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14 de maio de 2024
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18:26

Ex-diretores do Dmae e DEP apontam falta de manutenção e sugerem medidas imediatas

Por
Sul 21
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Porto Alegre inundada pelas agua do Guaíba. Foto: Isabelle Rieger/Sul21
Porto Alegre inundada pelas agua do Guaíba. Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Ex-diretores do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), do extinto Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) e da recém privatizada Corsan, em conjunto com outros especialistas na área, assinam um manifesto em que sugerem uma série de medidas a serem adotadas para reforçar o Sistema de Proteção Contra Inundações de Porto Alegre e facilitar o processo de vazão da atual inundação que atinge a cidade. Na abertura do manifesto, os signatários defendem que o atual sistema é “robusto, eficiente e fácil de operar e manter”, mas que não está operando adequadamente pela falta de manutenção.

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Eles pontuam que o Sistema de Proteção é composto por cerca de 60 km, que se estendem da Free Way, ao norte, até o Morro da Assunção, ao sul, sendo composto pelo Muro da Mauá e diques externos e internos a uma cota de 6 m de altura — a altura máxima da água registrada na atual inundação, a maior já registrada, é de 5,35 m, no dia 5 de maio. No muro, há 14 comportas que, em dias normais, permanecem abertas e são fechadas em casos de inundação. O sistema também é composto por 23 casas de bombas, que também possuem comportas.

“Este sistema, quando totalmente fechado impede o extravasamento das águas sobre a cidade. Impede a inundação até a cota de 6 m (6,0 m acima do mar). E como são retiradas as águas geradas dentro de Porto Alegre (solução para os alagamentos-drenagem)? Através do bombeamento das casas de bombas, diques internos e condutos forçados (dutos que levam as águas para o Guaíba em dutos completamente fechados desde pontos mais altos). Ou seja, os dois sistemas – de proteção contra inundações e de drenagem – necessitam funcionar integradamente”, destaca o manifesto.

Segundo o documento, os vazamentos no sistema são resultado da falta de manutenção das comportas, tanto ao longo do muro, abaixo da Av. Castelo Branco e junto às casas de bombas, alertando ainda que estas falhas já foram percebidas na cheia do Guaíba de 2023.

“Os diques e os muros não vazam! Os vazamentos estão em boa parte das comportas sem manutenção. No ano passado, quando o sistema foi acionado, durante as inundações com início no Vale do Taquari e que também inundaram a Região Metropolitana, as deficiências nas comportas ficaram visíveis. Fáceis de serem sanadas, mas não foram. As próprias casas de bombas, bem como as Estações de Bombeamento de Água Bruta (EBABs) estão inundadas”, diz o manifesto.

Os signatários do documento propõe uma série de medidas emergenciais que poderiam ser tomadas para agilizar a retomada das casas de bombas. Eles pontuam que é urgente o fechamento das comportas para evitar a entrada das águas do Guaíba, recompor os condutos forçados e bombear as águas da inundação de Porto Alegre para fora da cidade.

Para alcançar esses objetivos, sugerem cinco medidas:

1) Através de mergulhadores vedar as comportas do muro e Av. Castelo Branco, com sacos permeáveis à entrada de água preenchidos com areia misturada com cimento, borrachas e parafusos. Sugerimos prioridade para a comporta 14 que invadiu o bairro Navegantes;

2) Também com mergulhadores vedar as comportas e colocar ensecadeiras nas casas de bombas com stop logs, solda sub-aquática e bolsas infláveis de vedação;

3) Vedar hermeticamente as tampas violadas dos condutos forçados Polônia e Álvaro Chaves;

4) Com as casas de bombas secas e protegidas por ensecadeiras, reenergizá-las, o que pode ser realizado com redes paralelas de cabos isolados pela Equatorial. Se assim não for possível, utilizar diretamente nas casas de bombas geradores movidos a combustível;

5) Caso não seja possível operar imediatamente as casas de bombas, utilizar bombas volantes de grande vazão para drenar o Centro Histórico e os bairros da região norte da cidade. No caso do bairro Sarandi, onde as águas superaram a cota de 6 m e a casa de bombas nº 10 está completamente inundada, é certo que serão necessárias bombas volantes.

Uma vez as comportas vedadas e as casas de bombas retomadas, a água do Guaíba poderia ser inteiramente bombeada para fora da cidade, sem o risco de retornar.

