Marco Weissheimer
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4 de junho de 2014
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22:48

Crianças com doenças de adultos: saiba por que isso está acontecendo

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Crianças com doenças de adultos: saiba por que isso está acontecendo
Crianças com doenças de adultos: saiba por que isso está acontecendo
Problema será debatido no próximo sábado, dia 7 de junho, das 8h às 18h, no seminário “A criança atual – a família, a escola e a mídia”, que ocorrerá no Salão de Atos da UFRGS.
Problema será debatido no próximo sábado, dia 7 de junho, das 8h às 18h, no seminário “A criança atual – a família, a escola e a mídia”, que ocorrerá no Salão de Atos da UFRGS.

Marco Weissheimer

O Núcleo Interdisciplinar de Prevenção de Doenças Crônicas na Infância, da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (Smed) promoveram uma pesquisa entre maio e novembro de 2013 com crianças de zero a seis anos matriculadas nas escolas de educação infantil da rede pública municipal da capital gaúcha. Ao todo, foram avaliadas 1.765 crianças da rede municipal, em escolas situadas em diferentes bairros da cidade. O objetivo da pesquisa é obter dados para qualificar a construção de políticas públicas para a prevenção das doenças crônicas não comunicáveis. Os resultados mostraram alguns dados preocupantes:

• Risco de sobrepeso, sobrepeso e obesidade em 38% das crianças de 0 a 2 anos, em 41% das de 2 a 5 anos e em 31% das de 5 a 6 anos. Não houve diferenças entre meninos e meninas.

• A pressão arterial foi medida em 359 crianças de 2 a 6 anos. Em 66% estava normal, em 12% apresentou pré-hipertensão arterial e em 22% os valores foram classificados como sendo hipertensão arterial.

Para a coordenadora da pesquisa, Noemia Perli Goldraich, nefrologista pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, esses números mostram que é urgente criar uma grande mobilização social para que a saúde das crianças realmente seja uma prioridade. “A situação é grave. Os dados que colhemos confirmam o anúncio da Organização Mundial de Saúde de que, pela primeira vez nos últimos dois séculos a expectativa de vida da atual geração de crianças é menor do que a de seus pais”, advertiu.

Noemia Goldraich destaca dois fatores que estariam contribuindo para isso: consumo de alimentos industrializados, com uma quantidade excessiva de sal, associado ao sobrepeso e obesidade das crianças. “No dia a dia, vamos flexibilizando na alimentação das crianças, tanto em casa quanto na escola. Hora se libera um salgadinho, outra hora o refrigerante, depois libera biscoito, etc.”, assinala, o que vai se traduzindo negativamente na qualidade da saúde.

Esse quadro será debatido no próximo sábado, dia 7 de junho, das 8h às 18h, no seminário “A criança atual – a família, a escola e a mídia”, que ocorrerá no Salão de Atos da UFRGS. Um dos painéis do encontro apresentará os resultados da pesquisa realizada pela UFRGS e pela Smed de Porto Alegre. O evento deve reunir cerca de 600 pessoas, entre educadores, profissionais da área da saúde, estudantes, pais e comunidade em geral.

O seminário está organizado em torno de dois eixos. Pela manhã, o foco será Criança e Consumo. A psicóloga Laís Fontenelle Pereira, do Instituto Alana de São Paulo, apresentará um painel sobre os riscos do consumo na infância, da publicidade dirigida ao público infantil, e os impactos e consequências dessa relação e o papel da educação. Ainda pela manhã, será abordado também o tema da amamentação e da necessidade o resgate da alimentação infantil.

Pela tarde, a discussão estará centrada no tema da alimentação saudável na escola e em casa. Neste contexto, Noemia Goldraich apresentará os resultados da pesquisa realizada com as crianças das escolas de educação infantil de Porto Alegre. A lei das cantinas e o Programa Nacional de Alimentação Escolar também serão temas de painéis no período da tarde.

Além dos debates, o evento terá também a apresentação das experiências premiadas na alimentação escolar dos municípios de Campo Bom, São Lourenço e Teotônia. O seminário envolvendo universidade e escolas está em sua terceira edição e é realizado pelo Núcleo Interdisciplinar de Prevenção de Doenças Crônicas na Infância da Pró-Reitoria de Extensão/ UFRGS com apoio do Canal Futura, Secretaria de Educação de Porto Alegre, Secretaria de Saúde do RS, Sinpro/RS, Silvestrin e Sindicreches.

A pesquisa realizada em Porto Alegre reafirma uma tendência encontrada em outros países também. Pela primeira vez na história, crianças estão apresentando sintomas de doenças de adultos, com problemas de coração, respiração, depressão e diabetes tipo dois. Os fatores causadores dessa epidemia têm nome e sobrenome bem definidos: indústria alimentícia, cadeias de fast-food, governos omissos, pais desinformados e agências de publicidade e meios de comunicação que faturam milhões vendendo drogas diariamente para crianças.

O problema afeta crianças de todas as classes sociais. A conexão entre a indústria alimentícia e a plataforma das indústrias midiática-publicitária-entretenimento é particularmente mortífera e poderosa. A maioria das iniciativas de alguns corajosos médicos e promotores no sentido de regulamentar e proibir determinado tipo de propaganda vem sendo sistemática e criminosamente boicotado pelos proprietários dessas empresas que não hesitam em levantar a bandeira da liberdade de expressão e da liberdade de escolha para defender a propaganda de seus produtos que vem envenenando milhões de crianças em todo o mundo.


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