Da homenagem a Neguinho da Beija-Flor, passando pelas brincadeiras de crianças até chegar na história e nas tradições africanas, a segunda noite do Carnaval de Porto Alegre iniciou no sábado (24) e encerrou quase ao alvorecer de domingo (25) com o desfile de nove escolas, quatro na Série Prata e cinco na Série Ouro, e com a Tribo os Comanches.
Com 5,6 mil lugares — as entradas foram disponibilizadas de forma gratuita –, a Prefeitura estima que 20 mil pessoas passaram pelo Complexo Cultural do Porto Seco, que completa 20 anos nesta edição do Carnaval, nas duas noites de desfiles. O Carnaval 2024 marca mais uma etapa na retomada dos desfiles em Porto Alegre, que começaram a ser realizados “fora de época” em 2017 e tiveram como ponto mais baixo o cancelamento do desfile competitivo em 2018.
“O Carnaval de Porto Alegre vive um momento especial. A Prefeitura trabalhou, em conjunto com as ligas e parceiros, para oferecer uma festa com segurança e infraestrutura do tamanho que o carnaval e a cidade merecem. Assim como no ano passado, mais uma vez a entrada para as arquibancadas foi gratuita”, disse o prefeito Sebastião Melo.
Os desfiles começaram com a Tribo os Comanches, remanescente da era de ouro das tribos carnavalescas da Capital. O desfile contou a história da perda de uma flauta por um jovem guerreiro Araré. O instrumento é encontrado por Açucena que leva a flauta para o lago onde vivia.
Na sequência, tiveram início os desfiles da segunda noite da Série Prata, a divisão de acesso. Primeira escola a desfilar nesta categoria, a Império do Sol lembrou o bicentenário de São Leopoldo. O enredo “Um Bicentenário com mais de 200 anos! São Leopoldo, a saga histórica da cidade povoada, amada e miscigenada” contou a história desde antes da fundação da cidade, passando pela chegada dos imigrantes vindos da Europa a te chegar no presente multiétnico da cidade.
Na sequência, foi a vez da Protegidos da Princesa Isabel, que trouxe como enredo “Sou das águas do mar”. O desfile trouxe a água do mar como ponte entre criaturas mitológicas, deuses e a história. O abre alas trouxe uma imagem de Poseidon, o deus grego dos mares.
Terceira escola a desfilar, a Filhos de Maria trouxe para a avenida o enredo “Ominirá”, contando a saga do povo negro gaúcho rumo à liberdade. Baseado em livro de mesmo nome lançado na Feira do Livro de Porto Alegre de 2023, de autoria de Gilberto Manoel Soares, o desfile contou a jornada de escravos liderados por Siza até o Uruguai, onde a abolição da escravatura já estava instituída.
A Unidos da Vila Mapa fechou a disputa da Série Prata com o enredo “Baiana Mãe do Brasil”, que exaltou todas as mães negras, brancas e indígenas do Brasil, que por meio de lembranças, oralidade e dinastia familiar mantêm viva a história das escolas de samba. O desfile foi marcado pela exaltação da religiosidade africana.
Já na madrugada de domingo (25), a Academia de Samba Unidos da Vila Isabel abriu a segunda noite dos desfiles da Série Ouro com uma homenagem ao sambista Neguinho da Beija-Flor, que esteve presente no Porto Seco. O enredo “Neguinho do Brasil, Flor Que a Vila Beija!” contou a história do intérprete histórico da escola de samba carioca Beija-Flor de Nilópolis, lembrando desde a sua infância na década de 1950 em Nova Iguaçu, quando descobriu a paixão pela música, até a consagração como multicampeão do Carnaval.
Segunda escola a desfilar pela Série Ouro, a União da Vila do IAPI trouxe o enredo “Axabó! A voz que ressoa da Bahia, ecoa na Vila”. Personagem do enredo, Axabó, orixá feminina, é cultuada principalmente em terreiros de Salvador, na Bahia. Axabó é a orixá das águas mornas, da intuição feminina, dos sonhos como uma ferramenta de vidência, do sono, dos banhos de axé.
Atual campeã, a Estado Maior da Restinga trouxe o enredo “Crianças, que todas sejam amadas, respeitadas e protegidas. Diz o Estado Maior da Restinga”. No desfile, a escola celebrou o universo infantil, onde os super-heróis vencem o mal, trouxe brincadeiras infantis para o Porto Seco, mas também abordou problemas sociais, mostrando crianças em semáforos.
A Imperadores do Samba foi a penúltima a desfilar e trouxe o enredo “Somos filhos de Rainhas e Reis”, que ressaltou a nobreza africana. O desfile abordou histórias e vozes da África que transcendem as areias do deserto, as savanas e as florestas, destacando a força da mulher negra, desde a África até as comunidades de Porto Alegre, e lembrou a herança de Zumbi e Dandara.
O encerramento do Carnaval de Porto Alegre, quase ao amanhecer de domingo, ficou por conta da escola Realeza, que trouxe o enredo “Alma Negra – Um pedaço da África no Afro-Sul do Brasil”. O enredo reafirmou o compromisso da agremiação em exaltar as manifestações culturais afro-brasileiras, principalmente abordando causas sociais e culturais. E também contou a trajetória do grupo de música e dança Afro-Sul, celebrando o cinquentenário de uma das instituições referência na defesa e no cultivo da arte afro-brasileira no Rio Grande do Sul.
No sábado, desfilaram pela Série Prata as escolas União da Tinga, Império da Zona Norte, Academia de Samba Praiana e Samba Puro. Já pela Sério Ouro, desfilaram Copacabana, Acadêmicos de Gravataí, Imperatriz Dona Leopoldina, Fidalgos e Aristocratas e Bambas da Orgia.