Coronavírus
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30 de junho de 2021
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19:20

Live do Sul21: ‘Não faz sentido escolher vacina’, diz biomédica

Por
Sul 21
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Mellanie Fontes-Dutra foi a convidada desta quarta da Live do Sul21 | Foto: Reprodução
Mellanie Fontes-Dutra foi a convidada desta quarta da Live do Sul21 | Foto: Reprodução

O Rio Grande do Sul superou recentemente a marca de 50% da população acima de 18 anos vacinada contra a covid-19. Para conversar sobre o andamento da vacinação no Estado e o cenário da pandemia nos próximos meses, os repórteres Luís Eduardo Gomes e Luciano Velleda receberam na Live do Sul21, realizada na tarde desta quarta-feira (3), a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, da Rede Análise Covid.

Um dos principais temas abordados na conversa foi a “escolha” pela vacina e as consequências das pessoas evitarem imunizantes disponíveis quando inicia a vacinação de suas faixas etárias ou grupos prioritários na expectativa da chegada de uma vacina mais eficaz no futuro. Mellanie explicou durante a Live do Sul21 que esta prática é prejudicial não só para os indivíduos, como também para a sociedade, uma vez que ao preferir um imunizante que não está disponível no momento, uma pessoa contribui para a desaceleração da vacinação.

“A gente tem que entender que, hoje, o nosso principal objetivo é vacinar o máximo de pessoas o mais rápido possível. Porque, mesmo se alguma pessoa tiver recebido uma vacina que possa induzir uma proteção um pouco menor ou um pouco maior em relação a outra, a nível individual isso é uma coisa, a nível coletivo é outra completamente diferente. A proteção do coletivo é muito amplificada se você tem uma população-alvo inteira imunizada ou 80%, 85% imunizada. Então, mesmo aquelas pessoas que acabaram tomando um imunizante que elas consideram que não seja tão protetor como outro imunizante, todas elas vão estar muito bem protegidas nesse contexto, porque a gente chegou nesse momento onde tem tanta gente imunizada que uma barreira imunológica é formada, por assim dizer, fazendo com que essa população inteira esteja protegida, especialmente os ainda suscetíveis”, diz

Mellanie argumenta que não se deve comparar os valores de eficácia entre as vacinas, porque isso não indica que uma protege mais do que a outra, mas leva em conta o risco provocado pela doença quando comparadas populações vacinadas e não vacinadas. “Não quer dizer que a proteção individual não é boa, ela é boa, isso a gente vê pela resposta imunológica que a vacina desencadeia. Agora, a nível populacional, algumas vacinas podem requerer mais pessoas imunizadas para haver essa proteção coletiva, enquanto outras eu posso ter um pouco menos de população e também chegar nessa proteção. É assim que a gente tem que entender o dado de eficácia”, diz.

A biomédica explica que, para comparar a eficácia de uma vacina A e outra B, é preciso estudar os efeitos da aplicação delas em uma mesma população durante o mesmo período de tempo, o que, segundo ela, foi feito recentemente no Reino Unido com os imunizantes da AstraZeneca e da Pfizer. Ela destaca que, apesar de a vacina da Astrazeneca ter uma eficácia próxima de 80% e o imunizante da Pfizer ter eficácia perto de 95%, ambas tiveram benefícios iguais para a mesma população.

“Mesmo tendo eficácias diferentes, naquela população imunizada, ambas promoveram benefícios similares. Então, mais uma vez, eu ressalto que não devemos usar eficácia para dizer que uma vacina é melhor que a outra, porque existem muitos outros benefícios que todas essas vacinas promovem, especialmente juntas, que vão nos fazer chegar muito mais rapidamente nessa imunização coletiva, que é onde a gente quer chegar, do que se eu estivesse vacinando todo mundo só com uma vacina. Se eu tenho mais imunizantes disponíveis, eu consigo cortar muito esse tempo e caminhar mais rápido para isso. Então, hoje, não faz sentido escolherem vacina. O que a gente tem que fazer é vacinar com aquela que vai chegar mais rápido para a gente chegar nesse ponto”, afirma.

