Cultura
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29 de outubro de 2023
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10:59

Tabajara Ruas chega à 69ª Feira do Livro como patrono ‘na hora certa’ e com livro novo

Por
Luís Gomes
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Tabajara Ruas é o patrono da 69ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre | Foto: Divulgação
Tabajara Ruas é o patrono da 69ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre | Foto: Divulgação

Demorou, mas chegou. Aos 81 anos, um dos principais escritores gaúchos, Tabajara Ruas, foi enfim homenageado como patrono da 69ª Feira do Livro de Porto Alegre. Contudo, não diga para o autor de obras como “Os varões assinalados” e “Netto perde sua alma” que demorou. “Eu acho que chega na hora que deve chegar, não adianta querer se apressar ou atrasar a marcha do acontecimento. Chegou na hora que tinha que chegar”, disse, em conversa com o Sul21. “Acho legal ser homenageado, e acho legal participar da Feira do Livro, da qual eu sempre participei como comprador, como visitante.”

A homenagem chegou no momento em que Tabajara está com livro novo, com sessão de lançamento marcada para este domingo (29), terceiro dia oficial da Feira, aberta na sexta-feira (27). “Você sabe de onde eu venho” é um livro que conta, sob múltiplos pontos de vista, a história da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial.

O título do livro é uma referência ao primeiro verso da Canção do Expedicionário, escrita em homenagem às forças brasileiras que lutaram naquela guerra. “Desde que eu comecei a divulgar o livro, eu tenho perguntado para as pessoas e, em geral, ninguém sabe”, diz, emendando os primeiros versos de cabeça. “Você sabe de onde eu venho? // Venho do morro, do engenho // Das selvas, dos cafezais // Da boa terra do coco (…)”

Novo livro de Tabajara Ruas está sendo lançado nesta edição da Feira do Livro | Foto: Reprodução

Tabajara diz que, para escrever o romance que ficcionaliza os eventos históricos, fez uma profunda pesquisa sobre a participação brasileira na Segunda Guerra e que chamou a sua atenção a falta de conhecimento do brasileiro, em geral, sobre o que ela significou para o País. “Tem um lado heroico dos caras terem saído daqui para lutar na Europa, uma participação muito complicada, muito difícil. Foram lutar nas alturas dos Pirineus, muito frio, muita neve e gelo, tiveram que enfrentar isso tudo, além dos alemães”, disse. “A participação do Brasil nessa guerra foi dos fatos modernos, talvez o mais importante. Foi a guerra que colocou o Brasil no mapa das grandes nações, deu uma voz para o Brasil”, complementa.

A temática da guerra não é estranha ao autor, que já abordou a Guerra do Paraguai, em “Netto Perde sua Alma”, e o conflito entre os farroupilhas e as tropas imperiais do Brasil em “Os varões assinalados”. Questionado sobre a recorrência do tema, ele pontua que isso parte de uma tentativa de buscar respostas para uma série de interrogações a respeito da formação do Brasil ao longo do tempo. No novo livro, entre meados entre capítulos narrados por soldados, estão trechos que “dão voz” para figuras reais.

São vários pontos de vista, principalmente dos pracinhas. Tem também o ponto de vista dos oficiais. A parte histórica pega mesmo os grandes comandantes da expedição, como Mascarenhas de Moraes, que atuou como Comandante da Força Expedicionária Brasileira.

Além de “Você sabe de onde eu venho”, Tabajara também faz o relançamento na Feira de algumas de suas principais obras em novas ou recentes edições, incluindo “Os varões assinalados”, “O amor de Pedro por João”, “Perseguição e cerco a Juvêncio Gutierrez” e “Gumercindo”. “Esses são alguns dos livros que vão estar na Feira agora e eu espero que sejam bem recebidos, como foram quando saíram há um tempo atrás”, diz.

Após um período de dificuldades, que incluíram discussões sobre o financiamento durante o governo de Nelson Marchezan Júnior (PSDB) e a pandemia de covid-19, a 69ª Feira do Livro busca ser uma edição de retorno à “força total”. Para o seu patrono, os percalços são “coisas naturais da vida”. “Sempre tem momentos propícios para fazer as coisas, outros são menos propícios e tal. Acho que a Feira contornou bem esse momento, primeiro da pandemia, depois dos obstáculos feitos pelas pessoas, com um pouco de preconceito, à cultura não vou dizer, mas aos favores que alguns eventos tinham em relação a outros. Isso se ajustou, de alguma maneira”, afirma.

Sob um ponto de vista mais poético, Tabajara diz que o papel da Feira é ser um “sopro de ar puro nesse mundo caótico que nós estamos vivendo”.

Para Tabajara, apesar dos pesares, eventos literários seguem tendo um papel vital na sociedade, especialmente pelo estímulo à leitura. “A leitura ainda é a principal ferramenta do ser humano, é algo dirigido ao espírito humano, para a inteligência, para o desenvolvimento da cultura, das coisas não materiais, que são, de fato, as coisas que enriquecem a vida”, diz.

Neste sentido, ele destaca o papel da literatura infantil. “Embora haja um certo medo de que as pessoas tenham deixado de ler e a leitura acabe se tornando uma coisa meio estranha na vida das pessoas, ela continua forte de várias maneiras. E a literatura infantil é o fundamento para que as pessoas se entendam no mundo, interajam com o mundo. A leitura faz essa mediação entre leitor e o universo. O jovem leitor, que está começando a ler os primeiros livros, sente o impacto desse fenômeno que é a leitura, que de todas as coisas que a humanidade inventou é a que mais perdura e mais interage como ser humano”.

Ao longo dos próximos dias, Tabajara diz que poderá ser visto circulando pela feira, conversando com as pessoas, comprando livros e mesmo indicando obras para quem estiver interessado. Ao ser solicitado para que indique um, ele destaca “Leopold”, de Luiz Antonio de Assis Brasil, que aborda a trajetória do pai de Wolfgang Amadeus Mozart. “É um livro extraordinário, magnífico, muito bem escrito. É um dos grandes livros do Assis Brasil e eu recomendo para quem quer uma bela leitura”, diz.

Antes de encerrar a breve conversa, ele ainda faz questão de fazer um convite à população. “Eu gostaria de conclamar as pessoas para irem à Feira, participarem da Feira e escolherem algum livro para levar para casa”.


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