As obras de reparo na ciclovia da Av. Ipiranga só vão começar efetivamente após as festas de fim de ano. A justificativa do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) e da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) é que as intervenções terão impacto no trânsito da avenida, e a melhor opção é que elas aconteçam no período de veraneio, quando o tráfego é menos intenso em toda a cidade.
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) identificou falhas em 11 trechos do talude (paredão em declive, feito de pedras, que cerca o curso d’água) da Av. Ipiranga entre julho de 2023 e maio de 2024. O período foi marcado por sucessivos temporais.
Dois trechos do talude foram reconstruídos no ano passado e novos projetos foram encomendados após os episódios mais recentes. No momento, há um trecho com contrato assinado, entre as ruas Silva Só e São Manoel. Outros cinco trechos estão licitados, em fase de análise técnica para definição da empresa vencedora: esquina com a rua São Manoel e em frente ao Planetário; e quatro outros próximos à PUCRS, nos dois lados da Ipiranga. A licitação de outros três trechos está sendo elaborada: em frente ao Madero, em frente à SERDIL e entre as ruas Santana e Gomes Jardim.
O estagiário Lorenzo Bolla de Oliveira, 21 anos, usa a ciclovia desde 2022. Quando escolheu esse trajeto, o motivo foi a segurança, mesmo que o deslocamento ficasse um pouco mais longo. A partir de 2023, passou a usar a bicicleta para ir até o estágio. “A Ipiranga é a única opção de transporte da faculdade até locais de trabalho na região central”, comenta.
Os deslizamentos do talude fizeram com que Lorenzo reduzisse o uso da ciclovia. “Segui me transportando pela ciclovia até os deslizamentos da Silva Só tornarem ela verdadeiramente inutilizável entre a Silva Só e a Santana. Por um tempo, quando bloquearam toda sua extensão, ainda antes das enchentes, parei de usar a ciclovia totalmente, andando sempre junto aos carros. Agora consigo utilizar uma extensão maior da ciclovia graças à remoção dos bloqueios, mas ainda há partes grandes absolutamente inutilizáveis”, afirma.
Após ser interditada no ano passado, a ciclovia foi reaberta em 22 de agosto de 2024 com desvios que passavam pela pista de rolamento da Av. Ipiranga, o que levava à redução das faixas para o tráfego de veículos. Para minimizar o impacto, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) permitiu que os carros usassem a faixa azul no trecho mesmo em horários de uso exclusivo de ônibus e alterou o tempo dos semáforos, mas a medida agravou o engarrafamento no local.
Em novembro deste ano, o trecho interditado entre as avenidas João Pessoa e Salvador França foi liberado. A orientação é que os ciclistas utilizem o passeio compartilhado com os pedestres — foi criado um desvio para o passeio entre as ruas Santana e João Guimarães. De acordo com a Prefeitura, há sinalização que indica como pedestres e ciclistas devem transitar pelo local. A liberação permite aos ciclistas a utilização de 60% da extensão total da ciclovia, desde a Edvaldo Pereira Paiva até a Salvador França.
Para Lorenzo, o maior impacto dos bloqueios foi na segurança. “Já levei buzinaço e fechada de motoristas que não se tocam que a ciclovia caiu no rio, me mandando usar uma ciclovia que não existe mais, sem falar do risco muito maior de acidentes quando a bicicleta é obrigada a transitar junto a carros em uma via de velocidade alta como a Ipiranga”, diz. “Os carros não respeitam alguém andando a 12, 15, 18 [km] por hora, fazem de tudo para te ultrapassar, mesmo que isso te coloque em risco. Como tive vestiário tanto em meu trabalho anterior, quanto no atual, posso vir nessa velocidade, mas quem não tem esta sorte precisa ir mais devagar para não suar no deslocamento, assim impossibilitando seu transporte ativo pela avenida Ipiranga”, completa.
O ciclista não está otimista quanto aos reparos na ciclovia. “O prefeito atual não tem bom histórico com a qualidade das obras feitas durante seus mandatos, é muito provável que o resultado seja de baixíssima qualidade. Torço que ao menos restaure a ciclovia ao estado anterior, mesmo que este já não fosse ideal, mas temo que não consiga nem retorná-la a esta condição”, opina.
Antes, a ciclovia já era problemática, nas palavras de Lorenzo. “Tem afunilamentos contornando postes gerando alto risco de colisões. Havia, também, alto tráfego de pedestres graças a má qualidade das calçadas às margens da avenida, e demasiados desvios de uma margem a outra da avenida, o que já atrapalhava desnecessariamente o fluxo do transporte ativo. A ciclovia tinha graves problemas de projeto, e duvido que sequer um deles seja reparado junto aos taludes. Só espero conseguir fazer este deslocamento 100% por ciclovias novamente, já que era muito, muito mais seguro”.