Outra tema debatido na conversa foi a chamada variante Delta, antes chamada B.1.617.2. Desenvolvida na Índia, a variante tem se tornado rapidamente a de maior presença no mundo, fazendo com que governos de países em que a pandemia já estava mais controlada, como Israel, voltassem a ligar o sinal de alerta. Mellanie diz que já não é mais possível impedir a chegada da variante Delta ao Rio Grande do Sul, porque já há registros de incidência dela, mas pontua que ainda não se vê uma grande presença no Estado.

“É muito difícil ela não estar circulando aqui sabendo que está circulando em outros estados do País e sabendo que as pessoas eventualmente viajam de um lugar para outro e podem se infectar”, diz, destacando que ao RS faz fronteiras com países em que a variante já circula de forma acentuada, como é o caso da Argentina. “A nossa maior preocupação nesse momento, sabendo que a variante está no Brasil, nós não podemos permitir que essa transmissão seja acelerada e não podemos permitir que a Delta encontre um cenário favorável para se transmitir ainda mais. Ela tem um aumento de transmissão importante, ela supera inclusive a Alfa [B.1.1.7] em transmissibilidade, que já era uma variante bem transmissível, e tem se tornado uma variante de dominância global. Ou seja, ela tem se espalhado muito rapidamente pelo mundo”.

Mellanie explica que para conter o avanço da variante Delta é preciso reforçar as medidas de enfrentamento tradicionais à covid-19, como o uso de máscara e evitar aglomerações, mas ressalta que é essencial que as pessoas completem o esquema de imunização com a segunda dose, uma vez que pesquisas apontam que a proteção contra a variante só se torna segura com a segunda dose. Por outro lado, ela ressalta que é preciso ter muita atenção com os riscos da variante pelo risco de ela ser mais transmissível que a P1, que promoveu a onda de casos que assolou o Brasil entre fevereiro e abril.

“Olha o número de pessoas que ainda não tomaram a segunda dose [apenas 21% da população acima de 18 anos já completou o esquema vacinal no RS, segundo dados do governo]. A gente tem muita gente com uma dose ou ainda para receber a primeira, então tem muita gente que pode estar suscetível a essa variante. Se ela encontrar um cenário favorável para se transmitir, onde as pessoas estão aglomerando, não estão nem aí para a questão da máscara, a gente pode ter uma transmissão preocupante, muito mais preocupante do que a última onda que nós vimos, que já foi muito assustadora. Por quê? Porque a gente reduziu daquela onda, mas permanecemos num patamar elevado. A gente tinha que ter reduzido ainda mais, mas acabamos estabilizando. Temos que lembrar que, se voltar a subir, é desse patamar elevado. Então, a variante tem o potencial de deixar a nossa situação muito complexa ainda”, afirmou.

Por outro lado, ressaltou que também há um potencial grande para evitar que a variante se torne dominante, que é justamente adotar as medidas de enfrentamento e acelerar a vacinação. Ao final, a biomédica ponderou que é possível que a pandemia já esteja mais controlada no Brasil no final do ano, desde que os cuidados sejam tomados e a vacinação seja acelerada.

“A gente está perto de chegar num lugar aonde a gente quer chegar. Temos a faca e o queijo na mão para ter um Natal mais diferente esse ano, um Natal um pouco mais próximo e mais seguro. Só que a gente tem que construir esse caminho até lá e esse caminho é construído a partir de agora. Para a gente chegar lá, a gente precisa, hoje, seguir se cuidando, usando máscara, mesmo em ambientes abertos, fazendo distanciamento, evitando aglomeração e vacinando com a vacinar que estiver disponível. Se a vacina está disponível no posto, ela é eficaz, é segura e com certeza vai te proteger”, afirmou.

Confira a íntegra da Live do Sul21 com Mellanie Fontes-Dutra:


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