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27 de janeiro de 2022
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07:22

Porto Alegre está preparada para os próximos eventos climáticos extremos?

Por
Luís Gomes
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| Foto: Luiza Castro/Sul21
| Foto: Luiza Castro/Sul21

Após duas semanas em que as temperaturas se aproximaram ou passaram dos 40ºC quase diariamente, Porto Alegre deixa nesta quinta-feira (26) de conviver com uma das ondas de calor mais intensas de sua história. Uma frente fria trará alívio momentâneo, mas o calor extremo certamente irá voltar à Capital num futuro próximo. A partir da experiência recente, perguntamos: a cidade está preparada para lidar com estes eventos?

O professor Francisco Eliseu Aquino, diretor substituto do Centro Polar e Climático, vinculado ao Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), define onda de calor como um momento em que as temperaturas são elevadas ao longo do dia, acima ou próximas dos recordes registrados, e também apresentam madrugadas quentes, em que a temperatura não cai abaixo de 23ºC. “Quando a gente diz que estamos passando por uma onda de calor, eu tenho dias quentes, consecutivos, com madrugadas quentes. Aí o nosso organismo, fisiologicamente, começa a sofrer. Você começa a ter cansaço, tem prostração, pode ter desidratação, irritação, problemas cardíacos, respiratórios, e por aí vai”.

Aquino explica que o planeta como um todo está mais quente, induzindo mais ondas de calor, e que as áreas urbanas, por terem mais asfalto, mais concreto, menor vegetação e serem mais poluídas são mais quentes. “Quando a gente compara Porto Alegre nos anos de 1910, 1930, 1950, 1990 e 2022, o que aconteceu? Temos mais ondas de calor, temos temperaturas mais altas na média e elas também são mais duradouras. Em vez de a onda de calor durar três, cinco dias, dura 10, 15, às vezes até 20 dias. E, dentro da onda de calor, você tem recorde de temperatura, isso que a gente está observando nas últimas semanas”, diz.

Aquino chama a atenção para um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que apontou que centros urbanos estão aquecendo mais aceleradamente que áreas rurais devido ao efeito chamado de “ilha de calor urbano”.

O IPCC indica que estas ilhas de calor são formadas por vários fatores, que incluem a redução da ventilação e o armazenamento do calor pela proximidade com prédios altos, o calor gerado pela atividade humana, a retenção do calor pelo concreto e outros materiais usados na construção e a redução da vegetação. Por outro lado, indica que o aumento da presença de áreas com água e de vegetação pode contribuir para o resfriamento das cidades.

O órgão projeta que as cidades costeiras, como é o caso de Porto Alegre, deverão sofrer no futuro próximo com aumento do nível do mar e a elevação da temperatura, uma combinação que poderá elevar a incidência de eventos climáticos extremos.

Um dos efeitos percebidos na onda de calor que atingiu a Capital foi o “esvaziamento” das áreas públicas, como a Orla do Guaíba. “Acho que o projeto da Orla tem muitos acertos, mas o grande problema ficou demonstrado nesses dias de calor, que ficou vazio, pois não tem uma arborização”, diz o urbanista Rafael Passos, presidente do departamento gaúcho do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RS).

Proliferaram relatos nas redes sociais de pessoas argumentando que era impossível permanecer na região durante o dia no período da onda de calor. “A Orla ficou bonita, as críticas que estão ocorrendo são em relação à falta de arborização, o que está mais visível agora com a onda de calor. Revitalização em Porto Alegre virou significado de concreto”, escreveu um usuário do Facebook em discussão sobre o tema no grupo Vizinhos do Centro.

Orla do Guaíba é uma das áreas com pouca arborização, o que dificulta a permanência em momentos de calor extremo | Foto: Luiza Castro/Sul21

O Sul21 vem destacando ao longo dos últimos anos que Porto Alegre passa por aceleradas transformações, como na série de reportagens especial “Que Porto é esse?“. O urbanista Rafael Passos afirma que é indiscutível que a geometria das cidades, isto é, a forma como ela se organiza, afeta ventilação, temperatura e umidade do ar. “Isso tudo pode variar conforme vai variando esse desenho e também as próprias superfícies”, diz.

Uma das consequências que já podem ser sentidas das transformações em andamento na geometria urbana de Porto Alegre é a construção de empreendimentos e a elaboração de projetos que preveem prédios altos nas proximidades da Orla do Guaíba. O urbanista Rafael Passos diz que ainda é cedo para avaliar como essas mudanças poderão afetar no aquecimento da cidade. “Não se sabe qual é essa verticalidade que Porto Alegre vai ter. Se tu tiver toda uma massa edificada alta, isso barra completamente o vento. Agora, se tu tiver uma variedade, entre prédios altos e baixos, tem como ter uma verticalização sem que influencie muito no calor. Mas, em nenhum dos planos apresentados, houve uma preocupação com esses fatores ambientais”, afirma.

