Cultura
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2 de abril de 2022
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12:03

Fechado desde 2014, Teatro Túlio Piva tem previsão de reabertura no final do ano

Por
Luís Gomes
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A reforma do teatro Túlio Piva é uma das contrapartidas do contrato de concessão do espaço e do Auditório Araújo Vianna à Opinião Produtora. Foto: Luiza Castro/Sul21
A reforma do teatro Túlio Piva é uma das contrapartidas do contrato de concessão do espaço e do Auditório Araújo Vianna à Opinião Produtora. Foto: Luiza Castro/Sul21

Com as portas fechadas desde 2014 em razão de problemas estruturais, o Teatro de Câmara Túlio Piva, um dos mais simbólicos espaços culturais da cidade, amargou praticamente oito anos de abandono. Atualmente sob a responsabilidade da Opinião Produtora, a expectativa era de que o teatro tivesse sido reformado e reaberto em 2020. Em razão da pandemia, contudo, as obras não chegaram a começar. Com a retomada dos eventos na cidade, Prefeitura e produtora firmaram um acordo no início do ano e, desde 1º de março, uma empreiteira contratada pela Opinião prepara o canteiro de obras no local, com a perspectiva de reabertura até o final do ano.

A reforma do teatro Túlio Piva é uma das contrapartidas do contrato de concessão do espaço e do Auditório Araújo Vianna à Opinião Produtora assinado em novembro de 2019, ainda na gestão de Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Pelo contrato, a Opinião deveria pagar um valor de outorga de R$ 6,1 milhões — sendo 20% pagos na época da assinatura do contrato e o restante divididos em 120 meses. Com a chegada da pandemia, a Opinião solicitou a suspensão do contrato, com o interrompimento do pagamento das parcelas da outorga e das obras exigidas tanto no Araújo Vianna, como no Túlio Piva, até que pudesse voltar a usar os espaços.

Coordenador de Economia Criativa e responsável por fiscalizar o contrato por parte da Prefeitura, Alvaro Franco destaca que, antes da pandemia, a Opinião chegou a utilizar apenas uma data do Araújo Vianna. O auditório passou por reformas na pandemia e voltou a ser utilizado em 2021, mas ainda não em sua capacidade total. Já o teatro não teve as obras iniciadas. Segundo Franco, após discussões entre produtora e Prefeitura sobre a retomada do contrato, em janeiro de 2022 foi elaborado um aditivo contratual, considerando que apenas naquele mês ocorreu a liberação de 100% da capacidade do auditório, determinando que o pagamento das parcelas da outorga deveria recomeçar em fevereiro e os prazos contratuais seriam readequados.

Em relação ao Túlio Piva, diz Alvaro, a Opinião se comprometeu a reduzir o prazo original de entrega da reforma de 12 para 10 meses, dos quais os primeiros quatro seriam para a elaboração do projeto executivo e os outros seis para as obras em si. Ele destaca que, em 1º de março, o teatro foi formalmente entregue para a Opinião, que iniciou um trabalhou de limpeza de entulhos, remoção da cobertura vegetal e instalação do canteiro de obras, dando encaminhamento ao processo de licenciamento para remoção de uma parede e da vegetação que se acumulou com os anos de abandono.

Desde 1º de março, uma empreiteira contratada pela Opinião prepara o canteiro de obras no local. Foto: Luiza Castro/Sul21

O projeto executivo, sob responsabilidade da produtora, diz respeito a como será feita a execução do projeto original, elaborado pela Prefeitura no momento da licitação. Alvaro ressalta que as únicas mudanças arquitetônicas previstas em relação ao projeto da Prefeitura são relativas a adequações de segurança e acessibilidade que tiveram normas legais alteradas desde 2019. “Naquele tamanho de teatro, só podemos ter oito cadeiras em uma fila até um corredor, então está sendo feito mais um corredor”, exemplifica.

Alvaro destaca que a Opinião já comunicou à Prefeitura que o projeto executivo será elaborado num prazo de dois meses, e não nos quatro inicialmente previstos, o que indica que o teatro poderá ser reaberto entre janeiro e fevereiro de 2023. Ele avalia que os trâmites sob responsabilidade da produtora estão andando rapidamente no momento.

Procurada pela reportagem, a Opinião Produtora estimou que as obras devem ficar prontas antes do prazo, até o final de 2022.

Apesar do otimismo da Prefeitura e da Opinião Produtora, a classe artística de Porto Alegre ainda está ressabiada com o andamento do processo, especialmente diante dos reiterados atrasos na reforma do teatro e de outros espaços culturais da cidade.

“A gente tá na mão de uma empresa que pediu para os prazos serem modificados em função da economia. Enquanto isso, tem vários espaços fechados na cidade. A Usina do Gasômetro, o Teatro Renascença continua em reforma. Parece que os governos fizeram isso de propósito, deixaram sucatear para poder privatizar”, avalia o presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do RS (Sated-RS), Luciano Fernandes.

Ele questiona também o que segundo ele é uma falta de diálogo da Prefeitura com a classe artística a respeito do espaço. Pelo convênio firmado com a Opinião, a Prefeitura terá direito de preferência em 50% das datas do Teatro Túlio Piva, o que configura que ele será um dos principais espaços culturais públicos da cidade. Em comparação, a Prefeitura poderá usar apenas 30 datas por ano no Auditório Araújo Viana.

Representantes da classe cultural questionam a demora. Foto: Luiza Castro/Sul21

Fernandes questiona, por exemplo, o fato de o sindicato ter reivindicado que a reforma do teatro permita que ele receba equipamentos circenses. “A gente tem um movimento de circo na cidade que é enorme e os teatros não são feitos para ele, a gente não tem onde treinar, não tem um espaço público para isso. Se a gente vai reconstruir um projeto, que ele seja o mais contemporâneo possível”, diz. Contudo, afirma que nunca recebeu um retorno concreto sobre a demanda nas reuniões com a secretaria de Cultura. “Além de ser demorado o projeto, parece que ele não é tão público quanto a gente gostaria”.

Produtor Cultural e presidente da Associação de Amigos do Teatro de Arena, Hamilton Braga ressalta que a necessidade de reforma no Teatro Túlio Piva, criado em 1970, vem sendo discutida desde quando ele ocupou o cargo de coordenador de Artes Cênicas da Secretaria de Cultura no governo de Olívio Dutra. O teatro passou por duas reformas posteriormente, mas os problemas estruturais permaneceram. Para ele, a demora na reabertura do teatro é um dos vários exemplos de “descaso da Prefeitura com os equipamentos culturais da cidade”. Braga ressalta que, até pouco tempo, o Túlio Piva era um verdadeiro terreno baldio.

Fernandes destaca que a classe artística está se mobilizando para pressionar a Prefeitura a ampliar os investimentos na área da cultura e a agilizar as obras nos espaços culturais que estão fechados. Nesta semana, eles solicitaram à Câmara de Vereadores uma audiência pública para debater a situação do setor no mês de abril e uma manifestação também está prevista para ocorrer neste mês.

“A cultura foi a primeira categoria a parar e é a última a conseguir se organizar, então a gente precisa dos espaços públicos funcionando”, diz. “Nós vamos ter que ir para frente da Prefeitura ver se o prefeito nos recebe, nos escuta e percebe que a situação não está fácil. A gente tem uma orla bonita e a Usina está fechada há anos, parece que é uma coisa cenográfica só. A cultura acontecia naquele espaço. E assim como era a Usina é o Teatro de Câmara”.

Confira mais fotos:

Foto: Luiza Castro/Sul21
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