![Trabalho sobrepôs o mapa da enchente do dia 6 de maio com dados do censo de 2010. Arte: Observatório das Metrópoles POA](https://sul21.com.br/wp-content/uploads/2024/05/Horizontal-1-450x300.jpg)
A sobreposição dos mapas das áreas que inundaram em Porto Alegre e em cidades da região metropolitana com os dados de renda do Censo Demográfico de 2010 (os dados do Censo 2022 ainda não estão disponíveis) confirma uma realidade já apontada por ambientalistas e pesquisadores há bastante tempo: as regiões mais atingidas pela enchente são aquelas que concentram principalmente as populações de baixa renda.
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Não é novidade que os eventos climáticos extremos afetam com maior impacto a parcela da população mais vulnerável socioeconomicamente, que muitas vezes se vê obrigada a morar em áreas de risco ou em habitações menos resistentes. Dessa vez, entretanto, ainda que a monumental enchente que devastou boa parte do Rio Grande do Sul tenha causado perdas materiais e humanas em classes de renda num espectro mais amplo, o fenômeno se repetiu.
O trabalho realizado por André Augustin, pesquisador do Observatório das Metrópoles – POA, usou como referência a inundação do dia 6 de maio, ainda que ele ressalte que os piores momentos de determinados bairros aconteceram nos dias seguintes. “O resultado não teve surpresa, mostrou o que todo mundo já falava”, comenta Augustin.
O pesquisador acredita que o fato de usar dados do Censo Demográfico de 2010, portanto, de 14 anos atrás, não chega a ser um problema para a avaliação. Isso porque os bairros mais ricos naquele ano continuam sendo os mais ricos agora, o mesmo ocorrendo com os bairros mais pobres.
Nesse período, uma mudança importante no mercado imobiliário e na ocupação do solo tem sido o avanço de empreendimentos de alto padrão às margens do Guaíba. Porém, segundo Augustin, o movimento é incipiente e o possível impacto dessa mudança só poderá ser observado no futuro.
Em comparação com as enchentes anteriores que atingiram a Capital, a principal diferença de agora, além do volume de água, foi a inundação ter coberto boa parte do Centro Histórico e avançado em bairros como Praia de Belas, Cidade Baixa e Menino Deus, regiões de renda mais alta. Por outro lado, bairros conhecidos pela população de renda mais baixa não foram afetados, como a Restinga.
“Nem todos os bairros mais pobres foram atingidos, mas todos os mais atingidos são pobres”, atesta o pesquisador.