Geral
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27 de maio de 2024
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15:06

Precisamos querer ganhar a eleição, por todos e todas (por Janina Antonioli)

Centro histórico alagado pela elevação do Guaíba. Foto: Cesar Lopes/ PMPA
Centro histórico alagado pela elevação do Guaíba. Foto: Cesar Lopes/ PMPA

Janina Antonioli (*)

Os últimos acontecimentos no Rio Grande do Sul e, em especial, em Porto Alegre comoveram o país e preocupam a opinião pública, especialmente no tema de como o poder público será capaz de mitigar tragédias. Esse trauma coletivo – e individual de tantas pessoas – não pode ser diminuído ou esquecido. No caso de Porto Alegre, há, neste último mês, um crescente consenso sobre a incapacidade demonstrada pela gestão municipal. Cada dia é uma nova angústia; cada chuva, um novo desespero aumentado pela inação ou incompetência. E é exatamente para redimensionar essa situação que um novo debate sobre as estratégias eleitorais do campo progressista urge.

A fórmula pactuada pelos partidos de esquerda em Porto Alegre não foi unânime, nem consensual. Foi uma combinação possível, de uma tática estabelecida, mais do que qualquer coisa, para marcar posição e contar com o apoio do Presidente para fazer oposição à situação atual, tendo esperança para o segundo turno. Esta era a possibilidade até a catástrofe chegar.

A sorte do grupo político que administra a cidade, após tantos desastres, já não é uma provável vitória, como há um mês. Mas continua sendo uma possibilidade, pois, além de contar com um grande grupo de apoio e uma comunicação muito eficiente, é capaz de fazer concertações e rearranjos muito rápidos, como vimos na eleição passada, com a saída de Fortunati do pleito.

Justamente por isso, a estratégia do nosso campo opositor tem de ser tão eficiente quanto precisa. E, para isso, necessitamos partir da realidade concreta, para além das hierarquias e organizações partidárias. Em primeiro lugar, tem de ser consenso do nosso campo que a atual gestão – de vinte anos – precisa urgentemente ser parada, inclusive para que a cidade siga existindo. Esse consenso não é uma ideia subjetiva. Deve ser uma ação e um direcionamento para a militância. E a chapa tem de ser forte o suficiente para realizar essa interrupção e fazer o enfrentamento.

Ao contrário, até o presente momento, não se observa clareza, divulgação e afirmação sobre a chapa do nosso campo. Frequentemente, há pessoas perguntando sobre quem são as postulantes. Durante toda essa crise, seus protagonismos não são evidentes, seja por um erro de comunicação, seja por falta de reconhecimento do povo. Esse é o preciso momento em que deveríamos emergir. Para fins de exemplo, mas não de comparação (já que são âmbitos distintos), o Ministro Pimenta está em todos os eventos e lugares, está na pauta do debate, mas nossa chapa para a eleição, não.

Nosso povo não pode mais continuar padecendo sob essa administração – literalmente, inclusive. Ao que parece, os partidos que nos representam não têm a dimensão desta gravidade, pois as questões hierárquicas, as tendências e os acertos internos foram priorizados. Este artigo objetiva, enfim, pedir aos partidos de esquerda que decidam querer ganhar a eleição, fazendo jus ao que costumam se propor, que é trabalhar pelo e para o povo. E, para isso, será preciso comunicar melhor, se expor de forma efetiva com protagonismo e, se necessário, rever a nominata, considerando, dentre todos os partidos envolvidos, quem são as pessoas que, neste momento, poderiam crescer no enfrentamento, para criar uma unanimidade. Quais são os quadros do nosso campo, hoje, que estão falando para além do nosso pátio? Será que não deveríamos colocá-los para jogo?

Não há, neste artigo, nenhum rechaço a nenhum quadro dos partidos que compõem o campo progressista porto-alegrense, ao contrário. Serei votante de quem a oposição decidir, porque, como tantos porto-alegrenses, sempre voto na esquerda, ainda que não tenha filiação. Contudo, há um desespero cidadão sobre a possibilidade real de seguirmos sendo governados pela direita e essa agonia deveria ser a semente da futura campanha. Não são evidentes gestos concretos sobre essa urgência no vislumbre eleitoral. Por isso, meu apelo é para que os partidos do campo progressista se harmonizem a partir das demandas do povo, mais do que de suas organizações internas. Reitero minha súplica para que aproveitem esse momento estratégico de fragilidade da atual gestão para, mais do que repetir que esta administração tem de acabar, propor, ser protagonista do debate, ser presente na cidade real (e na virtual) e comunicar bem em todas as redes e nos vários tipos de canais.

A cidade que queremos é para todos e todas e, para que um projeto coletivo seja eleito, necessitará de todo mundo, inclusive de quem não é militante ou simpatizante. Daí a necessidade de que os partidos sejam sensíveis e conscientes de seu papel neste momento tão dramático. A população não merece reviver este mês de maio futuramente.

(*) Professora em Porto Alegre

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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