Da Redação
Os dados da pesquisa Kepeler / Sul21 em Porto Alegre mostram que a população da capital gaúcha está satisfeita com a atual administração e com a qualidade de vida, mas preocupa-se com aspectos como segurança e saúde e espera que o novo prefeito promova algumas mudanças na cidade. O prefeito José Fortunati conta com avaliação regular-positiva, opinião semelhante a que os porto-alegrenses têm do governador Tarso Genro, enquanto a presidenta Dilma Rousseff é bem avaliada.
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Partido que governou a capital gaúcha por 16 anos, o PT pode ser o fiel da balança na definição do novo prefeito. A sigla divide opiniões, contando ao mesmo tempo com a maior afinidade e a maior antipatia junto à população. Segundo os moradores de Porto Alegre, o prefeito eleito em outubro do ano que vem deve ser antes de tudo honesto, mantendo a maior parte das medidas da atual administração, mas promovendo mudanças em alguns aspectos.
População de Porto Alegre está satisfeita
De modo geral, o habitante de Porto Alegre está gostando da vida que leva. Pelos dados da pesquisa Kepeler / Sul21, 62,3% dos entrevistados disseram estar satisfeitos com a qualidade de vida na capital gaúcha, enquanto 13,8% afirmaram estar muito satisfeitos – um total de 76,1% de satisfação. Por sua vez, 20,7% se disseram pouco satisfeitos com a vida que levam em Porto Alegre, enquanto 3% não estão nada satisfeitos. O percentual de entrevistados que não informou sua opinião é de 0,2%.
A satisfação dos porto-alegrenses com sua atual situação de vida reflete-se na avaliação que fazem dos últimos cinco anos da capital gaúcha. A maior parte dos entrevistados (43,2%) acredita que sua vida não melhorou nem piorou nos últimos cinco anos, permanecendo igual ao que era antes, enquanto outros 41,3% acreditam que Porto Alegre mudou para melhor nesse período. Para 14,8% dos moradores de Porto Alegre, a vida mudou para pior. Dos entrevistados, 0,5% não souberam responder e 0,2% preferiram não informar.
Violência e saúde são maiores preocupações
Atendimento médico e violência são as maiores preocupações da população de Porto Alegre, segundo os dados da pesquisa Kepeler / Sul21. Na visão de 36,5% dos entrevistados, precisar de atendimento médico ou hospitalar e não receber um bom atendimento é a situação mais preocupante quando se projeta os próximos cinco anos. Outros 31,2% temem assaltos, agressão ou morte, enquanto o desemprego pesa como preocupação para 17,2% dos consultados. Não poder oferecer boa educação para a família (5,5%), não ter saúde para trabalhar e depender do INSS em caso de invalidez (5,0%) e ter que baixar o padrão de vida da família (3,8%) são outras preocupações citadas na pesquisa.
Quando perguntada sobre o que seria mais problemático na cidade, a população de Porto Alegre manifesta maior desconforto com a falta de segurança (34,3%), percentual que inclui preocupações com criminalidade e drogas. A má qualidade de assistência médica chega em segundo lugar, com 17,5%, seguida de falta de emprego (16,8%), salários baixos (11%) e trânsito ruim (5%).
Fortunati, Tarso e Dilma recebem avaliação positiva
O levantamento feito pela Kepeler a pedido do Sul21 mostra que os habitantes de Porto Alegre consideram de forma positiva a administração do atual prefeito José Fortunati. Para 40,5% dos consultados, a administração municipal é regular, enquanto 35,5% pensam que é boa e 4% qualificam como ótimo o atual governo da capital gaúcha. De acordo com a pesquisa, 8,7% consideram o governo de Fortunati ruim, enquanto 6,5% qualificam como péssima a administração de Porto Alegre. A nota média de Fortunati é de 6,2.
Para 50,7% dos entrevistados, José Fortunati faz um governo igual a de seu antecessor, José Fogaça – ainda que o percentual de pessoas que consideram que o governo melhorou (31,3%) seja significativo. Apenas 8,5% consideram que a administração da capital gaúcha piorou depois que Fortunati assumiu.
A avaliação da presidenta Dilma Rousseff também é positiva em Porto Alegre. A maioria dos entrevistados na pesquisa Kepeler / Sul21 considera o governo federal regular (39,3%) ou bom (36,8%), com outros 7,2% qualificando o mandato de Dilma até o momento como ótimo. Para 7,8% dos consultados, o governo Dilma é ruim e 5,8% dizem que a presidenta faz um péssimo governo até aqui. Entrevistados que não sabem (2,7%) ou preferiram não responder (0,3%) completam a pesquisa.
Quando a pergunta é sobre o atual governo do Rio Grande do Sul, 80,1% dos entrevistados consideram que Tarso Genro faz um governo regular (44%), bom (33,3%) ou ótimo (2,8%). Para 8% dos portoalegrenses, a administração de Tarso é ruim, enquanto 7,3% a qualificam como péssima. Somados, os que não quiseram ou não souberam responder alcançam 4,5%.
