Geral
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23 de junho de 2021
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16:42

Mais de 50% dos estagiários exerceram atividades presenciais na pandemia

Por
Andressa Marques
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Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

No Brasil, mais da metade dos estagiários seguiram trabalhando presencialmente ao longo de 2020, primeiro ano da pandemia de coronavírus. Análise divulgada na semana passada pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) aponta que 54% dos estudantes não puderam passar a exercer atividades remotas, seja pelo teor do trabalho ou por impedimento da empresa.

Leonardo Jaques Gewehr, estagiário de Psicologia. Foto: arquivo pessoal.

Leonardo Jaques Gewehr, 21 anos, mora em Gravataí e é estagiário de Psicologia no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Ele conta que inicialmente as reuniões e supervisões semanais passaram a ser online e as atividades práticas eram menos frequentes, ocorrendo quinzenalmente. “A minha preocupação constante era a de estar colocando as pessoas que eu atendia em risco. Eu também me preocupava com a minha saúde, mas por estar atuando em um local de muita pobreza e vulnerabilidade social, o meu maior medo era de estar transitando, usando transporte público, e qualquer hora dessas acabar levando o vírus para essas pessoas”, diz. Apesar do risco, ele acredita que o trabalho que exerce é essencial e precisa ser realizado mesmo durante a pandemia.

O estudo do CIEE mostra ainda que a maioria dos estagiários afirmam usar a bolsa-auxílio para ajudar no sustento da família e no custo escolar. Pelo menos, 48% dos estagiários citam como principais despesas a ajuda em casa e 36% responderam que a maior despesa é a mensalidade escolar. A média da bolsa-auxílio atualmente é de aproximadamente R$ 895,22 e a renda familiar média dos estagiários está entre as faixas de dois a três salários mínimos.

Flávia Simões, estagiária de jornalismo. Foto: arquivo pessoal.

Flávia Simões, 23 anos, é estudante de Jornalismo e estagiária de um jornal da Capital. Ela conta que são cinco pessoas em sua casa, mas no momento apenas ela e seu pai estão exercendo atividades remuneradas. “É muito importante que eu trabalhe para ajudar em casa, eu preciso disso”, diz. Flávia mora em Cachoeirinha e iniciou o estágio no centro da Capital em 2020. Desde então, chegou a trabalhar remotamente em alguns momentos, como quando sua supervisora e seus pais testaram positivo para covid-19. “A minha preocupação é ser infectada. Não dentro da redação porque é ventilado, tem distanciamento e usamos máscaras, mas por pegar ônibus lotados e andar na rua”, afirma.

Giovana Bellon, estagiária de Design Gráfico. Foto: arquivo pessoal.

Giovana Bellon, 23 anos, estagiária de Design Gráfico na Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), mora na zona sul de Porto Alegre e conta que trabalhou remotamente durante períodos de bandeira preta e vermelha na Capital. Há um mês, ela retornou às atividades presenciais, mas admite que, atualmente, gostaria de estar trabalhando de casa. “Pela minha saúde e pela saúde dos outros”, diz. O Rio Grande do Sul tem, atualmente, uma média móvel de mortes próxima de 100, com tendência de alta. Assim como outros jovens, Giovana diz que sem a bolsa-auxílio seria inviável arcar com despesas estudantis. “Com certeza tenho medo de pegar o vírus de novo, mas com a bolsa eu pago minha faculdade e ajudo meus pais”, conta.

No primeiro trimestre deste ano, o desemprego no Brasil subiu para 14,7%, atingindo o maior contingente já registrado desde o início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2012. No fim de maio, eram 14,8 milhões de brasileiros desempregados, contexto no qual a renda dos estagiários se torna ainda mais importante para as famílias.

Apesar dos riscos do trabalho presencial na pandemia, os estudantes percebem também vantagens na interação presencial para quem ainda está numa fase importante de aprendizagem. Dos participantes da pesquisa, 92% ressaltam que a experiência de estágio é fundamental para conseguir um bom emprego futuramente e 91% preferem trabalhar em seu local de estágio pelo acesso a equipamentos e ao recebimento de orientações de profissionais com experiência prática. “Estar na redação é importante porque tenho menos distrações, meu rendimento é melhor e eu aprendo muito mais”, diz Flávia.

Na pesquisa, 89% dos participantes eram estudantes do ensino superior, 65% de instituições de ensino particular. Desses, 64% realizam estágios em organizações públicas. O levantamento foi realizado pelo Ibope Inteligência entre três de dezembro de 2020 a quatro de abril de 2021. No total foram 6.634 estagiários entrevistados, de 538 organizações inscritas.

*Esta reportagem é uma produção do Programa de Diversidade nas Redações, realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo, com o apoio do Google News Initiative. 


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