Marco Weissheimer
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9 de abril de 2014
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17:13

Lula quer ofensiva na política e na comunicação e fim do silêncio

Por
Sul 21
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Lula quer ofensiva na política e na comunicação e fim do silêncio
Lula quer ofensiva na política e na comunicação e fim do silêncio
Lula "Nós temos que falar, a Dilma tem que falar, os ministros têm que falar. Temos que responder cada ataque, cada mentira propagada como verdade. Que informação esses jovens de 18 anos hoje têm sobre como era o Brasil quando começamos a governar?" (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
Lula “Nós temos que falar, a Dilma tem que falar, os ministros têm que falar. Temos que responder cada ataque, cada mentira propagada como verdade. Que informação esses jovens de 18 anos hoje têm sobre como era o Brasil quando começamos a governar?” (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Logo no início da entrevista coletiva para blogueiros que concedeu terça-feira, na sede do Instituto Lula, em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, indicou qual era um de seus principais objetivos ao promover a entrevista: afastar as especulações, boatos e desejos mais ou menos explicitados por alguns de que haveria a possibilidade de ele ser candidato à presidência da República nas eleições deste ano. Essa conversa retorna a cada queda que Dilma sofre em alguma pesquisa. No ano passado, isso já havia ocorrido logo após os protestos de junho. Nos bastidores da entrevista, um adepto da ideia da candidatura de Lula, fazia uma comparação com o mundo de futebol: o Lula não ser candidato é como um time de futebol ter o Messi e deixar ele no banco. Mas Lula não pensa assim. E é por isso que ele é o Lula, tido como um dos maiores quadros políticos no Brasil contemporâneo.

Para manter a metáfora futebolística citada anteriormente, às vezes a estrela do time pode estar à beira do gramado, na casamata. Ou, para usar uma metáfora um pouco mais antiga, do tempo em que as batalhas eram travadas por infantarias organizadas em formações impecáveis, as personagens decisivas estão em um terreno mais elevado, olhando para o terreno da batalha e para o movimento das peças. Foi mais ou menos isso que Lula fez ontem e anunciou para quem quisesse ouvir que ele está pronto para a guerra e vai guerrear por Dilma. Entre outras coisas, ele afirmou:

“O que incomoda demais a eles é que estou vivo e com muita vontade de brigar. E vou brigar pela Dilma. Estou motivado e disposto e não baixar a cabeça. Se você baixa a cabeça, eles colocam uma canga em cima.”

Para além destes anúncios relacionados à disputa eleitoral deste ano, Lula dedicou um bom tempo de suas respostas para tratar dos atuais problemas da política brasileira. Ele elegeu a Reforma Política como a mãe de todas as reformas, defendeu a necessidade de uma Constituinte Exclusiva para realizá-la e criticou uma certa hipocrisia reinante na sociedade que se considera muito superior ao nível da política praticada no Congresso Nacional. E lembrou uma frase do falecido Ulysses Guimarães que disse, certa vez, que toda vez que a sociedade votava para renovar o Congresso, acabava renovando para pior.

“Não sou da tese de que o Congresso é pior que a sociedade. Ele é o retrato do eleitor no dia da votação. Quem elege os parlamentares que estão lá é o voto popular. Então, cada eleitor tem sua dose de responsabilidade por quem elege”.

Lula apontou alguns problemas que, na opinião deles, provocam graves distorções no sistema parlamentar brasileiro. Um deles é o sistema de proporcionalidade dos Estados e do Distrito Federal na Câmara dos Deputados. Se cada cidadão ou cidadã valesse um voto, essa proporcionalidade seria muito diferente. Os maiores estados teriam uma representação proporcional ao tamanho de seu eleitorado. A igualdade de representação entre as unidades da Federação ficaria preservada no Senado.

Outro problema apontado por ele é a falta de partidos nacionais. Para Lula, o único partido de caráter nacional no Brasil é o PT. O PMDB, exemplificou, é uma federação de grupos regionais e os interesses destes grupos prevalecem sobre a direção nacional do partido. “No PMDB, nós temos o absurdo de estados onde o partido não votará no vice-presidente Michel Temer, que é do PMDB”, assinalou. E mesmo no PT, advertiu, já começa a aparecer esse fenômeno, onde interesses regionais querem se colocar acima de uma estratégia nacional do partido. “Temos que mudar a organização partidária brasileira”, defendeu.

Lula falou muito também do que considera ser uma campanha sistemática de desinformação e deformação promovida na imprensa. “Estamos sendo conduzidos por uma espantosa massa de informações deformadas que, aos poucos, vai fazendo a cabeça das pessoas. Tem dias que fico pensando que o país acabou. A percepção negativa é muito maior que o mundo real”. Sobre esse ponto, fez uma autocrítica em relação ao que poderia ter feito em seu governo, mas não fez, e lançou uma convocação para o governo e para o PT. Ele foi enfático a respeito:

“Precisamos ser agressivos na nossa política de comunicação. Perdemos um tempo precioso em ter levado adiante o debate sobre o marco regulatório da comunicação. Nós temos que falar, a Dilma tem que falar, os ministros têm que falar. Temos que responder cada ataque, cada mentira propagada como verdade. Que informação esses jovens de 18 anos hoje têm sobre como era o Brasil quando começamos a governar? A educação é ruim? Comparada com qual período? Vamos compará-la com 2002, para ver se melhorou ou piorou? Nós precisamos conversar com esses jovens o tempo todo, todos os dias”.

Bem no início da coletiva, Lula falou das dificuldades de ser ex-presidente e da atenção que precisa ter em não ficar dando palpite sobre como o governo deve se comportar. “É preciso, ao sair da presidência, saber ser ex-presidente e não ficar dando palpite”, resumiu. Fiel a esse compromisso, o ex-presidente não deu palpites sobre como Dilma deve governar, mas reiterou uma mesma orientação para enfrentar a disputa política deste ano: é preciso falar, responder os ataques, ficar de cabeça erguida, não silenciar nem se recusar ao debate. E prometeu fazer isso. Nem precisaria, pois já é o que ele faz um pouco todos os dias.

Lula acredita profundamente na política como o único instrumento para melhorar a qualidade da nossa democracia. E para fazer política é preciso, antes de mais nada, falar. Falar com os aliados e também os adversários. “Na política vale-tudo, o que não vale é negar a política, pois o que vem depois é pior”, concluiu citando o que aconteceu no Egito recentemente como caso paradigmático disso.


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