Marco Weissheimer
|
26 de março de 2014
|
20:36

Raul Pont manifesta indignação por entrevista com coronel torturador

Por
Sul 21
[email protected]
Raul Pont sobre o coronel Ustra: “Esse cidadão não só foi o responsável pelo pior e mais sanguinário centro de repressão do Brasil durante o período Médici como, ao contrário do que ele diz no jornal, participava dos interrogatórios e participava também das sessões de tortura".
Raul Pont sobre o coronel Ustra: “Esse cidadão não só foi o responsável pelo pior e mais sanguinário centro de repressão do Brasil durante o período Médici como, ao contrário do que ele diz no jornal, participava dos interrogatórios e participava também das sessões de tortura”. (Foto: Pedro Belo Garcia/AL-RS)

O deputado estadual Raul Pont (PT) manifestou sua indignação nesta quarta-feira (26), durante o Grande Expediente da Assembleia Legislativa, pela publicação de uma  entrevista de quatro páginas com o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, na edição do último domingo do jornal Zero Hora. Pont falou como ex-preso político, capturado, preso e torturado pela Operação Bandeirantes, em São Paulo, comandada pelo próprio Ustra. Ele criticou a maneira como a entrevista foi apresentada ao público:

“De uma maneira preocupante, sem questionamento das flagrantes contradições das declarações pela jornalista, ou pelo jornal, ou por quem fez a entrevista”. E informou que recebeu relatos de outras pessoas que encaminharam sua contrariedade ao jornal, pedindo a retratação pelo modo como a entrevista foi publicada.

Raul Pont lembrou que, dias antes de ser preso em São Paulo, o jornalista Luis Eduardo Merlino foi morto em sessão de tortura. Na época, lembrou, os jornais noticiaram que o jornalista teria sido vítima de atropelamento, versão passada pela Operação Bandeirantes aos veículos de comunicação. O deputado levou para o plenário uma edição de 1978 do jornal Em Tempo, que publicou uma matéria que apontava o nome de 233 torturadores, levantamento realizado junto às famílias das vítimas. O primeiro da lista era o então major Carlos Alberto Ustra.

“Era o único (jornal) que nos restava. Um contraponto a uma mídia totalmente cúmplice, totalmente subjugada, subordinada ao oficialismo que a ditadura impunha a todos os meios de comunicação.” A resposta do governo ditatorial, contou Raul Pont, foi recolher os exemplares de número 14 do periódico, invadindo a sede em São Paulo e a sucursal de Porto Alegre. As denúncias sobre os torturadores, é claro, nunca foram investigadas. Sobre Ustra, Raul Pont disse:

“Esse cidadão não só foi o responsável pelo pior e mais sanguinário centro de repressão do Brasil durante o período Médici como, ao contrário do que ele diz no jornal, participava dos interrogatórios e participava também das sessões de tortura. Estou afirmando isso e me proponho a ser testemunha em qualquer espaço judicial ou em qualquer espaço para reafirmar isso.” (Clique aqui para ouvir a íntegra do pronunciamento de Raul Pont no Grande Expediente desta quarta)

Coronel Ustra comandou Operações Bandeirantes, em São Paulo.
Coronel Ustra comandou Operações Bandeirantes, em São Paulo.

 MP Federal quer manter punição a Ustra

Em fevereiro deste ano, o Ministério Público Federal em São Paulo solicitou que o Tribunal Regional Federal da 3ª Região reverta a decisão da Justiça Federal em São Paulo, que impede a punição de Carlos Alberto Brilhante Ustra e Alcides Singillo por considerar prescrito o crime de ocultação de cadáver do estudante de medicina Hirohaki Torigoe, morto no dia 5 de janeiro de 1972.

O coronel Ustra, comandante do Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi) de São Paulo, no período de 1970 a 1974, e o delegado aposentado Alcides Singillo, que atuou no Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops-SP), foram denunciados pelo MPF em abril do ano passado e obtiveram, em maio, parecer favorável da juíza Federal titular da 5ª Vara Criminal, Adriana Freisleben de Zanetti.

Para ela, trata-se de um crime permanente. Porém, em janeiro deste ano, o juiz Federal Fernando Américo de Figueiredo Porto, substituto da 5ª Vara Federal Criminal em São Paulo, declarou extinta a punibilidade dos réus. Para o magistrado, o crime de ocultação de cadáver seria instantâneo de efeitos permanentes, e não crime permanente, como defendido pelo Ministério Público. O MPF sustenta que se trata, sim, de um crime permanente ”pois a conduta dos acusados foi prevista na parte final do Artigo 211 do Código Penal, ou seja, a ocultação do corpo ou parte dele. Por isso, a conduta dos réus e seus efeitos se prorrogam no tempo, de maneira contínua”, argumenta.