Passos diz que um equívoco cometido na construção das cidades do ponto de vista da sustentabilidade é pensar a eficiência energética de edificações isoladamente. Um exemplo desse pensamento, segundo ele, é o que leva à priorização de prédios com superfícies envidraçadas. Segundo ele, esses prédios buscam se justificar do ponto de vista da sustentabilidade com o argumento de que reduzem a incidência de calor em suas áreas internas e, portanto, reduziriam a necessidade do uso de ar-condicionado. Passos aponta dois problemas. O primeiro que, em dias como os vivenciados na última semana, o uso de ar-condicionado não seria reduzido. O segundo é que os vidros acabam refletindo o calor para a cidade.

“É um espelho que vai refletir para outra superfície, que vai absorver esse calor. Essa absorção acontece durante o dia por superfícies, paredes, asfalto. E, durante a noite, as superfícies vão devolvendo o calor para o ambiente, isso faz com que tu não consiga nem ter um momento de redução de temperatura para que, no outro dia, tu comece o dia com um calor mais ameno”, diz.

O professor Aquino chama a atenção para o fato de que os extremos de temperatura registrados nesta onda de calor não ocorreram no Centro Histórico, mas na Restinga e em bairros periféricos da zona norte. “Nestas áreas, você não tem tanta concentração de prédios, tem mais casas, mas o padrão construtivo é ter a casa com pátio com concreto, com laje. As pessoas que têm árvore em casa estão trocando por uma cerâmica para não ter que limpar. O que acontece? Você tem o dia com maior incidência de insolação e uma área exposta que aquece mais. Além disso, o material da construção, a telha, em geral, é de zinco. Então, você tem nas casas mais humildes material de construção que ainda ajuda a aquecer, o que faz com que a temperatura deva atingir valores maiores”, diz.

Mestre em Sistema de Produção pela Escola de Engenharia da UFRGS e especialista no tema da saúde ambiental, Rui Muniz destaca que os eventos extremos atingem a cidade de forma desigual. “Todo mundo sofre com isso? Não, tem um sofrimento desigual e, principalmente, condições para enfrentar isso muito diversas. Temporada de calor costuma faltar água. Mas falta água onde? Partenon, Lomba do Pinheiro, Jardim Carvalho”.

Muniz diz que há um desequilíbrio que não se abate só sobre Porto Alegre, mas pondera que a cidade não está pronta para estes eventos, nem para o calor, nem para os temporais que costumam seguir esses períodos quentes, como o que caiu na cidade ao final da tarde de quarta-feira (26). “Não pode acontecer um calor intenso desses e faltar água, não pode acontecer um calor intenso desses, seguido por temporais, e tu não ter uma ocupação desses espaços sem riscos de queda de árvore, de alagamento, de várias questões associadas à energia, risco de incêndio, risco de queimadas. Não estamos preparados para isso. Ao contrário, as funções de Estado estão sendo transferidas”, diz.

Ele destaca que estudos apontam que Porto Alegre mantém apenas cerca de 20% de sua cobertura verde original. “Isso é uma catástrofe, uma agressão muito grande. Significa dizer que temos uma ocupação que não consegue mais se relacionar de forma amistosa com o meio ambiente, e de forma ecológica, muito menos.”

Vereador cobra mais áreas de sombreamento para a proteção de trabalhadores expostos ao calor | Foto: Luiza Castro/Sul21

Em meio à onda de calor, o vereador Matheus Gomes (PSOL) cobrou da Prefeitura a implementação imediata de um Plano de Contingência. Para o vereador, a Prefeitura poderia ter adotado medidas como ampliar campanhas de informação e conscientização da população sobre os efeitos do calorão na saúde, especialmente para pessoas em grupos de risco; disponibilizar estruturas de sombreamento e refrescamento público, sobretudo para trabalhadores expostos ao calor; oferecer abrigo suficiente e digno para a população em situação de rua; ofertar um número amplo de caminhões-pipa para comunidades onde falta água; e cadastrar, via CadÚnico, famílias que precisam de caixa d’água em suas residências.

Para Muniz, a primeira medida de enfrentamento destes eventos seria mudar a forma como a cidade se relaciona com o ambiente, o que passa por uma visão política. “Já existem normas técnicas que apontam para as melhores práticas de impacto ecológico. As decisões são tomadas olhando para isso? Nem as normativas que nós temos são observadas. Nós já temos acúmulo para dar resposta, mas não estamos dando por opção política”, diz.

