Marco Weissheimer
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17 de março de 2014
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14:45

Celso Bernardi: Simon não denunciou ditadura quando recebeu apoio e votos do PP

Por
Sul 21
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Celso Bernardi: Simon não denunciou ditadura quando recebeu apoio e votos do PP
Celso Bernardi: Simon não denunciou ditadura quando recebeu apoio e votos do PP
Ana Amelia Simon500
Pedro Simon a Ana Amélia sempre tiveram boas relações. Cordialidade deve ser suspensa durante a campanha eleitoral. PP quer blindar senadora do debate em torno dos 50 anos do golpe de 64 que derrubou o presidente João Goulart e implantou uma ditadura no Brasil. (Foto: Blog do Deputado Frederico Antunes)

O Partido Progressista do Rio Grande do Sul (PP/RS) divulgou nota oficial, assinada pelo presidente da sigla no Estado, Celso Bernardi, repudiando as críticas feitas pelo senador Pedro Simon (PMDB) à senadora Ana Amélia Lemos, pré-candidata do partido ao governo do Estado nas eleições deste ano. No sábado, durante a pré-convenção do PMDB, realizada na Assembleia Legislativa, Simon lembrou as ligações do partido e da senadora com a ditadura civil-militar imposta ao país pelo golpe que derrubou o governo constitucional de João Goulart: “O PP teve de ir buscar na RBS uma senhora que vive em Brasília há 20 anos e que acompanhava a mais alta estirpe da corte do regime militar. Descobriram essa jornalista lá. Se a Ana Amélia não quiser concorrer, quem o PP vai indicar? Aquele senhor que fez declarações preconceituosas?” – disparou.

O senhor em questão é o deputado federal Luiz Carlos Heinze, que virou notícia nacional ao incluir, durante discurso em uma audiência pública no interior do Rio Grande do Sul, quilombolas, gays, lésbicas e índios na categoria de “tudo que não presta”.

“Oportunismo e ingratidão”

A nota assinada por Celso Bernardi qualifica as declarações de Simon como uma “agressão gratuita e injusta” à senadora Ana Amélia Lemos e manifesta “tristeza e decepção com essa atitude que apequena a política gaúcha”. “É estranho e lamentável que o senador Simon tendo tantas outras preocupações com o seu mandato, resolva atacar a sua atual colega”, diz ainda a nota, que chama o senador do PMDB e oportunista e ingrato:

“O senador, até para justificar suas três décadas de mandato, tem o direito de falar do passado, desde que não seja oportunista e ingrato, desconhecendo a verdade e os fatos, como por exemplo, que em 1998 ele foi o candidato oficial apoiado pelo PP e, portanto, eleito senador também com os votos dos progressistas. Esquece, também, que o Partido Progressista apoiou, no segundo turno, os candidatos a governador do seu PMDB, ajudando a elegê-los em duas eleições (1994/2002). Ao que se sabe o senador Simon, tão crítico hoje, não fez nenhuma objeção ao apoio e nem recusou os votos que recebeu dos progressistas. Não reconhecer isso, além de injusto, mostra sua incoerência, pois passa a ideia de que o PP gaúcho só é bom quando lhe serve e lhe dá votos. Aliás, a mesma opinião oportunista ele faz em relação à imprensa, julgando-a boa só quando fala bem dele”.

A nota assinala ainda que PP e PMDB estão coligados no Rio Grande do Sul em mais de cem municípios e afirma que, “independente desse episódio, reafirmamos nosso compromisso de diálogo com o PMDB e de um protagonismo respeitoso nas eleições de 2014”.

Na verdade, Pedro Simon e Ana Amélia Lemos sempre cultivaram boas relações. Em uma audiência pública sobre a Reforma Política realizada na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, em junho de 2011, Simon teceu muitos elogios à senadora dizendo que “tem muita gente que já fala na Ana Amélia para 2014. O slogan dela é: Uma mulher para governadora. Esta é gaúcha”. Conforme noticiou o Correio do Povo na época, Simon teria acrescentado: “Daqui a um tempo estarei aqui de novo com vocês torcendo por ela”.

Em dezembro de 2010, Simon saudou com entusiasmo, no plenário do Senado, a eleição de Ana Amélia: “De todas as pessoas que largaram a vida na imprensa, no rádio e na televisão é difícil encontrar alguém com tanto preparo, tanta capacidade, tanta integridade, tanta competência. É uma grande jornalista”.

Lasier Martins x Ana Amélia Lemos

A troca de farpas entre lideranças do PMDB e PP antecipa a disputa que deve se materializar na campanha eleitoral desse ano no Rio Grande do Sul. Ela não é a primeira envolvendo o PP, a senadora Ana Amélia Lemos e suas relações políticas com o período da ditadura. O PMDB e o PDT já sinalizaram que baterão nesta tecla. Na convenção estadual do PDT, realizada em dezembro de 2013, o candidato do partido ao Senado, o jornalista Lasier Martins, que durante muitos anos trabalhou com Ana Amélia Lemos na RBS, alfinetou a ex-colega:

“Precisamos trabalhar muito a partir de agora, porque os adversários são respeitáveis, mas como disse o Vieira, o partido que está ponteando as pesquisas [o PP, de Ana Amélia], é um partido identificado com a Arena, o partido que apoiou a ditadura militar, que prendeu, torturou, matou os trabalhistas”.

O pré-candidato do PDT ao governo do Estado, deputado federal Viera da Cunha atacou na mesma linha:

“Enquanto a nossa adversária, no 1º. de abril ,provavelmente se esconderá para debaixo da mesa, envergonhada, porque ela é do PP, da Arena, da ditadura. Nós estaremos celebrando aqueles que lutaram bravamente. Certamente ela estará envergonhada e isso nos diferencia, isso nos faz diferentes nessa batalha que vem por aí”.

O PP e os 50 anos do golpe de 64

Repetindo a estratégia montada para lidar com o caso do deputado federal Luiz Carlos Heinze, o PP vem tentando isolar a senadora nestes episódios, evitando que ela responda diretamente às críticas que vêm recebendo sobre suas relações políticas com o período da ditadura. Não será muito fácil manter esse estratégia por ocasião dos diversos atos e debates que estão sendo marcados para lembrar os 50 anos do golpe de 64. O PP tem posição e história em relação a esses temas e em nenhum momento renegou a sua herança política arenista. Pelo contrário, integrantes do partido até hoje defendem o golpe como uma necessidade da época para “livrar o Brasil do comunismo”. A candidata do partido, afinal de contas, tem alguma posição a respeito?


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