Economia
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8 de julho de 2021
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19:23

Live do Sul21: disparada nos preços e inação do governo diante da inflação

Por
Sul 21
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Christian Velloso Kuhn (direita e acima) e Flavio Fligenspan (esquerda e abaixo) foram os convidados desta semana na Live do Sul21  | Foto: Reprodução
Christian Velloso Kuhn (direita e acima) e Flavio Fligenspan (esquerda e abaixo) foram os convidados desta semana na Live do Sul21 | Foto: Reprodução

A gasolina chegou a R$ 6, o gás de cozinha passou de R$ 100, a bandeira vermelha da energia elétrica subiu 52%, a carne disparou, assim como outros alimentos. A Live do Sul21, realizada na tarde desta quinta-feira (8), debateu a alta generalizada dos preços e o impacto da variação nos preços no bolso do consumidor.

Para debater o assunto, os repórteres Luís Eduardo Gomes e Luciano Velleda receberam os economistas Flavio Fligenspan, professor do Departamento de Economia e de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Christian Velloso Kuhn, professor do Instituto Profecom e colunista de economia do We Coletivo.

Na abertura do programa, o professor Flavio Fligenspan destacou que vários movimentos da economia nacional e internacional levam ao aumento dos preços neste momento, mas ressaltou que o aumento da demanda, um dos fatores clássicos para a alta da inflação, não está entre eles.

“Não é uma economia super aquecida, não é com muita gente saindo para a rua para comprar e isso fazendo pressão sobre os preços. Não é nada disso, é uma pressão que vem por outro lado, que não a demanda. Basicamente, vem por vários aspectos do lado da oferta da economia brasileira e internacional”, disse.

Diante deste cenário, pontuou que o sistema de metas de inflação adotado pelo governo brasileiro há décadas só tem um instrumento para o controle da inflação, o aumento da taxa de juros.

“Só que aumentar os juros é para conter demanda. Então, sempre tem por trás do sistema de metas um diagnóstico de inflação de demanda. Aumenta os juros, as empresas se retraem, as famílias se retraem, a demanda se retrai e isso levaria a redução dos preços. Bom, mas quando nós não temos uma inflação de demanda. temos um baita problema na mão, porque o sistema manda aumentar os juros e temos uma economia frágil. Ao aumentar os juros, fragilizamos ainda mais o que está frágil”, afirmou.

Por sua vez, o professor Christian Velloso Kuhn destacou também que houve uma mudança de hábitos dos consumidores na pandemia, especialmente quando os índices de isolamento social estavam mais altos, também influenciam na alta da inflação.

“A alimentação em restaurantes diminuiu e a gente teve um aumentou a demanda por vários itens [consumidos em casa], como a alimentação. Por isso, os preços de supermercados começaram a sofrer variação desde o ano passado. A própria aumento da demanda da energia residencial, internet, teve uma mudança de hábitos. Isso teve reflexo em alguns preços e, claro, aquilo que se teve uma procura menor acabou tendo uma variação negativa”, disse.

Kuhn pontuou que, no ano passado, a alta dos preços foi mitigada pelo auxílio emergencial de R$ 600, mas com a suspensão do benefício e a posterior retomada em valores menores, as camadas mais baixas estão sofrendo mais com a variação de preços neste ano.

“A gente está numa crise significativa. A gente tem um cenário de desemprego alto, que vem desde antes da pandemia, a renda também sofreu bastante com isso, principalmente a massa salarial, então a gente não tem muito espaço para aumento da demanda e por isso a inflação de demanda não tem espaço para acontecer nesse ambiente. Só que o que está acontecendo é que o custo de vida está aumentando muito, principalmente para as famílias de baixa renda. Então, acho que esse é o grande drama que estamos enfrentando esse ano”, complementou.

A respeito das perspectivas de curto e médio prazo para a variação dos preços, o professor Flavio Fligenspan apontou que o dado mais recente, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (8), indica que a inflação medida pelo IPCA para os últimos 12 meses está acumulada em 8,35%.

“É um índice muito alto, muito além do que os analistas de conjuntura projetavam nos meses anteriores ou no início do ano. Todo mundo sabia que, até a metade desse ano, a inflação ia subir, mas imaginava-se que não chegaria nesse ponto, pensava-se em algo em torno de 6% e que, durante o segundo semestre, ela tenderia a baixar. Fomos longe demais. A expectativa agora para o final do ano, dos mesmos analistas que já erraram, é de que nós vamos, sim, continuar aquele movimento de baixo. É razoável apostar numa baixa no segunda semestre e que a gente chegue no final do ano com algo perto de 6% de inflação”, disse. “De qualquer maneira, se fechar em 6%, é muito ruim. É melhor que 8 e pouco, mas é muito ruim. Por quê? Porque numa economia desaquecida, como desemprego em alta, uma inflação de 6% significa que a possibilidade dos trabalhadores terem aumento de remuneração ou terem reajustes de acordo com a inflação é muito pequena. A pressão está toda do outro lado, com muita gente querendo trabalhar e o desemprego em alta”, complementou.

Ao longo da conversa, Fligenspan e Christian Kuhn exploram com mais profundidade as causas da inflação, os fatores específicos para o aumento da energia e combustíveis, abordam os impactos nos salários dos trabalhadores e os instrumentos que o governo teria para amenizar os efeitos da variação dos preços. Confira a íntegra da Live do Sul21 desta quinta abaixo:


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