Em São Vicente do Sul, Lula critica EAD e defende federalização do Ensino Médio 

Por
Sul 21
[email protected]
Lula visitou Instituto Federal Farroupilha, em São Vicente do Sul. (Foto: Ricardo Stuckert)

Luís Eduardo Gomes

Em São Vicente do Sul, a primeira parada desta quarta-feira (21) de sua caravana pelo Rio Grande do Sul, Lula fez um discurso em defesa de investimentos em educação para estudantes no campus local do Instituto Federal Farroupilha.

Do lado de fora, mais uma vez a caravana foi recebida com protesto. Um grupo de algumas dezenas de pessoas, grande parte identificada com camisetas ou adesivos de Jair Bolsonaro e acompanhados de um caminhão de som e outros veículos, como tratores, cantava palavra de ordens contra o ex-presidente, mas tinham o acesso ao IF Farroupilha isolada pela Brigada Militar. Dentro, Lula, Dilma e os demais membros da caravana foram recebidos no auditório da instituição por estudantes e pela reitora, Carla Jardim, que entregou a eles placas com uma moção de agradecimento pelos investimentos feitos em educação e no campus.

Primeira a falar, Dilma destacou que, nos governos federais petistas, os investimentos em educação sempre cresceram acima da inflação e do aumento da receita corrente líquida. “Eu acho que a característica principal do nosso governo, em termos de educação, era saber que ela era de fato o nosso passaporte para ser uma nação rica, mas não rica como o mercado diz, uma nação rica em oportunidades iguais, instrumento de combate às desigualdades e para o desenvolvimento científico do Brasil”, disse Dilma.

Ela disse, porém, que era preciso ter investido muito mais em educação e que não se pode esperar resultados na área sem recursos, argumentando que foi por isso que buscou destinar a ela 75% do fundo soberano dos royalties do pré-sal. “Tem uma conversa que diz que dá para fazer mais com menos em educação. É mentira, não dá para fazer o milagre da distribuição do pão para promover educação de qualidade. Um país que tem 200 milhões de habitantes tem que investir pesado na qualificação do ensino”, disse.

Entre um ex-presidente e outro, o estudante João Marcelo subiu ao palco com um violão e assumiu um microfone para cantar “Querência Amada”, música que posteriormente Lula disse que sempre pediu para tocar em suas visitas ao RS.

Foto: Ricardo Stuckert

Investimento, não gasto

Assim como havia ocorrido nos atos públicos em Bagé e Santa Maria, Lula mais uma vez voltou a ironizar os protestos contra a caravana, especialmente vindo de ruralistas, mas dessa vez focou a maior parte de sua fala no tema da educação. Ele aproveitou a oportunidade para criticar a proposta que está sendo avaliado pelo governo de Temer de autorizar que até 40% das aulas do Ensino Médio sejam ministradas na modalidade Ensino à Distância (EAD), o que, para ele, significa mias um passo para a privatização do ensino. “Eu quero dizer que, se nós voltarmos, vamos federalizar o Ensino Médio nesse País”.

Por outro lado, afirmou que, desde a sua primeira reunião ministerial, em 2003, havia “proibido” que fosse utilizada a expressão “gasto em educação”, devendo, em vez disso, sempre tratar a questão como investimento. “Eu não acredito que nenhum País do mundo pode se desenvolver sem investimento em educação, que é o investimento mais barato e mais promissor, porque ele nunca se perde. Com a educação, o País tem mais capacidade de se desenvolver”, disse.

Lula disse que os governos petistas construíram mais institutos federais, entre eles o IF Farroupilha, e escolas técnicas do que todos seus antecessores porque estes seguiriam um pensamento da elite brasileira, a qual, segundo Lula, mandava seus filhos estudar na Europa e os filhos dos pobres trabalhar. “Vocês precisam saber que o Brasil foi o último país da América Latina a ter universidade. Colombo chegou a Santo Domingo em 1492 e Santo Domingo já tinha universidade em 1538. O Peru teve em 1550. Bolívia, Paraguai, Colômbia, todos tiveram antes. A Argentina, em 1918, já tinha feito sua reforma universitária. Por que o Brasil não acreditou na educação? Porque a nossa política econômica é perversa”, disse para os estudantes. “Por que no Brasil tudo chega atrasado? A gente tem que se perguntar quanto custou ao Brasil não fazer as coisas na hora certa. Quanto custou para o Brasil não fazer a reforma agrária depois da Segunda Guerra, como todos fizeram? Quanto custou não educarmos os nossos jovens nos anos 60?”

O ex-presidente também salientou que, mesmo tendo parado de estudar na quarta série e ter buscado uma profissão ao se formar torneiro mecânico, ele tinha melhores condições de emprego em sua época do que os jovens que estão cursando o Ensino Médio e Superior no IFF. “O mercado de trabalho hoje é precarizado, vocês vão ter que conviver com o trabalho intermitente”, disse, para na sequência afirmar que, se voltar ao poder, irá propor referendo revogatório ou uma nova constituinte para revogar as reformas feitas pelo governo Temer.

Críticas ao EAD

O tema da possibilidade de aulas de Ensino Médio serem ministradas via EAD já tinha sido abordado por outros petistas que participam da caravana. O deputado federal Henrique Fontana considerou esta possibilidade como a precarização do sistema educacional do País. “É evidente que educação à distância tem um papel no processo educacional, mas não para ser massificada desta forma e para substituir progressivamente a educação presencial. O convívio dentro ambiente educacional, dentro das escolas, assim como dentro das universidade, é muito importante no processo de formação. Então, eu avalio muito negativamente e infelizmente é mais um dos passos de desmonte e precarização que estão ocorrendo no país”, disse.

Já a deputada federal Maria do Rosário avaliou que a proposta expressa que a principal preocupação do governo federal em termos de educação é para cortar custos e que as políticas que vêm introduzindo na área, mais notadamente a Reforma do Ensino Médio, não foram discutidas com especialistas em ensino e pedagogos. “O aluno que é trabalhador precisa ser incentivado. É preciso ter medidas que não façam com que o currículo seja o mesmo defasado, não atrativo. É preciso compreender também o aluno que nem todos os dias conseguirá ir a escola, é preciso compreender que ele é trabalhador, vive dificuldades, é preciso incentivar a educação de jovens e adultos para aqueles que estão fora da idade. Mas, simplesmente adotar o EAD, se for sem critério de idade, é terrível. Para os mais velhos, isso pode ser uma possibilidade. Para aqueles que estão em defasagem idade/série. Mas aí eu incentivaria ainda o EJA, a educação de jovens e adultos, como comunidade, com a presença na escola, e com o complemento à distância que é totalmente possível. Mas simplesmente adotar um modelo universitário de EAD não me parece uma boa solução pedagógica para o Ensino Médio”, disse Rosário.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora