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16 de junho de 2010
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13:17

Uma goleada de tédio

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Milton Ribeiro

miltonribeiro.opsblog.org

Com a afinação de um naipe de vuvuzelas, o Brasil venceu a Coreia do Norte por 2×1, gols de Maicon e Elano. Paralelamente, deu chances a Kim Jong-il de mostrar na televisão estatal um gol de seu país nos pentacampeões mundiais e a Maicon de elogiar a Jabulani, a qual partiu insidiosamente reta de de seu pé direito para as redes de Ri Myong Guk, no primeiro gol brasileiro.

O frio talvez tenha atrapalhado; o nervosismo do primeiro jogo certamente atrapalhou e havia também a história – afinal, a última derrota do Brasil em uma estreia de Copa do Mundo aconteceu em 1934 para a Espanha – , mas mesmo assim foi pouco, muito pouco futebol. Conforme o esperado, a Coreia entrou em campo com uma retranca digna do Gaúcho de Passo Fundo dos bons tempos. Se abriu mão dos perigosos irmãos Pontes na zaga, o esquema montado por Kim-Jong Hun não tinha nenhuma aspiração ofensiva, tanto que seu único atacante derramou lágrimas nem um pouco furtivas durante a execução do hino de seu país, antecipando os momentos de solidão que experimentaria entre Lúcio e Juan.

Com  a bola em jogo, tivemos um primeiro tempo decepcionante e sem tentativas de solução. Burocraticamente, o Brasil insistia nos ataques pelo meio, com nossas tentativas morrendo aos pés do bunker montado pelos orientais na frente de sua grande área. Ou morrendo nos passes errados de um Kaká ainda vítima da Síndrome de Real Madrid. Pelo lado direito, Maicon recebia poucos passes e Michel Bastos, pelo esquerdo, demonstrava solidariedade ao mau futebol de Kaká, realizando partida igualmente sofrível. Nossos melhores lances vinham de Robinho, que era o único que lograva convencer os coreanos a bailar.

No início da segunda etapa, o Brasil entrou com algum senso da urgência, procurando furar a defesa norte-coreana através de maior movimentação. Logo aos dez minutos,  Maicon recebeu de Elano e, da linha de fundo, com ângulo improvável, arriscou um chute de três dedos – talvez casual, pois declarou ter chegado cansado na bola depois de ter corrido cem metros. Inesperadamente, a bola passou entre o goleiro e a trave, aliviando a torcida brasileira e Maicon, o qual imitou o Rooney asiático, derramando lágrimas brasileiras no estádio Ellis Park, em Johannesburgo.

Após dar-se ao luxo de perder algumas oportunidades de ampliar o placar, veio o segundo gol: um passe miraculoso de Robinho, que encontrou Elano livre pelo lado direito da grande área coreana. O ex-santista concluiu o lance com maestria típica de um Romário – com lado do pé direito, empurrou levemente a bola para o canto direito de Ri Myong Guk.

Porém, o que mais lamentará o povo e a torcida brasileira é o gol feito pela Coreia nos últimos minutos de jogo.  Numa penetração feita pela meia-esquerda de ataque – bem no setor do confiável Lúcio – , Yun-Nam encheu o pé de dentro da grande área, diminuindo o placar e dando um prêmio imerecido a quem pouco procurou o ataque.

A estreia é sempre difícil, como comprova o rosário de más atuações da primeira rodada da Copa, mas o Brasil enfrentou um time muito fraco e podia ter atuado melhor. Fica o bom resultado, o que não é pouco em meio a tantos empates.

Como detalhe curioso, chamou a atenção o casaco fashion de nosso treinador. Acostumados a uma pobre variação entre o abrigo e o terno, Dunga assustou a massa ignara ao trajar um casaco de Alexandre Herchcovitch na noite de ontem. Engana-se, pois, quem pensou que aqueles botões em formado de “Y” espelhado tinham a finalidade de lembrar nossos jogadores de algum desenho tático.

Brasil 2 x 1 Coreia do Norte

Local: Estádio Ellis Park, em Johannesburgo (África do Sul)

Árbitro: Viktor Kassai-HUN

Cartões amarelos: Ramires (Brasil)

Gols: Maicon aos 9’/2T e Elano aos 26’/2T (Brasil); Yum-Nam aos 43’/2T (Coreia do Norte)

Brasil: Júlio Cesar, Maicon, Lúcio, Juan e Michel Bastos; Felipe Melo (Ramires), Gilberto Silva, Elano (Daniel Alves) e Kaká (Nilmar); Robinho e Luís Fabiano.

Técnico: Dunga

Coreia do Norte: Ri Myong Guk; Pak Chol-Jin, Pak Nam-Chol e Ri Jul-Il; Cha-Jong Hyon, An Yong-Hak, Mun In-Guk (Kim Kum-Il), Ji Yun-Nam e Cha Jong-Hyok; Hong Yong-Jo e Jong Tae-Se.

Técnico: Kim-Jong Hun


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