Cultura
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25 de fevereiro de 2024
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12:00

Orixás, reis africanos e crianças: escolas encerram 2ª noite do Carnaval de Porto Alegre

Por
Sul 21
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Atual campeão, Estado Maior da Restinga tenta o bicampeonato com enredo que trouxe as brincadeiras de criança para o Porto Seco | Foto: Alex Rocha/PMPA
Atual campeão, Estado Maior da Restinga tenta o bicampeonato com enredo que trouxe as brincadeiras de criança para o Porto Seco | Foto: Alex Rocha/PMPA

Da homenagem a Neguinho da Beija-Flor, passando pelas brincadeiras de crianças até chegar na história e nas tradições africanas, a segunda noite do Carnaval de Porto Alegre iniciou no sábado (24) e encerrou quase ao alvorecer de domingo (25) com o desfile de nove escolas, quatro na Série Prata e cinco na Série Ouro, e com a Tribo os Comanches.

Com 5,6 mil lugares — as entradas foram disponibilizadas de forma gratuita –, a Prefeitura estima que 20 mil pessoas passaram pelo Complexo Cultural do Porto Seco, que completa 20 anos nesta edição do Carnaval, nas duas noites de desfiles. O Carnaval 2024 marca mais uma etapa na retomada dos desfiles em Porto Alegre, que começaram a ser realizados “fora de época” em 2017 e tiveram como ponto mais baixo o cancelamento do desfile competitivo em 2018.

“O Carnaval de Porto Alegre vive um momento especial. A Prefeitura trabalhou, em conjunto com as ligas e parceiros, para oferecer uma festa com segurança e infraestrutura do tamanho que o carnaval e a cidade merecem. Assim como no ano passado, mais uma vez a entrada para as arquibancadas foi gratuita”, disse o prefeito Sebastião Melo.

 

Imagens aéreas do Complexo Cultural Porto Seco durante a segunda noite de desfiles | Foto: Filipe Karam/ PMPA

Os desfiles começaram com a Tribo os Comanches, remanescente da era de ouro das tribos carnavalescas da Capital. O desfile contou a história da perda de uma flauta por um jovem guerreiro Araré. O instrumento é encontrado por Açucena que leva a flauta para o lago onde vivia.

 

Tribo abriu a segunda noite de desfiles do Carnaval de Porto Alegre | Foto: Pedro Piegas/PMPA

Na sequência, tiveram início os desfiles da segunda noite da Série Prata, a divisão de acesso. Primeira escola a desfilar nesta categoria, a Império do Sol lembrou o bicentenário de São Leopoldo. O enredo “Um Bicentenário com mais de 200 anos! São Leopoldo, a saga histórica da cidade povoada, amada e miscigenada” contou a história desde antes da fundação da cidade, passando pela chegada dos imigrantes vindos da Europa a te chegar no presente multiétnico da cidade.

 

Império do Sol lembrou bicentenário de São Leopoldo | Foto: PMPA

Na sequência, foi a vez da Protegidos da Princesa Isabel, que trouxe como enredo “Sou das águas do mar”. O desfile trouxe a água do mar como ponte entre criaturas mitológicas, deuses e a história. O abre alas trouxe uma imagem de Poseidon, o deus grego dos mares.

 

Protegidos trouxe as águas do mar para o desfile | Foto: Pedro Piegas/PMPA

Terceira escola a desfilar, a Filhos de Maria trouxe para a avenida o enredo “Ominirá”, contando a saga do povo negro gaúcho rumo à liberdade. Baseado em livro de mesmo nome lançado na Feira do Livro de Porto Alegre de 2023, de autoria de Gilberto Manoel Soares, o desfile contou a jornada de escravos liderados por Siza até o Uruguai, onde a abolição da escravatura já estava instituída.

 

Filhos de Maria contou a história do livro Omnirá | Foto: Alex Rocha/PMPA

A Unidos da Vila Mapa fechou a disputa da Série Prata com o enredo “Baiana Mãe do Brasil”, que exaltou todas as mães negras, brancas e indígenas do Brasil, que por meio de lembranças, oralidade e dinastia familiar mantêm viva a história das escolas de samba. O desfile foi marcado pela exaltação da religiosidade africana.

 

Unidos da Vila Mapa fechou a Série Prata com o enredo “Baiana Mãe do Brasil” | Foto: PMPA

Já na madrugada de domingo (25), a Academia de Samba Unidos da Vila Isabel abriu a segunda noite dos desfiles da Série Ouro com uma homenagem ao sambista Neguinho da Beija-Flor, que esteve presente no Porto Seco. O enredo “Neguinho do Brasil, Flor Que a Vila Beija!” contou a história do intérprete histórico da escola de samba carioca Beija-Flor de Nilópolis, lembrando desde a sua infância na década de 1950 em Nova Iguaçu, quando descobriu a paixão pela música, até a consagração como multicampeão do Carnaval.

 

Neguinho da Beija-Flor foi homenageado pela Unidos da Vila Isabel | Foto: Alex Rocha/PMPA

Segunda escola a desfilar pela Série Ouro, a União da Vila do IAPI trouxe o enredo “Axabó! A voz que ressoa da Bahia, ecoa na Vila”. Personagem do enredo, Axabó, orixá feminina, é cultuada principalmente em terreiros de Salvador, na Bahia. Axabó é a orixá das águas mornas, da intuição feminina, dos sonhos como uma ferramenta de vidência, do sono, dos banhos de axé.

 

União da Vila do IAPI homenageou a orixá Axabó | Foto: Pedro Piegas/PMPA

Atual campeã, a Estado Maior da Restinga trouxe o enredo “Crianças, que todas sejam amadas, respeitadas e protegidas. Diz o Estado Maior da Restinga”. No desfile, a escola celebrou o universo infantil, onde os super-heróis vencem o mal, trouxe brincadeiras infantis para o Porto Seco, mas também abordou problemas sociais, mostrando crianças em semáforos.

 

Bateria da “Tinga”, que tenta o bicampeonato | Foto: Alex Rocha/PMPA

A Imperadores do Samba foi a penúltima a desfilar e trouxe o enredo “Somos filhos de Rainhas e Reis”, que ressaltou a nobreza africana. O desfile abordou histórias e vozes da África que transcendem as areias do deserto, as savanas e as florestas, destacando a força da mulher negra, desde a África até as comunidades de Porto Alegre, e lembrou a herança de Zumbi e Dandara.

 

Imperadores trouxe a nobreza africana para o Porto Seco | Foto: Pedro Piegas / PMPA

O encerramento do Carnaval de Porto Alegre, quase ao amanhecer de domingo, ficou por conta da escola Realeza, que trouxe o enredo “Alma Negra – Um pedaço da África no Afro-Sul do Brasil”. O enredo reafirmou o compromisso da agremiação em exaltar as manifestações culturais afro-brasileiras, principalmente abordando causas sociais e culturais. E também contou a trajetória do grupo de música e dança Afro-Sul, celebrando o cinquentenário de uma das instituições referência na defesa e no cultivo da arte afro-brasileira no Rio Grande do Sul.

 

Realeza exaltou a cultura africana | Foto: Alex Rocha/PMPA

No sábado, desfilaram pela Série Prata as escolas União da Tinga, Império da Zona Norte, Academia de Samba Praiana e Samba Puro. Já pela Sério Ouro, desfilaram Copacabana, Acadêmicos de Gravataí, Imperatriz Dona Leopoldina, Fidalgos e Aristocratas e Bambas da Orgia.


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