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18 de outubro de 2022
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18:54

Delegada que investiga racismo contra Seu Jorge diz ser possível ouvir a palavra ‘macaco’ em vídeo

Por
Luciano Velleda
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Vista aérea do Grêmio Náutico União, tradicional clube onde aconteceu o caso de racismo contra o cantor Seu Jorge. Foto: Divulgação/ASBEA-GNU
Vista aérea do Grêmio Náutico União, tradicional clube onde aconteceu o caso de racismo contra o cantor Seu Jorge. Foto: Divulgação/ASBEA-GNU

Pouco mais de 72 horas depois do show de Seu Jorge no clube Grêmio Náutico União (GNU), em Porto Alegre, a delegada Andrea Mattos, da Delegacia de Combate à Intolerância, diz ser possível confirmar que houve manifestações racistas proferidas contra o cantor.

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“Eu consegui escutar a palavra ‘macaco’ num dos vídeos, até de sons fazendo referência ao animal. É um pouco difícil, há muito barulho no vídeo, mas consegui ouvir a palavra ‘macaco’”, afirma a delegada.

Ela explica que a análise até o momento foi feita com base em vídeos que circulam nas redes sociais, gravados por pessoas que estavam no show realizado na última sexta-feira (14). Na ocasião, Seu Jorge se apresentou em evento que marcou a reinauguração de um salão do clube. Perto do final do espetáculo, o artista se retirou do palco para depois voltar no tradicional bis, quando então ouviu as ofensas racistas vindas da plateia.

A delegada já solicitou que o GNU forneça a gravação oficial do show. O clube tem o prazo de três dias para entregar o material, mas ela acredita que isso ocorra antes, na próxima quinta-feira (20), quando o presidente do Grêmio Náutico União, Paulo José Kolberg Bing, prestará depoimento.

Andrea também começará, a partir desta quarta-feira (19), a ouvir testemunhas que estavam no local. Desde o episódio, ela conta ter recebido inúmeras denúncias e pede para que mais pessoas se apresentem para ajudar na investigação.

“Quero que as pessoas nos procurem e nos abasteçam de informações para que a gente consiga fazer a identificação dos responsáveis”, comenta.

Em nota divulgada no domingo (16), o GNU declarou que os fatos ocorridos estão sendo apurados e que o clube “repudia qualquer tipo de discriminação”.

“O Grêmio Náutico União está apurando internamente os fatos ocorridos em evento realizado no dia 14 de outubro, durante apresentação do cantor Seu Jorge. Se for comprovada a prática de ato racista, os envolvidos serão responsabilizados. Afirmamos que o União, seguindo seu Estatuto e compromisso com associados e sociedade, repudia qualquer tipo de discriminação. Ressaltamos que Seu Jorge foi o artista escolhido para realizar show com a presença de associados e não associados do Clube considerando sua representatividade na cultura nacional e pelo reconhecimento internacional, e destacamos nosso respeito ao profissional e ao seu trabalho”, diz a nota do clube.

Na noite de segunda (17), Seu Jorge divulgou um vídeo em que se manifesta sobre as denúncias de atos racistas durante o show no Grêmio Náutico União.

O cantor conta que estava empolgado com o evento, porque fazia tempo que não se apresentava na capital gaúcha. “Estávamos todos muito felizes quando chegou ao final do show e eu saí do palco. Quando cheguei atrás do palco, eu começo a escutar muitas vaias e xingamentos. E logo, por conta disso, eu percebi que não seria possível voltar para fazer o famoso bis. Mas, sozinho, retornei ao palco e, de maneira respeitosa, agradeci a presença de todos, me despedi do público presente e me retirei do local do show”, disse.

“Na verdade, o que eu quero dizer aqui é que eu não reconheci a cidade que eu aprendi a amar. Não era a cidade que eu conhecia, dos inúmeros shows com as bandas amigas, O Rappa, Planet Hemp, Farofa Carioca e por aí vai. (…) Na verdade, o que eu presenciei foi muito ódio gratuito e muita grosseria racista”, afirma o cantor no vídeo.

Seu Jorge relata ter recebido manifestações de apoio de muitas pessoas de Porto Alegre que se sensibilizaram com o episódio e mandaram mensagens nos últimos dias. “É muito bom saber que, mesmo depois de tudo isso, a nossa conexão não rompeu e não se romperá e agora estaremos bem mais fortes e unidos, cada vez mais, na luta intensa contra o racismo e toda forma de preconceito e de discriminação”, afirmou.


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