Cultura
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9 de dezembro de 2023
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12:00

Instituto de Psicologia da UFRGS recebe exposição sobre luta antimanicomial

Por
Duda Romagna
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Foto: Mário Eugênio Saretta
Foto: Mário Eugênio Saretta

A Biblioteca do Instituto de Psicologia (IPSSCH) da UFRGS inaugurou, nesta terça-feira (5), a exposição “As Tantas Sóis”, da artista Solange “Sol” Gonçalves Luciano. Através de painéis pintados e bordados, fotografias e performances, Sol busca levar a militância antirracista, anticapacitista e antimanicomial para espaços como a Universidade.

A exposição tem entrada franca no horário de funcionamento do Campus, das 8h às 21h, até o dia 26 de janeiro. Haverá uma pausa para o intervalo de férias a partir de 26 de dezembro com retorno em 8 de janeiro.

Para compor a exposição, a artista convidou Faifer da Silva Gonçalves para expor suas esculturas em cerâmica. A parceria entre eles veio a partir de uma conexão gerada na Oficina de Criatividades do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Sol se auto define como “sobrevivente dos manicomiais e dos labirintos psiquiatrais”. Ambos convivem com marcadores sociais excludentes e periféricos, como a “loucura” e a negritude.

A exposição é uma iniciativa do programa Biblioteca Viva: Laboratório de Criatividade (BibViva) em parceria com o Núcleo Transdisciplinar de Arte e Loucura Tânia Mara Galli Fonseca (NuTAL) e conta com a colaboração interdisciplinar de docentes e discentes da UFRGS. Para a seleção das obras e composição dos percursos narrativos da exposição, foi formada uma comissão de “anarcuradoria”, termo cunhado pelo grupo, para evidenciar uma curadoria autogestionada e coletiva.

Segundo Celvio Derbi Casal, coordenador do projeto Biblioteca Viva, a “anarcuradoria” não deve ser confundida com uma bagunça, já que todas as decisões foram descentralizadas e em uma escuta atenta às vivências da artista nas ideias e decisões. “Percebemos que o que a anarcuradoria precisava era acompanhar atentamente a Sol na relação com o espaço expositivo, com os suportes e estruturas disponíveis, e com a contação de histórias a partir de suas obras e trajetória de vida. Isso implicava numa organização na qual não cabiam planejamentos prévios ou ideias prontas”, explica.

Para ele, há um contraste entre a conexão afetiva e de cuidado no processo de organização e cuidado das obras e as histórias contadas através delas. “As histórias presentes nas obras de Sol narram as violências, a estigmatização, a perda da liberdade e as condições desumanas em suas passagens pelas instituições psiquiátricas, bem como os horrores da escravidão e do racismo, intersecções de violações que constituem sua trajetória de vida e sua ancestralidade”, relata.

Sol compõe coletivos culturais da cidade, como o grupo de teatro Nau da Liberdade e o Black Confusion, grupo de Hip Hop na Saúde Mental. Além disso, integra a Associação Construção e a Rádio A Vigorosa, em parceria com o projeto de extensão BibViva. Na luta antimanicomial, Sol participou dos documentários Epidemia de Cores, Arte da Loucura e Navegantes. Teve suas obras presentes em diversas exposições, destacando a recente “Esta Coisa que Pulsa” (2023) no Museu da UFRGS.

“A exposição convida para uma pausa na aceleração da produtividade acadêmica, convoca a experienciar um outro tempo, com uma duração diferente. Ao iniciar o percurso pela exposição, somos convidados a ingressar em uma nova postura atencional, uma atenção que nos revela outros mundos a partir das histórias contadas pela Sol através de suas obras. Ninguém sai da exposição do mesmo jeito que entrou. Há uma ambiência produzida não apenas pela observação visual dos painéis, bandeiras e tecidos pintados com tinta acrílica, mas também pelo convite a interagir com as obras”, descreve o coordenador.

“Um dos destaques na obra da Sol é que a própria Sol é a sua melhor mediadora. Sua presença e interação com visitantes no espaço expositivo promove sempre novas e inventivas formas de se relacionar com sua arte. A visita se torna então um acontecimento, e cada pessoa presente performa, junto com Sol, uma obra de arte coletiva, seja vestindo as Vestes Falantes, seja participando de uma roda, contando e escutando histórias, ou ainda participando de um desfile ou corrida”, completa.

É possível agendar visitações mediadas pela artista ou pela equipe “anarcuratorial” escrevendo para o e-mail [email protected].


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