Ele destaca que Porto Alegre, seu entorno e o Rio Grande do Sul têm se caracterizado, por exemplo, pela promoção da exploração do carvão e pela utilização dos recurso hídricos para monoculturas voltadas para a exportação, como a soja. “O Rio Gravataí não está seco de graça, a crise hídrica não é de graça. São consequências de políticas”, diz.

Em termos mais pontuais, ele defende que as cidades precisam deixar de lado a priorização do asfaltamento das vias em detrimento de pavimentação mais favorável para a absorção da água. Recentemente, virou tema de discussão na cidade o asfaltamento da Avenida Padre Tomé e da Rua Sete de Setembro, no Centro, com o objetivo de “melhorar a circulação” para pedestres e automóveis.

“Nós tínhamos que ter uma pavimentação que fosse permeável, principalmente nas áreas vulneráveis a alagamentos. Em vez disso, o que se faz? Camada de asfalto, de materiais impermeabilizantes em cima de materiais impermeabilizantes. Aí tu diz que a enchente aconteceu porque choveu demais”, diz Muniz.

Uma segunda medida que ele considera que seria essencial é o assessoramento habitacional por parte da Prefeitura, tanto para que seja evitada a ocupação de áreas de preservação e de cursos de água pela população vulnerável, mas também para orientar a construção de habitações com materiais adequados e para que se evite o desperdício de energia e de água, elementos críticos em momentos de eventos extremos.

Por sua vez, o professor Aquino argumenta que o planejamento urbano deve agir de forma urgente com a visão de que os efeitos extremos, como a recente onda de calor, devem se intensificar nas próximas décadas e adotar medidas como a priorização de áreas verdes, ruas com mais árvores, mais praças e facilitar o acesso à Orla, priorizando também o distanciamento de edificações nestas áreas. Também defende que seja estimulada a implementação de jardins, de hortas comunitárias, telhados verdes e mesmo medidas mais simples como colocar plantas na janela. “Isso ajuda a amenizar muito o que estou chamando de rugosidade ou aridez da cidade”, diz.

Prefeitura deseja adensar as áreas do Centro e do Quarto Distrito | Foto: Luiza Castro/Sul21

Secretário municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre, Germano Bremm reconhece que os eventos extremos são uma constante na realidade da cidade e que ela precisa se preparar para eles. Bremm ressalta que, ao participar da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP26), realizada em novembro passado na Escócia, a Prefeitura assumiu o compromisso com o esforço mundial de limitar o aquecimento global a 1,5ºC. Para isso, terá que reduzir em 50% as emissões de gases do efeito estufa até 2030 e zerar até 2050.

Para isso, a Prefeitura pretende elaborar um Plano de Ação Climática, que vai definir estratégias e ações emergenciais de médio e longo prazo para alcançar estas metas. Contudo, ainda não há data para a apresentação do Plano, uma vez que ainda está sendo elaborado o termo de referência que irá balizar a licitação para a contratação da entidade que irá realizá-lo.

Por outro lado, Bremm diz que a Prefeitura já concluiu recentemente a atualização do Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa, que apontou redução média de 5% na emissão de gases em Porto Alegre entre os anos de 2016 e 2019. Além disso, o secretário diz que, paralelamente à elaboração do Plano, a Prefeitura está realizando ações para minimizar a emissão dos gases que contribuem para o aquecimento.

Ele também destaca que estão sendo realizadas ações pontuais para estimular pessoas e empresas a desenvolverem projetos como Rooftops Sustentáveis, que permitem o uso de coberturas de edificações desde que atendidos requisitos como uso de energia solar, implementação de telhado verde, reaproveitamento da água da chuva. A secretaria acredita que esta é uma medida que, sozinha, já ajuda a melhorar o microclima de uma edificação e a amenizar o aumento da temperatura. “A gente vai transformando a paisagem e trazendo mais espaços verdes onde hoje se tem concreto. Isso tem mudado a realidade de Porto Alegre”, diz Bremm.

O secretário do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), Germano Bremm, participou da COP26 em 2021 | Foto: Rovana Reale Bortolini/Divulgação PMPA

Outra medida que contribuiria seriam os Terrários Urbanos, que são “sobras” de terrenos em que a Prefeitura permite a instalação de empreendimentos desde que sejam observados elementos como o uso de equipamentos fabricados com materiais ecológicos, plantio de flora nativa do Estado, uso racional da água por meio de sistemas de irrigação eficientes ou reuso, utilização de formas alternativas de energia, uso de paredes e telhados verdes e de formas alternativas de drenagem, como jardins de chuva.

