Marco Weissheimer
|
16 de junho de 2014
|
15:32

Uma pausa na coluna e uma defesa da participação e da Reforma Política

Por
Sul 21
[email protected]
Uma pausa na coluna e uma defesa da participação e da Reforma Política
Uma pausa na coluna e uma defesa da participação e da Reforma Política
Não haverá uma Reforma Política que mereça esse nome sem que a população tome para si essa bandeira como uma condição para que outras mudanças ocorram na saúde, na educação, na segurança e em outras áreas.
Não haverá uma Reforma Política que mereça esse nome sem que a população tome para si essa bandeira como uma condição para que outras mudanças ocorram na saúde, na educação, na segurança e em outras áreas.

 Marco Weissheimer

Interrompo nesta segunda-feira a minha coluna no Sul21 para me lançar em outro desafio profissional. Espero poder voltar em breve para dar prosseguimento a esse difícil trabalho de construir um espaço de opinião no debate político. Neste período que aqui estive tentei fazer isso, privilegiando o debate de temas importantes para qualificar esse debate. Nem sempre estive à altura desse desafio, mas creio que foi possível subir alguns degraus. Foi, além de outras coisas, um aprendizado muito valioso, razão pela qual agradeço a direção e colegas do Sul21 e, sobretudo, leitores e leitoras, pela atenção e colaboração. Foram vários aprendizados, na verdade. Um dos mais importantes é a consciência da importância da construção de espaços de opinião qualificados que ajudem o público a formar sua opinião diante de avalanche de informações a qual somos submetidos diariamente.

Não é uma tarefa fácil, exigindo, entre outras coisas, uma boa dose de humildade e reconhecimento dos próprios limites, e uma grande dose de trabalho, leitura, continuidade e persistência. Se eu fosse apontar uma lição desse apontaria destacaria que um espaço como este é uma construção de médio e longo prazo e será tão mais qualificado quanto mais for resultado de um trabalho colunista. Por mais brilhante que seja um colunista, e eu não me incluiria nesta categoria de brilho, uma coluna regular de política – e imagino que de outras temas também – será mais informativa e instigante na medida em que consiga constituir uma rede de colaboração e debate. Não é tarefa fácil, repito, até porque a comunicação via internet vem estimulando um certo tipo de resposta imediata que, não raras vezes, sucumbe a variadas formas de maniqueísmo.

Mas, talvez, um dos principais desafios para quem escreve sobre política hoje seja combater o demencial e suicida processo de criminalização da política alimentado diariamente na sociedade, principalmente pelos meios de comunicação. Ele é demencial e suicida porque, no limite, leva à criminalização da própria democracia. Há na sociedade brasileira um movimento subterrâneo (ou nem tão subterrâneo assim) profundamente autoritário que, sob o manto de um discurso de indignação moral, mal consegue disfarçar seu desprezo pela política e pela democracia. Toda a política é jogada na vala comum da mentira e da inutilidade.

Ora, se é assim, para que eleição? Abandonemos a ideia de representação política, de participação da população no processo político. A única forma de enfrentar os problemas da mentira e da corrupção na política seria assim, dissolvendo a própria política. Nada de partidos, nada de candidatos, nada de debate, nada de eleição e, por conseguinte, de democracia.

Não custa lembrar que a história da democracia no Brasil é marcada por uma série de interrupções autoritárias, quando os políticos foram acusados de serem todos corruptos e incapazes de ajudar a resolver os problemas do país. Em todas essas interrupções, as eleições foram, primeiro desqualificadas, e depois suspensas. A mais recente delas ainda é muito recente para que seja esquecida. A nossa experiência histórica já nos ensinou que o caminho para resolver os problemas da política e da sociedade é mais democracia, e não menos. Se o desencanto com a política e os políticos pode servir para alguma coisa é nos ensinar que não há sistema democrático de qualidade se os cidadãos e cidadãs limitarem sua participação ao ato de votar.

Participar das eleições, manifestar sua indignação ou aprovação através do voto, é uma condição necessária, mas não suficiente para a democracia. Se é razoável definir a corrupção, por exemplo, como a apropriação do espaço público e do Estado por interesses privados, a forma de combatê-la é democratizar o espaço público e o Estado, o que exige uma participação mais ativa da cidadania, uma participação que não se esgota no ato de votar. Chama a atenção aí a gritaria editorial das grandes empresas de comunicação no Brasil contra a proposta do governo federal de incentivar a participação popular para fazer a nossa democracia avançar e não se limitar ao gesto de votar. Não haverá uma Reforma Política que mereça esse nome sem que a população tome para si essa bandeira como uma condição para que outras mudanças ocorram na saúde, na educação, na segurança e em outras áreas.

A grande mídia brasileira, ao mesmo tempo em que patrocina um incessante processo de criminalização da política, parece ter uma rejeição atávica à participação da população na política. Já foi assim no golpe de 64, com a adesão midiática ao golpismo, e segue se repetindo agora contra uma proposta genérica de valorização da participação social. Por tudo isso, é necessário um jornalismo político que abra espaço para outras vozes do que essas que promovem, quase que diariamente, a criminalização da política e a tutela da participação da população nesta mesma política. O Sul21 vem trabalhando diariamente também para construir esse espaço e já conquistou um importante espaço de credibilidade e respeito à diversidade de opinião. Nesta luta, cada centímetro conquistado deve ser defendido para poder ser ampliado. Esse é o desafio do presente.

Um até breve e obrigado pela leitura e atenção.

 


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora