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17 de fevereiro de 2024
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16:38

Homem negro sofre tentativa de homicídio e ao denunciar é detido pela Brigada Militar

Por
Sul 21
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Embora fosse a vítima da agressão, entregador foi detido por policiais. Foto: Reprodução/Twitter
Embora fosse a vítima da agressão, entregador foi detido por policiais. Foto: Reprodução/Twitter

Após ser agredido, um homem negro acabou detido pela Brigada Militar ao tentar denunciar o ocorrido no bairro Rio Branco, na tarde deste sábado (17). O entregador Everton Goandete da Silva estava com colegas próximo à esquina da rua Miguel Tostes com a avenida Protásio Alves, onde se concentram trabalhadores que entregam refeições para bares e restaurantes da região, quando foi atacado por um homem com uma faca, que o feriu próximo ao pescoço.

Marina Pombo, psicanalista e integrante da Comissão Estadual de Direitos Humanos, que testemunhou o ocorrido e foi até o Palácio da Polícia para acompanhar a ocorrência, conta que estava na fila para almoçar com outras pessoas quando viu o homem que agrediu Everton ameaçando pessoas com uma faca na mão. “Ele subiu e chamamos a polícia porque o Everton estava sangrando muito”, diz.

Marina afirma que, ao chegar, os policiais foram em direção à vítima, sem socorrê-lo ou mesmo questionar o que havia ocorrido. “Um dos brigadianos nem ouviu, foi pra cima do Evetron e tentou revistar sem falar nada. Ele, por instinto, disse só um pouquinho eu sou a vítima”. Segundo o relato de Marina, os policiais alegavam que o entregador resistiu à abordagem, quando ele só tentou se comunicar.

Pessoas que passavam pelo local gravaram parte do acontecido. Nas imagens, é possível ver o momento em que um policial encosta Everton na parede sob protestos de populares que os cercam. Enquanto os outros brigadianos se juntam ao primeiro, o homem acusado de agredir o entregador se afasta. Uma pessoa ainda tenta contê-lo e ele responde que “vai pegar um documento”.

Enquanto isso, quatro brigadianos cercam Everton e o algemam. As pessoas que testemunharam a ocorrência gritam que a Brigada não precisa algemá-lo, mas é inútil. Ao fundo, é possível ouvir um homem que diz: “Eu não sei se vocês sabem, mas quem tomou uma facada foi ele”. Outro afirma: “É racismo puro”.

Marina Pombo diz que, mesmo se identificando como integrante da Comissão de Direitos Humanos, não foi autorizada pela BM a acompanhar Everton, colocado no porta-malas da viatura. Já o agressor, ela diz que foi liberado para subir ao prédio sozinho, colocar uma camiseta e só foi algemado sob protestos das testemunhas. Mesmo assim, foi levado cordialmente no banco traseiro de um dos carros. “Tá no vídeo, a distinção de tratamento”, destaca.

Everton foi liberado ainda na tarde deste sábado. Segundo advogado Ramiro Goulart, foi registrado um Boletim de Ocorrência por lesões corporais contra o agressor, que ainda pode ser modificado, já que a delegacia responsável pelo caso deveria ser a 3ª DPE, na avenida Cristóvão Colombo. “Insistimos que parecia tentativa de homicídio. Se a faca entrasse com maior pulsão, poderia ter causado uma lesão muito mais séria”, explica. Além disso, foi registrado um Boletim de Ocorrência por abuso de autoridade contra os policiais militares e um termo circunstanciado contra Everton por resistência.

Nas redes sociais, o governador Eduardo Leite (PSDB) se manifestou sobre o caso. Ele afirmou que foi determinada a abertura de sindicância para ouvir testemunhas e apurar as circunstâncias da ocorrência via Corregedoria da Brigada Militar. Na mesma publicação, manifestou confiança nos homens e mulheres da BM.

Procurada, a Brigada Militar disse que apura a ocorrência.


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