Notícias
|
23 de maio de 2021
|
15:53

Após Leite anunciar transformações no Instituto de Educação, comunidade escolar cobra ‘volta para casa’

Por
Sul 21
[email protected]
Instituto de Educação Flores da Cunha está em obras há cinco anos | Foto: Guilherme Santos/Sul21

 Luís Eduardo Gomes 

No dia 12 de maio, o governador Eduardo Leite divulgou um vídeo em que anuncia a intenção de retomar as obras da reforma do Instituto de Educação Flores da Cunha, que está fechado desde janeiro de 2016. Além disso, informa que a ideia é transformar o local em um centro de referência para a formação de professores. Pega de surpresa, a comunidade escolar do IE diz que vê com bons olhos a retomada das obras, que estão paradas desde 2019, mas cobra a manutenção da escola que atende desde a creche até o ensino de jovens e adultos no local.

Leia mais:
Sem pagamento, empresa responsável pela reforma do Instituto de Educação abandona obra
Instituto de Educação: Com 90% das obras por fazer, governo promete entrega para 2020

No vídeo, o governador afirma que visitou o local no dia anterior, 11, ao lado da secretária de Educação, Raquel Teixeira, e de outros membros do governo, passando a orientação para que a equipe retome a negociação com a empresa Concrejato, que suspendeu a reforma em setembro de 2019 por falta de pagamentos do governo do Estado, para a conclusão das obras.

“O nosso governo pretende dar um destino muito especial para esse local. Mais do que uma escola, nós queremos uma escola para inspirar outras escolas. Nós pretendemos transformar o Instituto de Educação num local desafiador, instigante, que sirva como referência para toda a educação. A nossa ideia é ter um ali um centro exatamente de referência e de formação de professores, que seja capaz de conectar passado, presente e futuro do ensino e da aprendizagem no nosso Estado”, diz o governador no vídeo (abaixo).

Leite afirmou ainda que pretende transformar o local num escola que “derruba paredes”, pegando inspiração no Museu do Amanhã, localizado no Rio de Janeiro. De acordo com ele, a ideia é que o IE se torne a “escola do amanhã”. O governador, contudo, não deixou claro no vídeo se as aulas do Instituto de Educação Flores da Cunha, que hoje estão acontecendo provisoriamente em quatro locais diferentes, retornarão ao local nos moldes anteriores à reforma.

A reportagem encaminhou uma série de questionamentos à Secretaria de Educação (Seduc), entre eles a pergunta sobre qual seria o papel dos alunos neste centro de formação de professores. “O projeto tem como propósito a preparação de professores e estudantes para os novos desafios do mundo, com habilidades para responder às exigências de inovação e complexidade do século 21”, respondeu a Seduc.

A Secretaria informou ainda que a previsão é que as obras sejam retomadas em julho de 2021 e sejam concluídas em dezembro de 2022, ao custo de R$ 22.927.728,47, com recursos provenientes do salário-educação, do Fundo Nacional de Educação.

Governador Eduardo Leite, secretária Raquel Teixeira (Educação) e secretário José Stédile (Obras e Habitação) durante a visita ao prédio do Instituto de Educação | Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

Diretora do Instituto de Educação, Alessandra Lemes da Rosa diz que a gestão da escola foi surpreendia pelo projeto de transformar o IE num centro de excelência de formação de professores, uma vez que a direção, apesar de manter um diálogo constante com a Seduc sobre o andamento das obras, não foi comunicada pelo governo do Estado da retomada. Além disso, frisa que não é contrária às inovações que possam vir a ser apresentadas pelo governo para o Instituto de Educação, mas ressalta que a escola deseja “voltar para casa”.

“A gente se alegra muito com a retomada das obras que estavam paralisadas desde setembro de 2019. Na fala do governador, a ideia é muito boa, mas a gente não sabe como nós, escola, entramos nessa questão. Nós vamos continuar com a escola básica, desde a educação infantil até o curso Normal, à EJA, e também essa parte específica que ele fala? Isso é algo que, até o momento, nós não temos respostas”, diz a diretora.

Alessandra afirma que a direção e a Comissão de Restauro do Instituto de Educação, formada por representantes da comunidade escolar, vinham fazendo reuniões mensais com a parte administrativa da Seduc sobre a retomada das obras e que espera uma conversa com a secretária Raquel para que possam falar sobre os planos do governo para a reforma.

“Em nenhum momento nós falamos sobre qualquer tipo de projeto pedagógico, era bem específico sobre a retomada das obras. Então, nós fomos tomados por surpresa e estamos esperando, já tentamos uma agenda com a secretária, professora Rachel. Ainda estamos aguardando”, diz.