O manifesto sugere ainda cinco medidas a serem adotadas depois que as águas baixarem. São elas:

1) O Dmae necessita imediatamente consertar e, se necessário realizar eventuais substituições, das comportas do sistema de proteção contra inundações;

2) O Dmae necessita imediatamente contratar a regularização do funcionamento das casas de bombas, incluindo a sua ampliação e aperfeiçoamento, tendo por referência o plano elaborado pelo DEP ainda em 2014 e cujos recursos financeiros de R$ 124 milhões a fundo perdido foram perdidos em 2019. Tratam-se das casas de bombas 12; 13; 14; 15; 16; 1; 2; 3; 4; 5; 6 e 10;

3) Retomar o Plano de Desenvolvimento da Drenagem Urbana, elaborado desde 1998, entre IPH/UFRGS e DEP, constituindo o caderno do plano para ampliação do sistema de proteção contra as cheias, base para contratação, em 2014, do PAC-Prevenção, um conjunto de projetos de ampliação e modernização das casas de bombas;

4) Considerando que a cidade possui mais de 40% de sua área praticamente na mesma cota das águas do Guaíba em tempos normais, tem a necessidade de completar, aperfeiçoar e manter o seu sistema de drenagem urbana, manter e aperfeiçoar permanentemente o seu sistema de proteção contra inundações, é necessário e urgente recriar uma estrutura de primeiro escalão, o DEP ou semelhante. As empresas de saneamento de água potável e esgotos, por absoluta emergência e por ter tarifa específica para estas atividades, como é o caso do Dmae, não tem e não terão qualquer prioridade para as atividades de drenagem urbana e proteção contra inundações;

5) Estudar a ampliação e o aperfeiçoamento, a nível estadual, de alternativas para os sistemas de proteção contra inundações, em especial, em nosso caso, considerando a região Metropolitana de Porto Alegre. Lembramos que a Metroplan já realizou um estudo com esta finalidade que deve ser avaliado.

Assinam o documento:

Augusto Damiani, Eng.º Civil, Ex-diretor geral do DEP e DMAE, Hidrólogo e Mestre em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo IPH/UFRGS;

Arnaldo Dutra, Engenheiro, Ex-diretor geral do DMAE e Ex-presidente da CORSAN;

Betania Alfonsin, Pesquisadora do Observatório das Metrópoles e do Mestrado em Direito da FMP e Diretora de Relações Internacionais do Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico;

Carlos Bernd, Eng.º Civil, DEP, Ex-diretor da DOP, Diretor da ASTEC;

Carlos Roberto Comassetto, Eng.º Agrônomo, Ex DEP, Especialista em Planejamento Ambiental de Território, Vereador de Porto Alegre por 20 anos;

Carlos Atílio Todeschini, Eng.º Agrônomo, Ex-diretor de Conservação do DEP, Ex-diretor geral do DMAE, Ex-vereador de Porto Alegre;

Daniela Bemfica, Eng.ª Civil, Hidróloga, Mestre em Recursos Hídricos e Ex-diretora geral do DEP;

Guilherme Barbosa, Ex-diretor geral do DMAE, Ex-secretário do Obras, Ex-vereador de Porto Alegre;

Nanci Begnini Giugno, Eng.ª Civil, Mestre em Planejamento Urbano e Regional, Ex-diretora de Gestão Territorial da METROPLAN, Ex-diretora do Departamento de Recursos Hídricos da SEMA, Ex-presidente da ABES/RS, Ex-diretora de Qualificação Profissional do SENGE/RS, Ex-presidente do Comitê do Lago Guaíba;

Paulo Robinson da Silva Samuel, Eng.º Civil, atual Presidente da ABES/RS, Ex DMAE, Doutor em Engenharia da Área de Tecnologia Mineral, Ambiental e Metalurgia Extrativa;

Rualdo Menegat, Geólogo, Pesquisador e Professor da UFRGS, Mestre em Geociências e Doutor em Ciências na Área de Ecologia;

Vicente Rauber, Eng.º Eletricista, Especialista em Planejamento Energético e Ambiental, Ex-diretor do DEP, Ex-presidente da CEEE, Ex-diretor da Petrobrás/REFAP, Ex-diretor do Banrisul;

Heleniza Avila Campos, Arquiteta, Professora e Pesquisadora do PROPUR e do Observatório das Metrópoles, Núcleo Porto Alegre;