Uma terceira medida já adotada seria a recuperação do viveiro municipal no Parque Natural Municipal Saint’Hilaire — que está sendo tocado pela construtora Melnick como contrapartida de um empreendimento na Nilo Peçanha. Bremm defende que a recuperação do viveiro permitirá a produção de mudas nativas para ampliar o plantio de árvores em vias, praças, parques e áreas de preservação permanente da cidade. O secretário diz que metas de plantio de árvores devem estar incluídas no Plano de Ação.

“Mas não precisamos esperar o plano para saber que a arborização urbana ataca diretamente na retenção dos gases. A gente está trabalhando para, a partir da recuperação do viveiro, ter um contrato permanente (de plantio de árvores), que hoje a gente não tem, para estar sempre ampliando e recuperando a área verde”, diz.

Bremm afirma que outras medidas também estão em fase de planejamento — além daquelas que serão indicadas pelo Plano de Ação –, como a criação de um IPTU sustentável que dará desconto para imóveis que apresentem soluções de sustentabilidade. Ele diz que isso ainda está sendo elaborado, mas que deve ser lançado ainda esse ano.

A concessão dos benefícios fiscais para novas construções e edificações que implementem elementos de sustentabilidade também está pautada, segundo o secretário, nos projetos de revitalização do Centro Histórico e do Quarto Distrito, com os quais a Prefeitura pretende aumentar a população da região central da cidade. Uma das medidas para isso é o aumento da altura permitida para edificações. Bremm argumenta que estes projetos buscam o adensamento da cidade, o que seria uma recomendação da ONU para o enfrentamento do aquecimento global.

“É melhor e mais adequado ambientalmente que a gente adense em locais que já têm infraestrutura adequada do que a gente permita espraiamento. O urbanismo no mundo caminha em direção de adensar os territórios que já tem estrutura, isso está super alinhado com a pauta da sustentabilidade”, diz, destacando que o adensamento reduz, por exemplo, a necessidade do uso de veículos e, consequentemente, reduz a poluição gerada por eles, além de reduzir a exploração de recursos naturais em outras áreas da cidade.

Contudo, o professor Aquino lembra que estudos internacionais mostram que, quando a cidade é adensada, cresce também a demanda por aparelhos de ar condicionado. “Isso afeta o aumento da temperatura da cidade, afeta mudando o padrão de circulação do ar, em geral. Então, essas brisas que se tem entre o Guaíba e a cidade ou entre os morros de Porto Alegre e as regiões mais baixas, elas são alteradas pela rugosidade, isso é, o crescimento dos bairros e o nosso crescimento geralmente são prédios. Você coloca prédios, induz esse aquecimento, e esses prédios têm dezenas de aparelhos de ar condicionado. Então, o dia está quente, e todos esses aparelhos estão ligados com ar quente sendo colocado para a rua. Você cria uma bolha de ar quente na tua rua, no teu bairro, na cidade inteira, com esse artifício que a gente tem de criar um ambiente controlado, climatizado, mas o custo da geração do ar frio é uma máquina que está ligada gerando calor para o lado externo”, explica.

O urbanista Rafael Passos defende que o conjunto de edificações a serem erguidas tem que levar em conta fatores climáticos e que, para isso, as regras de ocupação do solo que estão sendo revistas deveriam colocar a ventilação como uma prioridade. Além disso, também cobra um plano de arborização para a cidade e que os novos empreendimentos previstos devam incluir parques e praças, especialmente aquelas que incluam espelhos d’água e lagos, que possam ser pensados como repositórios da água da chuva. “A cidade já teve muito mais arborização do que teve hoje”, diz.

“O que a gente vê hoje na política da cidade é uma discussão urbana muito pautada pela eficiência energética das edificações e a questão da mobilidade, também pautada como uma justificativa para adensar, quando a questão da densidade entra. A cidade compacta é importante, mas ela acaba sendo a porta para aumentar o potencial construtivo, para verticalizar, simplesmente para atender uma demanda do mercado, não para uma questão de ambiência urbana. A gente vê claramente a ausência desses critérios nas análises e nos estudos”, diz.

Ele expressa ainda preocupação com a manutenção das Áreas de Preservação Permanente (APPs) da cidade, tema que deverá ser discutido na revisão do Plano Diretor. Um exemplo de como este tema está sendo tratado apesar da prevalência do discurso pró-sustentabilidade veio recentemente da Câmara Municipal de Goiânia, que encaminhou no âmbito da revisão do Plano Diretor a proposta de reduzir as APPs da cidade. A preocupação de Passos é que isso possa também ocorrer em Porto Alegre. “Quando tu desmata, a fonte da água vai reduzindo. E quando tu começa a impermeabilizar todo o solo da cidade, a água escoa toda para o lago e não abastece mais as redes, como arroios e nascentes”, diz.


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