Ela lembra ainda que o IE já era um centro de referência para a formação dos professores, uma vez que abriga o mais antigo Curso Normal (Magistério) em funcionamento no Estado. “O nosso desejo é de retornar à nossa casa e retomar os nossos trabalhos. Então, tendo mais esse pool pedagógico, como disse o governador, só teríamos a agradecer”, diz.

Na mesma linha da diretora, Maria da Graça Moralles, membro da Comissão de Restauro do Instituto de Educação e mãe de dois alunos que se formaram no IE durante o período da reforma, também diz que a comunidade escolar foi pega de surpresa com o projeto, mas que não é contrário a ele, desde que inclua o retorno da escola ao seu prédio original. Contudo, avalia que o vídeo divulgado pelo governador não deixou claro qual o papel que a escola terá após a reforma.

“Essa dúvida é bem presente. Se eles estão prevendo que não vai ser mais escola, se vai se vincular a essa formação super tecnológica professores, todo o projeto de restauro do IE é no formato daquela escola, que vai desde a creche até o Ensino Médio”, diz, acrescentando que o projeto licitado para a reforma prevê que a escola terá um ginásio poliesportivo, laboratórios para diversas áreas, espaço para oficinas de artes cênicas e até mesmo um palco multiuso para apresentações abertas ao público externo. “Para modicar esses espaços, vai interferir lá na licitação. Toda licitação tem um percentual de alteração que é permitido. Mas, se houver uma mudança muito grande, não seria permitido”, diz.

Fachada do Instituto de Educação Flores da Cunha em 2017 | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Deputada estadual e integrante da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, Sofia Cavedon (PT) vem acompanhando o tema e também ressalta que, pelo contrato de reforma que está em andamento, o Instituto de Educação deverá abrigar a escola de mesmo nome. Ela lembra que a primeira empresa que venceu a licitação teve o contrato rompido em agosto de 2017 e uma nova licitação foi feita, com o mesmo projeto, em 2018. “Nos surpreendeu completamente o governador aparecer com a secretária de Educação, caminhando lá dentro do Instituto, olhando a obra e dizendo: ‘aqui nós vamos fazer a escola do futuro’. Foi visitar a obra sem considerar a Comissão de Obras, sem considerar toda essa história de luta, de resistência, pela projeto”, diz a deputada. “Ainda foi informado no Instagram, é uma falta de respeito absurda”.

Sofia destaca que o projeto original já previa a modernização da escola, com a instalação de lousas digitais, entre outros equipamentos. “Por isso que brilharam os olhos do governador e da secretária”, afirma.

A deputada levou o tema para discussão em reunião da Comissão de Educação e um diretor da Seduc presente no encontro se comprometeu a levar o pedido de agenda com representantes da comunidade escolar para a secretária Raquel.

A diretora Alessandra diz que a escola encaminhou na quinta-feira (20) uma nova mensagem por e-mail pedindo o agendamento da reunião com a secretária Rachel, mas não havia tido o retorno até a tarde de sexta-feira.

Escola dividida

Desde quando perdeu sua sede no início do ano letivo de 2016, o Instituto de Educação está funcionando em quatro locais diferentes. A sede provisória está funcionando na Rua Cabral, nº 621, atendendo do 5º ano do Ensino Fundamental ao 3º do Ensino Médio. Os anos iniciais do Fundamental (do 1º ao 4º ano) funcionam na escola anexa ao prédio do IE, que já abrigava essas turmas, localizada na Rua José Bonifácio, nº 497. Na antiga escola Felipe de Oliveira, na Rua Felipe de Oliveira, estão funcionando as turmas de Educação Infantil e as turmas do curso Normal (Magistério) e de Aproveitamento de Estudos diurnos. E o ensino noturno da Educação de Jovens Adultos (EJA) e das turmas de Aproveitamento de Estudos está sendo ministrado nas dependências do Instituto Rio Branco, na Av. Protásio Alves, nº 999.

A diretora Alessandra diz que fazer a gestão da escola nessas condições tem sido um desafio e que, apesar do Instituto de Educação continuar na ativa, tem perdido alunos nos últimos anos.

“Eu diria que, enquanto gestora, é uma ginástica que se faz, porque atender quatro prédios diferentes, com a distribuição de equipamentos, dos EPIs, material de limpeza, a própria questão da alimentação, da merenda, os fornecedores têm que entregar em quatro prédios diferentes, é bem complicado. Nossa situação é bem difícil, mas estamos indo. A previsão, quando nós saímos do prédio da Osvaldo Aranha, era de uma obra de 18 meses, e ela já se arrasta por cinco anos. Então, imagine que a gente está sofrendo todos esses percalços nesse decorrer. E, claro, a gente teve uma perda significativa de alunos por todas essas localizações diferentes de prédios, isso também dificultou, até porque ali, na Osvaldo Aranha, a gente tinha um fácil acesso. Então a gente teve uma diminuição muito significativa do número de alunos”, diz a diretora.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora