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27 de junho de 2024
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12:17

Federação de remo critica fechamento definitivo de comporta que dá acesso ao Parque Naútico

Por
Luciano Velleda
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Área do Parque Náutico Alberto Bins foi concedida pelo governo estadual em 1956. Foto: Reprodução/Facebook/Remosul
Área do Parque Náutico Alberto Bins foi concedida pelo governo estadual em 1956. Foto: Reprodução/Facebook/Remosul

A Federação de Remo do Rio Grande do Sul (Remosul) emitiu nota, na última segunda-feira (24), questionando a intenção da Prefeitura de Porto Alegre em fechar definitivamente a comporta 14 do sistema de proteção contra cheias da Capital. A ideia do governo do prefeito Sebastião Melo (MDB) foi confirmada pelo diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Maurício Loss, em entrevista ao Sul21.

O plano é fechar definitivamente, com um muro de concreto, oito das 14 comportas que integram o sistema de defesa da Capital contra a elevação das águas do Guaíba: as de número 3, 5, 7, 8, 9, 10, 13 e 14. A comporta 11 será fechada parcialmente, mantendo um vão de 4 metros de largura para acesso de veículos e pedestres no porto.

O questionamento da Remosul deve-se ao fato da comporta 14 ser o principal acesso à sede da federação e de cinco clubes de remo da Capital, localizados no Parque Náutico Alberto Bins. O parque foi destinado pelo governo estadual em 1956, antes da construção do sistema de proteção contra cheias, como espaço para a prática e provas de remo e outros esportes náuticos em Porto Alegre.

“Atualmente, os clubes de remo ali localizados recebem diariamente dezenas de praticantes do remo e outros esportes náuticos, oriundos de diversos bairros de Porto Alegre e da Região Metropolitana. Mas cabe destacar o papel social que os clubes desempenham na região, atendendo dezenas de crianças e adolescentes de bairros como Arquipélago, Vila Farrapos, Navegantes e Humaitá, muitos em situação de vulnerabilidade econômica”, destaca a nota da Remosul.

“O trabalho realizado pelos clubes de remo extrapola a dimensão esportiva, mas sua vocação formativa e comunitária já resultou na formação de atletas olímpicos e de alto rendimento que representaram o país em diversas oportunidades. Além disso, o espaço dos clubes e da federação de remo também recebe, além das competições esportivas, outras atividades de lazer e eventos diversos”, afirma a entidade.

Segundo a Remosul, o fechamento definitivo da comporta 14 impactará profundamente o remo gaúcho. A entidade ainda pondera que o dano sofrido pela comporta durante a enchente de maio de 2024 parece ter relação mais com a falta de manutenção do que com a sua localização. “Remadores que passam diariamente por ali já haviam diagnosticado o fato de que sequer a comporta estava encaixada sobre seu trilho (tanto a comporta interna como a comporta externa, que foi danificada e acentuou o rompimento parcial do dique da Av. Castelo Branco)”, destaca a Remosul.

Presidida por Werner Günther Höher, a federação diz que o remo gaúcho tem profunda relação com a história de Porto Alegre. “Esta federação e os clubes de remo fazem parte dessa história e por isso não podem ser ‘culpabilizados’ pela tragédia que todos ainda estamos enfrentando. O fomento a uma cultura náutica, o contato com o Guaíba, o conhecimento sobre suas dinâmicas e belezas, podem ser tão ou mais úteis em cenários de futuras enchentes, do que o simples isolamento do Parque Náutico Alberto Bins, ocasionado pelo fechamento permanente da comporta nº14.”

Localização das 14 comportas localizadas ao longo do Muro da Mauá, em Porto Alegre. Ilustração: Divulgação/Prefeitura de Porto Alegre

Questionado sobre a situação da comporta 14 e a reclamação da Federação de Remo do Rio Grande do Sul (Remosul), o Dmae informou que o fechamento permanente das comportas “ainda está na fase de planejamento”.

“O projeto será construído com diálogo junto a todas as entidades que utilizam a área portuária, para que o reforço tenha o menor impacto possível nas atividades realizadas na região. No caso específico da comporta 14, há, ainda, necessidade da autorização da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana”, explica o órgão.

De acordo com o diretor-geral do Dmae, Mauricio Loss, a decisão de fechar definitivamente algumas comportas parte do entendimento de que elas estão fechadas há muito tempo e já não servem mais ao propósito de quando foram construídas, quando havia maior movimento de navios e fluxo de trânsito nos armazéns do Cais da Capital.

“Tínhamos um fluxo de cargas que embarcavam e desembarcavam nos armazéns e isso está completamente desativado. Havia acesso inclusive pelos trilhos do trem para dentro do Cais e depois os trilhos foram cercados pelo gradil de concreto. Os portões perderam a finalidade de entra e sai”, explicou. “Os portões que ainda servem pra mobilidade, que ainda há um fluxo, vamos manter abertos, mas esses que já estavam permanentemente fechados, justamente por não haver mais atividades no Cais, vamos fechar.”

Loss diz que, mesmo fechadas, as comportas requerem manutenção. A falta de cuidados específicos tem sido apontada como uma das causas da histórica enchente do mês de maio, pois a água ultrapassou mais de uma comporta e invadiu o centro da cidade. Agora, para facilitar o serviço de manutenção, a Prefeitura formou a opinião de que é preferível fechá-las com um novo muro que, por sua vez, exige cuidados mais simples de preservação.

“Achamos por bem retirar as comportas e fechar com parede extremamente reforçada, que aguente a força d’água, bem vedada e isolada para que não haja infiltração de água para dentro da cidade”, explica Loss, ressaltando que os engenheiros do Dmae estão trabalhando no projeto, que não é simples devido à exigência de as paredes serem robustas.

Com três metros abaixo do solo e outros três acima dele, o Muro da Mauá tem 2.647 metros de comprimento e é responsável por proteger parte da área central da Capital. Situado às margens do Guaíba, entre o Porto e a Av. Mauá, ele faz parte do Sistema de Proteção Contra Cheias, constituído pelo muro, 68 quilômetros de diques, 14 comportas e 19 casas de bombas. O sistema foi construído entre 1968 e 1974 para evitar uma enchente semelhantes a de 1941. Em 2024, porém, o sistema falhou – segundo especialistas, por falta de manutenção e reparos.


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