Governo do Estado promove Semana da Democracia

Entre os palestrantes estão confirmados os nomes da uruguaia Lílian Celiberti, sequestrada com seus dois filhos em 1978 durante a Operação Condor, da argentina Estela de Carlotto, presidenta da Associação das Avós da Praça de Maio, e do diretor do Museu da Memória do Chile, Ricardo Brodski. (Divulgação)
Entre os palestrantes estão confirmados os nomes da uruguaia Lílian Celiberti, sequestrada com seus dois filhos em 1978 durante a Operação Condor, da argentina Estela de Carlotto, presidenta da Associação das Avós da Praça de Maio, e do diretor do Museu da Memória do Chile, Ricardo Brodski. (Divulgação)

O Governo do Estado promove, de 1º a 5 de abril, no Memorial do Rio Grande do Sul (Praça da Alfândega), a  Semana da Democracia, para marcar a passagem dos 50 anos do golpe civil-militar que derrubou o governo de João Goulart. Além dos debates, ocorrerá a inauguração do Museu dos Direitos Humanos do Mercosul, no mesmo local onde hoje está o Memorial. Familiares de desaparecidos, ativistas de direitos humanos, historiadores, jornalistas, sociólogos, advogados, diretores de centros de memória da América Latina, artistas plásticos, músicos e integrantes da Comissão de Mortos e Desaparecidos integram a lista de mais de 30 debatedores do evento.

A programação está disponível no hotsite http://nuncadesapareca.com.br, onde também é possível usar um aplicativo para converter uma imagem própria semelhante aos cartazes das pessoas desaparecidas durante o regime.

Entre os palestrantes estão confirmados os nomes da uruguaia Lílian Celiberti, sequestrada com seus dois filhos em 1978 durante a Operação Condor, da argentina Estela de Carlotto, presidenta da Associação das Avós da Praça de Maio, e do diretor do Museu da Memória do Chile, Ricardo Brodski. Também está confirmada a participação do jurista espanhol Baltasar Garzón, que determinou a prisão do ex-presidente chileno Augusto Pinochet, e João Clemente Baena Soares, presidente do Comitê Interamericano de Direitos Humanos.

Entre os brasileiros convidados estão os jornalistas Franklin Martins e Juremir Machado da Silva; o senador Pedro Simon, integrante do Movimento Democrático Brasileiro, e ainda o músico Nei Lisboa, que teve o irmão assassinado pelos militares.

Participarão do painel intitulado “Descomemoração do golpe civil-militar de 1964”, Flávio Koutzii, ex-deputado e ex-chefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul, durante o governo Olívio Dutra, e Hamilton Pereira da Silva, atual Secretário da Cultura de Brasília.
Participarão do painel intitulado “Descomemoração do golpe civil-militar de 1964”, Flávio Koutzii, ex-deputado e ex-chefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul, durante o governo Olívio Dutra, e Hamilton Pereira da Silva, atual Secretário da Cultura de Brasília.

 Descomemoração do golpe civil-militar de 1964

A bancada do PT na Assembleia Legislativa promoverá no dia 3 de abril um debate sobre o golpe civil-militar de 1964. Participarão do painel intitulado “Descomemoração do golpe civil-militar de 1964”, Flávio Koutzii, ex-deputado e ex-chefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul, durante o governo Olívio Dutra, e Hamilton Pereira da Silva, atual Secretário da Cultura de Brasília, fundador e ex-integrante da executiva nacional do PT, ambos exilados pela ditadura de 64. O debate inicia às 19 horas, no Plenarinho da Assembleia gaúcha.

Segundo a organização do evento, Hamilton e Koutzii falarão sobre o quadro estratégico nacional e mundial dos anos 60 do século 20, a geopolítica da guerra fria, a suposta ameaça cubana na América Latina, a situação particular do Brasil dos anos 60, e as Reformas de Base do governo João Goulart. Os dois participaram diretamente da luta contra a ditadura, no Brasil e na Argentina (no caso de Koutzii), foram presos, torturados, exilados; retornaram ao país, e militaram na construção do PT.

Durante o evento também ocorrerá o lançamento da revista Perseu, com uma edição especial sobre 1964, e da reedição dos livros “Combate nas Trevas” (1987), de Jacob Gorender, e “Pau de Arara” (1971), de Bernardo Kucinski e Ítalo Tronca.


Leia também