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11 de fevereiro de 2023
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08:46

Sem água, bebedouros da Redenção se tornam ‘lixeiras’

Por
Joana Berwanger
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Falta de água em bebedouros é um dos problemas apontados pelo coletivo | Foto: Joana Berwanger/Sul21
Falta de água em bebedouros é um dos problemas apontados pelo coletivo | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Somente um dos bebedouros localizados no Parque Farroupilha, mais conhecido como Redenção, funciona adequadamente. Esse é o resultado de um levantamento realizado pelo Sul21 na última semana, que verificou o funcionamento dos equipamentos após uma denúncia realizada pelo vereador Pedro Ruas (Psol).

“Tem um bebedouro ali, mas tá seco”, apontava Paulo Roberto, vendedor de pipoca na Redenção há 43 anos. Foi só depois de cruzar com outros três bebedouros – escassos ao longo do parque – que a reportagem do Sul21 encontrou o primeiro com água. Apesar disso, os frequentadores do parque dificilmente conseguem se hidratar pelo equipamento, localizado ao lado de quadras esportivas. A quantidade de água que sai pela bica é insuficiente para formar um jato e matar a sede de quem o procura.

 

Grande maioria dos bebedouros está seca. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Alguns metros à frente, dentro do parquinho infantil próximo à rua José Bonifácio, está mais um bebedouro. É o único que torna o consumo de água gratuita viável no parque, mas está escondido. Além disso, a temperatura da água que sai do equipamento é elevada, fazendo com que grande parte das pessoas que se dirigem à fonte d’água somente lavem as mãos ou os brinquedos das crianças que ali frequentam.

Morador do Bom Fim há cerca de um ano, o publicitário Leo Prestes costuma caminhar diariamente na Redenção com seus dois vira-latas, Sampaio e Greta. Quando não está acompanhado dos cachorros, procura correr ou pedalar pelo parque. Caso aquela sede que não pode esperar a volta para casa bata, Prestes acaba parando em uma loja de conveniência ou comprando água de ambulantes.

“Eu sinto que são poucos [bebedouros] e os que eu consigo avistar não são muito convidativos para o consumo, porque não parece que receberam qualquer manutenção recente”, comenta. Ele explica que, por morar próximo ao parque, acaba sempre esperando para consumir água em casa.

 

Bebedouro em parquinho infantil próximo à José Bonifácio é o único funcionando. Foto: Joana Berwanger/Sul21

De acordo com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb), que é responsável pela zeladoria de parques e praças de Porto Alegre, há um contrato ativo com a Eco Projetos, empresa que fica encarregada pela manutenção desse lote, incluindo os bebedouros. Apesar disso, “os bebedouros em locais públicos são constantemente alvos de vandalismo e depredação”, explica a Secretaria.

Ainda segundo a SMSUrb, caso os equipamentos estejam com problemas, cabe a uma equipe que faz parte da administração desses parques reportar, ou frequentadores do parque devem realizar pedidos de reparo através do sistema 156, da Prefeitura. O Sul21 entrou em contato com o canal através do telefone, abrindo um protocolo (nº 0414302386) para conserto dos equipamentos, e recebeu um prazo de 36 dias para uma resposta.

“Desde a pandemia [que não está funcionando]”, observa Paulo Roberto sobre o bebedouro que ele apontou. Em uma rede social, frequentadores da Redenção também indicam o desvio na função dos bebedouros, que acabaram se tornando ‘lixeiras’, uma vez que a fonte de água está seca.

 

 

A SMSUrb informou, por meio de nota, que “irá fazer nova vistoria a fim de programar os reparos ou substituição dos equipamentos”, mas que “os cronogramas de intervenções devem ser respeitados a fim de que mais parques sejam contemplados”. Ao final de 2022, a Secretaria iniciou o processo de instalação de novos bebedouros em parques públicos da cidade, com a finalidade de substituir equipamentos antigos.

De acordo com a nota, dos quatro bebedouros listados na Redenção, “um estava funcionando, dois foram substituídos integralmente e um passou por pequenos reparos”. Além disso, afirmam que “cada substituição total (base, equipamentos metálicos, etc.) custa em torno de R$ 2.500,00 aos cofres públicos”.

“Água tinha que ter a cada 20 metros na cidade”, defende Manuela Arcos, de 30 anos. Passear na Redenção com a cachorrinha Maria já se tornou parte da rotina da professora. “Agora, durante o verão, teve alguns dias que eu vim com ela de tarde e tava muito quente, e eu senti falta de ter água por aqui. Eu sempre trago uma garrafinha d’água, mas aí acaba e a gente sente falta de ter um recurso”, explica.

 

Cachorrinha Maria em seu passeio pela Redenção. Foto: Joana Berwanger/Sul21

A expectativa de alguma mudança de cenário, no entanto, não é positiva. Para o publicitário Leo Prestes, a falta de manutenção desses equipamentos é sistemática. “Nessa tendência do parque de ter mais espaços privados e com mais coisas à venda, com mais comidas e bebidas à venda, acho que a tendência é que os bebedouros estejam menos presentes, estejam menos espalhados pelo parque e recebam ainda menos manutenção”, acredita.

Prestes ainda aponta que a inauguração de novos estabelecimentos dentro do parque não trouxe outras melhorias ao espaço. “No entorno, não se vê nenhuma compensação disso. Não colocaram novas lixeiras, não botaram novos bebedouros em volta”, diz o frequentador da Redenção.


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