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2 de junho de 2021
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23:01

Membros do DCE da UFRGS denunciam racismo da Guarda Municipal durante protesto

Por
Sul 21
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Membros do DCE da UFRGS denunciam racismo e repressão por parte da Guarda Municipal | Foto: Divulgação
Membros do DCE da UFRGS denunciam racismo e repressão por parte da Guarda Municipal | Foto: Divulgação
Membros do DCE da UFRGS denunciam racismo e repressão por parte da Guarda Municipal | Foto: Divulgação

Luís Eduardo Gomes

Três membros do Diretório Central de Estudantes (DCE) da UFRGS registraram nesta terça-feira (1) um boletim de ocorrência na Delegacia de Combate à Intolerância contra a atuação da Guarda Municipal de Porto Alegre durante um protesto realizado por estudantes no dia 12 de maio, ocasião em que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, esteve na cidade de Porto Alegre.

Na ocorrência, eles denunciam guardas municipais por preconceito de raça e cor e por reprimirem com força excessiva o protesto do grupo de estudantes que ocorreu diante da sede de Rádio Guaíba, emissora a qual o ministro concedeu entrevista na tarde de 12 de maio. O boletim registra que os estudantes denunciaram que o “ato foi reprimido pela Guarda Municipal, a qual teria marcado os participantes negros do ato, reprimindo-os de forma mais contundente, tentando prendê-los e imputando-lhes crimes não ocorridos quando no Palácio da Polícia”.

Em nota, os estudantes dizem que foram agredidos por integrantes da comitiva do ministro e pela Guarda Municipal que utilizou spray de pimenta, tiros de borracha e arma de choque taser contra eles e os demais participantes do protesto.

Dirigente do DCE, o estudante que denuncia ter sido alvo de racismo, Daniel Oliveira explica que o protesto foi organizado “em cima da hora” por um grupo de oito jovens, quando eles descobriram que o ministro estaria em Porto Alegre naquele dia. Ele diz que o grupo estendeu uma faixa diante da comitiva de Milton Ribeiro quando ele chegava no prédio da Rádio Guaíba e que a Guarda Municipal estava no local para acompanhar o ministro.

“Quando chegou a Guarda Municipal, tentaram dispensar a turma. Uma parte, se eu não me engano dois ou três, entraram dentro do prédio da rádio para se proteger, e a Guarda foi para cima. No momento que um guarda vem para cima de mim, ele bota a mão na arma de fogo e só solta quando eu questiono qual era a necessidade da arma de fogo naquele momento e o que ele estava afim de fazer. Perguntei diversas vezes se ele iria atirar. Aí, ele tirou e pegou o spray de pimenta e começou a usar”, diz.

Daniel conta que um colega, Gustavo Seixas, foi preso neste momento e que, por isso, decidiram que encerrariam o ato. Simultaneamente, uma nova viatura da Guarda Municipal teria chegado ao local. “A gente anunciou o final do protesto porque o Gustavo já estava preso, algemado e rendido no chão. O Júlio [Câmara] saiu com as duas mãos para cima, anunciando o fim do protesto, e eles pegaram ele, colocaram na parede e deram dois tiros do lado para ele ficar parado. Aí prenderam o Júlio sem nenhuma necessidade”, diz. “Nesse momento, o guarda municipal que estava desde o início tentando me perseguir, atravessa a rua apontando para mim e tenta me dar um chute nas pernas para que eu caia, nesse momento eu saia correndo”.

O jovem relata que, após as prisões serem efetuadas, ele e outra dirigente do DCE acompanharam a viatura da Guarda que levava os dois colegas presos até o Palácio da Palácio, local em que ele próprio seria preso na sequência. Na versão de Daniel, enquanto esperava a liberação dos colegas, viu que um dos guardas municipais estava falando por telefone com um membro da comitiva do ministro e que este homem estaria identificando quais foram as ações dos manifestantes. Daniel diz que o homem o acusou de agressão com um chute. “Só que em nenhum momento eu me aproximei desse homem, não tem nenhuma imagem minha sequer próximo a ele para ele me imputar esse tipo de crime de agressão”, diz.

Daniel afirma que não fez qualquer menção de resistência à prisão, mesmo assim também foi algemado. “Antes deles virem até mim, para me prenderem, fizeram uma série de comentários. ‘Ah, o negãozinho é o mais perigoso, tu deveria estar preso junto com eles'”, diz. “Eu não encontro nenhuma resposta para que o aconteceu comigo naquele dia. Houve três prisões em três momentos diferentes do protesto naquele dia. Uma quando o protesto estava rolando, a segunda quando a gente já tinha anunciado o fim do protesto e só queríamos saber para onde o nosso companheiro estava indo, e a terceira foi a minha, que, na opinião de todo mundo, é a mais absurda. Foi lá no Palácio da Polícia, sem nenhuma motivação, sem eu ter cometido nenhum crime e, sentada ao meu lado, havia uma companheira de DCE da UFRGS que é branca, estava no ato, eles sabiam, e não foi presa. Fora o que eles me disseram. Então, não tem onde eu encontrar [uma explicação] a não ser no racismo, que alicerça a nossa sociedade, o motivo para a minha prisão”.

Em nota, os estudantes dizem que o objetivo da ocorrência é “denunciar o abuso de autoridade e resultar em medidas de responsabilização aos guardas e seguranças da comitiva do ministro que atuaram no caso”. Na ocasião do protesto, os três foram acusados de agressão.

A reportagem procurou a assessoria da Secretaria de Segurança Pública de Porto Alegre, que informou que não iria se manifestar sobre o registro de ocorrência.

 

 


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