Nubia Silveira (texto) Flavia Boni Licht (consultora)
Os músicos interessados em fazer parte da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) podem começar a se preparar. Em 2012, o governo do Estado promoverá um concurso para preencher as vagas em aberto na Ospa, anuncia o secretário da Cultura, Luiz Antônio Assis Brasil. Em seu gabinete, no 19º andar do Centro Administrativo, ele lembra, com seu jeito tranquilo e voz suave, que já foi um dos músicos da Orquestra, declarada patrimônio histórico imaterial de Porto Alegre.“Na década de 70 do século passado, a Ospa era a melhor orquestra do país. Não porque eu fazia parte dela, mas porque era mesmo”, afirma. Durante 15 anos (de 1965 a 1980), o secretário e escritor foi um dos violoncelistas da sinfônica porto-alegrense. E reafirma: “Nós tínhamos a melhor orquestra do país”.
Atualmente dos 110 músicos que seriam o ideal para compor uma sinfônica, a Ospa conta com apenas 88. As vagas vêm sendo preenchidas com músicos contratados especificamente para uma ou outra apresentação. Assis Brasil, no entanto, considera importante que a orquestra tenha seus próprios músicos, criando, assim, um espírito de corpo, que ele diz ser necessário para o bom funcionamento de uma orquestra sinfônica. “Mozart ou Beethoven, por exemplo, podem ser tocados por uma Orquestra de Câmara. Já para os românticos é preciso uma sinfônica”, ressalta, lembrando que as composições do austríaco Gustav Mahler, por exemplo, exigiam 200 músicos. “O ideal para uma orquestra sinfônica – ressalta o secretário – são 110 músicos”, devendo, portanto com o concurso serem preenchidas 22 vagas.
O Estado também contratará um regente para a Orquestra? Assis Brasil diz que atualmente há um rodízio de maestros nacionais e internacionais. “Há orquestras que contratam regentes por temporada. Outras estão sempre substituindo seus maestros e outras, ainda, têm regentes titulares”, lembra o ex-violoncelista. Há, portanto, afirma, três possibilidades de escolha. “Isso nos deixa mais confortáveis para poder tomar uma decisão no futuro”, conclui.
Construção da sala de concerto
Depois de 61 anos – a Ospa foi criada em 1950 –, a Orquestra ainda luta por um espaço próprio. O secretário está confiante numa solução para o problema ainda este ano: “Nós vamos começar a construir a sala de concerto neste segundo semestre”, afirma, baseado na “sinalização muito forte” recebida da Presidência da República e do Ministério da Cultura. A sede do teatro ficará no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. “Estamos trabalhando nisso diariamente”, informa. “A sala de concerto é muito importante para a visibilidade da Orquestra e para o conforto dos músicos, que hoje ensaiam no Cais do Porto, e dos espectadores”, diz Assis Brasil, que para e observa o voo de um gavião, que passa rente à sua janela. A paisagem da cidade, vista dali, é dominada por prédios e a cúpula da Catedral Metropolitana. Diariamente, conta o secretário, ele acompanha outro voo: de um avião que atravessa a paisagem em direção ao Aeroporto Salgado Filho.
Assis Brasil considera que a Ospa já teve alguns avanços, como a separação dos cargos de diretor artístico e regente titular. Embora sem um regente titular, a Orquestra já tem o seu diretor artístico: Tiago Flores. O entusiasmo do secretário é de quem quer ver a Ospa voltar a ser a melhor do país.
FAC é a solução para a Cultura
Em 2011, o governo do Estado previu a renúncia de R$ 18 milhões em impostos em favor da Cultura. “Não se sabe ainda se foram captados todos estes recursos”, diz Assis Brasil. Para 2012, os recursos devem aumentar aproximadamente 40%, com uma renúncia fiscal prevista de R$ 25 milhões. Apesar de dizer que a LIC – Lei de Incentivo à Cultura está funcionando bem, o secretário alerta que ela “não é solução para a política cultural”.
Ele defende que a solução é o FAC – Fundo de Apoio à Cultura que, neste ano, pela primeira vez, lançou um edital para o financiamento de projetos culturais. Cada projeto aprovado pode receber, no máximo, R$ 30 mil.
Em 2011, o valor total dos recursos oferecidos pelo FAC ficou limitado em R$ 880 mil. “Em 2012, chegará a R$ 5 milhões. Para isso, estamos contando com outros recursos que não apenas os estaduais”. Quais? O secretário responde rapidamente: “recursos federais”. Ele explica que no caso da LIC, a política cultural acaba sendo definida pelos patrocinadores, que decidem em que projetos investir. Já no FAC, a decisão é do governo do Estado, que assim definirá a sua política cultural.
Bens tombados em estado regular
Ao falar sobre o patrimônio histórico, Assis Brasil lembra ter trabalhado na Fundação Nacional Pró-Memória (FNPM), que antecedeu o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Os princípios que determinam a preservação de bens históricos vem mudando através dos anos, constata. “Se a gente pensar as restaurações feitas na Alemanha, ao final da II Guerra Mundial, que foram, na verdade, reconstruções, hoje, sob o ponto de vista técnico, esta seria uma atitude problemática”, exemplifica. A preservação, ressalta, “depende da cultura da época, como cada época entende o passado e o patrimônio”.
Assis Brasil não é favorável aos que declaram não haver sentido em preservar nada. Nem dos que defendem ser a preservação um fato imobilizador do cenário urbano. Para ele, a solução está em preservar com muito critério e parcimônia. “Precisa um meio-termo, que é muito mais difícil do que tomar atitudes extremas”.
— Os bens tombados de propriedade do Estado estão bem conservados?
— Estão de regulares a bom, diz o secretário. Não temos prédios tombados que estejam em situação preocupante. Sofrem com o desgaste natural.
O secretário gaúcho da Cultura reconhece que “em nosso país não se investe em manutenção e se paga caro pela restauração”.