Judite Sanson de Bem, Pós-doutora em Geografia, Professora da UNILASALLE, Pesquisadora do Observatório das Metrópoles;

Beatriz Carlesso, Eng.ª Eletricista, Ex-ccordenadora da TI da CEEE, Ex-secretaria geral daquela empresa e Ex-Presidente da Fundação dos Eletricitários;

Ivan dos Anjos, Eng.º Agrônomo, atua na área do Planejamento e Operação em Sistemas de Proteção Ambiental;

Maria da Graça Dutra Ilgenfritz, Arquiteta e Urbanista, Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho, Mestre pelo PROPUR/UFRGS em Gestão do Uso do Solo e os Impactos Ambientais, Assessora especialista no DEP, Supervisora do Meio
ambiente na SMAM, Supervisora de Planejamento Urbano na SPMU, Consultora em Gestão do Uso do Solo e Professora da ULBRA;

Elisabeth Franke Ferreira, Eng.ª Civil e Administradora de Empresas Públicas e Privadas, Ex-administradora da Petrobrás, aposentada;

Lilian Bercht, Eng.ª Eletricista, Ex-coordenadora de Planejamento da CEEE, Ex-chefe da Divisão de Operação e Manutenção da CEEE, Ex-chefe da Divisão de Comercialização da CEEE;

Mirella Giugliano Grasso, Arquiteta, Ex-diretora de Conservação do DEP, Ex-assessora da PMPA no Gabinete do Prefeito;

José Luiz Fernandes de Andrade, Eng.º Civil, empresário com participação principal voltada para o saneamento;

Jorge Konrad, Arquiteto, Especialista em Saneamento Básico, Ex-diretor da Divisão de Água do DMAE, Coordenou o Plano Diretor de Esgotos (1995-97), arquiteto aposentado da SMOV;

Pércio Pizzato, Eng.º Civil, Projetista de Estudos Hidrológicos e Estrutural de Ponte pela CINTEA, autor de estudos para pontes submersíveis;

Cláudio Luiz Garcia d’Almeida, Eng.º Civil, Ex-diretor Administrativo do IPE, Ex-diretor de Obras do DAER, e atual Coordenador do Conselho Técnico Consultivo do SENGE/RS;

Odete M. Viero, Eng.ª Civil, Ex-funcionária da DOP/DEP, funcionária aposentada do DMAE onde exerceu diversas funções;

Adinaldo Soares de Fraga, Eng.º Civil, Especialista em Abastecimento de Água e Saneamento Ambiental, aposentado do DMAE onde foi Diretor da Divisão de Água, e Conselheiro Deliberativo junto àquele Departamento, representando o Sindicato dos Municipários;

Alexandra R. Finotti, Doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela UFRGS, Pós-doutora em Drenagem Urbana Sustentável na Ecole Nationale des Ponts et Chaussees, Paris. Coordenadora do Programa de Pós Graduação da UFSC;

Lademir Luiz Beal, Doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental IPH/UFRGS, Professor Pesquisador na UCS, Ex-coordenador do Curso de Mestrado Profissional em Engenharia e Ciências Ambientais da UCS, Coordenador do Curso de Especialização em Tratamento de Efluentes da UCS, sócio diretor da Beal Engenharia Ambiental Ltda;

Marcos Aurélio Soares Cruz, Eng.º Civil, Mestre e Doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo IPH/UFRGS,
engenheiro da Seção de Projetos do DEP entre 2000 e 2007, membro da equipe técnica dos estudos do Plano Diretor de Drenagem Urbana de Porto Alegre, primeira etapa, 2005;

Waldir Raupp de Assis, Eng.º Químico, Mestrado com experiência em projetos na área de tratamento de água e efluentes, bem como regularização de corpos hídricos;

Vanessa Marx, Professora de Sociologia da UFRGS e pesquisadora do Observatório Metrópoles, Núcleo de Porto Alegre;

Luís Ferrari Borba, Eng.º Civil, Ex-Coordenador de Obras do DEMHAB, Conselheiro do CREA/RS;

Darci Campani, Eng. Agrônomo, Doutor, Professor da UFRGS, Ex-diretor geral adjunto do DMAE (1993 a 94), Ex-presidente da ABES/RS e Ex-presidente do Comitê Gravataí.


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