegou a abrigar cerca de 40 pessoas. Na quinta-feira (6), a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico interditou o local.

Os trabalhadores chegaram à cidade no dia 7 de janeiro deste ano com a promessa de carteira assinada, diárias de R$ 150, além de moradia e alimentação. Embora tenham realizado exames médicos admissionais, o registro formal nunca foi efetuado. As diárias só começaram a ser pagas a partir de 20 de janeiro, e a quantidade de postos de trabalho oferecidos era inferior ao número de trabalhadores contratados, resultando em dias sem trabalho e sem remuneração. Outro problema identificado foi a comercialização de itens essenciais dentro do alojamento, como papel higiênico, por valores superiores aos praticados no mercado.

A prestadora de serviços foi notificada a realizar os pagamentos devidos e a custear o transporte dos trabalhadores de volta à sua cidade de origem. Na noite desta quinta, dez trabalhadores retornaram para casa com parte dos valores devidos e passagens custeadas pelos contratantes. O pagamento integral dos direitos trabalhistas dos 18 trabalhadores deve ser efetuado ao longo da próxima semana. O MTE também emitirá seguro-desemprego para os resgatados, garantindo-lhes três parcelas de um salário mínimo.

Este é o terceiro resgate de trabalhadores na safra da uva de 2025 no Rio Grande do Sul. No dia 28 de janeiro, Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, quatro trabalhadores argentinos foram resgatados em São Marcos. No último domingo, nove trabalhadores da mesma nacionalidade foram resgatados em Flores da Cunha.


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