A Casa de Cultura Mario Quintana reabre para visitação nesta quarta-feira (14). O prédio cor-de-rosa, construção icônica localizada no Centro Histórico de Porto Alegre, foi invadido pela água do Guaíba durante a enchente de maio. Agora, a perspectiva é intensificar as exposições artísticas no segundo semestre de 2024.
“Sabemos que a Casa de Cultura é uma referência para o sul do país, não só para o Rio Grande do Sul. É um equipamento cultural reconhecido pela população e pela comunidade artística”, destaca a diretora Germana Konrath. “Teremos, no segundo semestre, uma programação densa. Justamente para que a classe artística não seja prejudicada e para que a comunidade seja atendida por uma grade [de programação] muito completa”.
A reabertura será um momento de celebração, mas também de reflexão sobre a catástrofe que atingiu o estado. Será inaugurada uma exposição do fotógrafo sul-africano Gideon Mendel. O artista, conhecido por suas fotografias de desastres climáticos, esteve em Porto Alegre e na região metropolitana para registrar a enchente histórica em maio deste ano. As imagens fazem parte do projeto “Drowning World” (em tradução livre, Mundo se Afogando), que Gideon desenvolve desde 2007.
“Nossa preocupação foi entender que a enchente teve uma magnitude enorme num nível estadual, mas também que não foi um fato isolado, dentro de uma perspectiva do nosso planeta. O Gideon trabalha já há mais de uma década em situações de catástrofes ambientais, é muito premiado, é um ativista – ele se chama de fotoativista”, explica Germana. “Ele tenta manter um vínculo com essas pessoas retratadas, elas vão ser convidadas para a reabertura. Fotógrafos que tenham trabalhado com a enchente terão uma experiência online para falar com o Gideon”.
As fotos, em grande formato, estarão penduradas na fachada da Casa de Cultura. “O fotógrafo já usou essa linguagem em outras exposições e achamos interessantes para dialogar com a Travessa dos Cataventos, o espaço que ficou mais evidente para quem passava ali durante a enchente. O fato de colocar as fotos para fora da Casa traz um apelo de conversa com a cidade”, afirma a diretora.
Não se encontra registros de como a enchente de 1941 – a maior em Porto Alegre até este ano – afetou o então Hotel Majestic, onde hoje fica a Casa de Cultura. “Os registros da época são focados no Mercado Público, onde tem uma placa marcando a cota daquela enchente. A Casa de Cultura não tinha o apelo de prédio histórico, portanto se dava outro tipo de tratamento”, pontua Germana
Também não havia protocolo para uma situação como essa. A diretora explica que foram tomadas medidas emergenciais como desligar elevadores e pedir o desligamento da energia elétrica na Casa de Cultura. Obras de arte que estavam em exposição no térreo foram deslocadas e os espaços comerciais foram avisados para realocar a mobília também. O prédio foi evacuado no dia 3 de maio.
“Agora, estão sendo elaborados protocolos mais completos”, afirma Germana, ao explicar que essa tarefa tem o apoio da Unesco. Em parceria com a Secretaria da Cultura (Sedac) e o Ministério da Cultura (MinC), a organização percorreu diversas instituições culturais gaúchas afetadas pelas enchentes a fim de avaliar os danos em bens e arquivos e apoiar a recuperação de acervos e coleções.
Já o restauro do prédio histórico – incluindo revisão hidrossanitária, reparos na climatização, no sistema de incêndio e pintura – foi realizado através de um aporte do Banrisul. A doação do banco foi viabilizada por uma parceria com o Governo do Estado.
“O Banrisul doou R$ 15 milhões para instituições da Sedac que foram atingidas, tanto em Porto Alegre quanto no Museu do Carvão, em Arroio dos Ratos”, afirma Germana. A Casa de Cultura recebeu, até agora, R$ 2,4 milhões e aguarda complementação de valores que ainda não haviam sido orçados quando foi feito o pedido ao Banrisul. A doação deve chegar na casa dos R$ 2,8 milhões.
A imagem do prédio alagado se tornou um dos símbolos da enchente em Porto Alegre. A Casa de Cultura ficou fechada por quatro meses. “Teve um impacto muito forte. Houve o cancelamento de espetáculos, mas ao mesmo tempo tentamos realocar nossa agenda na medida do possível e condensá-la agora na reabertura. Por isso estamos reabrindo, mesmo em obras: para reencontrar a comunidade e impulsionar a classe artística nesse momento em que é difícil encontrar espaços para as apresentações”, afirma Germana.
Alguns espaços ainda não estarão disponíveis no dia da reabertura. Na Cinemateca, as salas Paulo Amorim e Norberto Lubisco seguem em obras durante o mês de agosto. A sala Eduardo Hirtz já reabriu e conta com seis filmes na programação.
O espaço Marilene Bertoncheli, uma das salas expositivas que fica no térreo, também deve reabrir apenas em setembro. O mesmo vale para o espaço Vitrine, que é ocupado por projetos selecionados via edital.
Também no térreo, a livraria Taverna já está com as obras entregues – falta apenas recolocar móveis e livros, portanto deve reabrir no final de agosto. A loja Andaime ainda está no processo final das obras. O café Luciamaria também está reorganizando o espaço para reabrir no final do mês. Como opções gastronômicas, já reabriram o bar e restaurante Térreo e o Lola Bar.