PT desperta maiores emoções em Porto Alegre
A leitura de que é decisiva a posição do PT para a corrida pelo Paço Municipal é reforçada pelos dados da pesquisa Kepeler / Sul21. Embora a grande maioria dos consultados (69,3%) diga não simpatizar com nenhum partido em especial, o Partido dos Trabalhadores é o que conta com a maior quantidade de simpatizantes em Porto Alegre (19,5%), muito a frente do segundo mais citado, o PMDB (3%). PDT (2,8%) e PSDB (1%) também recebem citações, enquanto os demais partidos lembrados (PTB, PCdoB, PSOL, PV, PP, PCO e DEM) alcançam menos de 1% cada um.
A posição petista tem peso também quando é analisada a rejeição dos porto-alegrenses a determinadas siglas. O PT é também o partido que conta com maior antipatia (14,8%), à frente de PSDB (3,8%) e PMDB (3,3%). Outros 5,3% disseram ter antipatia por todos os partidos políticos, enquanto a grande maioria (65,7%) declarou não nutrir antipatia por nenhum partido em princípio.
De acordo com 32,8% dos entrevistados, o partido ao qual o candidato pertence tem muita importância na hora de decidir, positiva ou negativamente, pelo voto. Para outros 25,5%, a importância é relativa, enquanto 23,7% não dão nenhuma importância ao partido ao qual o candidato pertence e 16% dizem que a legenda partidária tem pouca importância.
Moradores querem mudanças em Porto Alegre
Ainda que a avaliação sobre Porto Alegre e o governo de José Fortunati seja positiva, a maior parte da população da capital gaúcha quer mudanças. A maior parte dos entrevistados (37,8%) considera que Porto Alegre precisa de um governo diferente, mas que mantenha a maior parte das coisas que foram feitas. Outros 24,2% querem um governo totalmente diferente, enquanto 22,5% acha que o novo prefeito deve ser diferente, mas manter algumas características da atual administração. Apenas 12,5% dos entrevistados está totalmente de acordo com os rumos da cidade, manifestando a vontade de que o novo governo seja exatamente igual ao atual. O restante dos entrevistados não quis (1,8%) ou não soube responder (1,2%).
Os moradores consideram que o novo prefeito de Porto Alegre deve ser, acima de tudo, honesto (40,5%). A inteligência (18%), a capacidade de cumprir promessas (8,3%), a preocupação com as pessoas (7,7%) e conhecer os problemas do município (7,7%) também são qualidades importantes, na visão dos moradores da capital gaúcha.
Análise da pesquisa
Benedito Tadeu César
Com base nos dados da pesquisa Kepeler/Sul21, pode-se afirmar que os portoalegrenses estão bastante satisfeitos com as suas condições pessoais de vida hoje e que estão convencidos de que elas melhoraram nos últimos cinco anos.
Pensando no futuro, seus maiores temores estão associados à possibilidade 1) de necessitar de atendimento médico-hospitalar e ser mal atendido ou sequer atendido, 2) de ser vítima de assalto, agressão, roubo ou morte e 3) de perder o emprego.
No plano coletivo, os portoalegrenses reafirmam suas preocupações com a saúde, a segurança e a geração de empregos, que aparecem como os piores problemas da cidade e como os principais pedidos que fariam ao prefeito, caso pudessem fazê-lo diretamente.
Talvez em decorrência destas preocupações, os portoalegrenses revelam-se apenas relativamente satisfeitos com o desempenho dos governantes.
A administração de Dilma Rousseff é a melhor avaliada, obtendo uma aprovação (somatória de ótimo e bom) de 44% dos eleitores. O governo de Tarso Genro só consegue a aprovação de 36,1% e o de José Fortunati de 39,8%, sendo que tanto o governo Tarso quanto o governo Fortunati apresentam índices de avaliação razoável superior às aprovações dos entrevistados.
A administração Fortunati obtém uma nota média de 6,2, avaliação que expressa claramente aquilo que se está chamando aqui de satisfação relativa do eleitorado portoalegrense.
O sentimento de satisfação relativa aparece também quando os entrevistados são instados a revelar o que esperam da próxima administração municipal. As opiniões se dividem quase que ao meio. O desejo de permanência está presente em cerca da metade dos eleitores, enquanto que o desejo de mudança está presente em pouco menos da metade restante. Trocando em miúdos: de um lado, 12,5% querem que tudo fique igual e 37,8% que a maior parte das coisas sejam mantidas, o que totaliza 50,3%; do outro lado, 22,5% querem manter apenas algumas coisas e 24,2% que tudo seja totalmente diferente, o que totaliza 46,7%.
Como se pode perceber diante de todos estes dados, o cenário político portoalegrense encontra-se hoje, a um ano das eleições, completamente em aberto. Os números da pesquisa Kepeler/Sul21 publicados ontem (28) e hoje, bem como as análises publicadas nestes dois dias remetem para uma mesma conclusão: em termos eleitorais muito ainda está por acontecer; por ora, nada está definido.
Benedito Tadeu César é cientista político, especialista em pesquisas de opinião pública, e professor aposentado da UFRGS.