“O Rio Grande do Sul precisa voltar a ter façanhas para se orgulhar”, diz a candidata do PP ao Senado

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Simone Leite, candidata do PP ao Senado: "Confesso que estou um pouco incomodada com a política ou com a forma de fazer política" | Foto: Juliano Antunes/Sul21
Simone Leite, candidata do PP ao Senado: “Confesso que estou um pouco incomodada com a política ou com a forma de fazer política” | Foto: Juliano Antunes/Sul21

Nubia Silveira*

Aos 37 anos, a empresária Simone Leite aceita o desafio de entrar para a política como candidata do PP ao Senado. Ex-professora primária e de História, ela se tornou uma liderança política aos 18 anos, quando vivia em Estância Velha. Ingressou, então, no PSDB por influência do ex-deputado Júlio Redecker, morto no acidente da TAM em São Paulo, em 2007.

Mãe de dois filhos, entusiasmada e bem-falante, Simone se mostra confiante nesta sua primeira experiência política. Apresenta-se com o novo nestas eleições, prega a necessidade de mudanças, defende um projeto de união e o diálogo como solução para os problemas regionais e nacionais. Em sua entrevista ao Sul21, ela afirma que “o Rio Grande do Sul precisa voltar a ter façanhas para se orgulhar”.

Sul21¬– O que a levou a concorrer nestas eleições?
Simone Leite –
Eu sou uma pessoa muito idealista e me alio a este anseio de mudança. Tudo o que fiz nesses 16 anos de vida profissional foi movido por desafios e escolhas. Nós nos colocamos na posição de apontar aquilo que não está correto, e eu confesso que estou um pouco incomodada com a política ou com a forma de fazer política. Diante disso, e na condição de mãe, pensando no futuro dos meus filhos (17 e 10 anos) e ainda surgindo este convite – fiquei muito honrada, inclusive – neste momento eu não podia dizer não. A gente faz estas críticas e, quando surge a oportunidade, tem que abraçar e participar de um projeto.

“Hoje vivemos numa sociedade dividida”

Sul21¬– De que tipo de mudanças a senhora fala?
Simone –
A gente tem ideologias radicais. Hoje estamos vivendo numa sociedade, de forma geral, onde há uma divisão: ou é o público ou o privado, ou a elite ou o pobre, ou o branco ou o negro –lembro do episódio com o jogador de futebol (Daniel Alves) –, ou o índio ou o agricultor. Me parece que não é assim que vamos construir a sociedade. Precisamos ter um projeto de união. Nem tudo o que eu penso está correto e nem tudo que o meu parceiro ou quem pensa diferente de mim também está certo. É preciso buscar um entendimento em favor da sociedade; percebo muito o imediatismo do “vou fazer hoje, já vou ter resultado amanhã e me reelejo no ano seguinte”. Como tudo, tem que preparar o solo, jogar a semente, regar e colher. Se a gente quiser trabalhar para uma geração diferente da nossa ¬– e me impulsiona a questão dos meus filhos – tem que preparar a terra agora e colher mais para frente. Se pensar que há muitos projetos políticos de partido e não de estado, aí eu levanto a bandeira e digo que a gente precisa se unir. Fala-se muito em pactos, e me parece que o pacto que o Rio Grande precisa é o da união, de poder abrir mão de algumas conveniências de cada um e trabalhar em prol da sociedade. É muito nessa questão idealista que eu me coloco.

"Se for considerar a história passada, a proposta de união pode ser uma utopia, mas temos que olhar para frente" | Foto: Juliano Antunes/Sul21
“Se for considerar a história passada, a proposta de união pode ser uma utopia, mas temos que olhar para frente” | Foto: Juliano Antunes/Sul21

Sul21¬ – Observando a história do Rio Grande do Sul, pacto é algo viável ou utopia?
Simone –
Eu tenho uma convicção: se a gente for acompanhar toda a história, é a única forma de estarmos unidos. A gente tem muito presente hoje, e isso é muito do gaúcho: “o que eu vou ganhar com isso, quanto eu vou ganhar ou, ainda, quanto ele vai deixar de ganhar ou vai perder de acordo com minha atitude.” É isso que tem que mudar. Vem toda uma geração nova, que – pequenos detalhes – não joga mais lixo no chão, está consciente de que não pode beber e dirigir, está fumando menos. Nisso temos que nos apegar, e a união é a forma de resolver. Se for considerar a história passada, pode ser uma utopia, mas temos que olhar para frente e achar uma forma de resolver. Um exemplo típico foi o resultado do jogo da Copa entre Brasil e Alemanha: esta tem um time forte, com garra, que vem se preparando há seis anos, enquanto de outro lado, (estavam) os nossos jogadores, cada um no seu individualismo, bons craques, mas faltou a união.

Sul21 ¬– Quem pode fazer esta mudança na política são as mulheres?
Simone –
Não, não só. Tive a oportunidade de andar pelo estado, em debates, dizendo que a mulher tem uma característica, o homem tem outra. Juntos, a gente consegue fazer de forma mais efetiva o social, o econômico, porque a mulher, na sua essência, pelo fato de ser mãe, traz a paciência, a determinação, tem certas características que o homem não tem. É a mulher tendo a possibilidade de se empoderar, mas não no “eu faço, eu represento”; é um poder de influenciar, de participar da decisão e de estar junto, numa mudança. Tenho receio e não gosto muito da divisão entre um homem e uma mulher, (dizer) “que bonito uma chapa com duas mulheres”, pois por trás delas tem ideias, tem vontade, tem determinação, tem garra e ainda tem uma situação que é muito bacana: é a ternura que a mulher traz, o carisma, o charme e que também se completa numa condição de o homem ser mais impositivo ou positivo, de alguma forma mais forte. Eu brinco dizendo que mesmo se o nosso olhar endurece, ternura a gente não pode perder. Temos esta possibilidade de construir muitas coisas de uma forma mais humilde, que é uma característica também da mulher, enquanto o homem se sente fraco ao ser humilde.

“O município está muito distante da União, como está também do estado”

Sul21 ¬– A senhora está sendo apresentada como a nova Ana Amélia no Senado. O que significa isso?
Simone –
Eu tenho duas mulheres da vida pública como referência: Margaret Thatcher e Ana Amélia. A questão da ética, a do respeito, a de cumprir promessas são características muito importantes. Mais do que promessas de governo, de dizer “eu vou acabar com a pobreza, eu vou construir estradas”, o passado da pessoa, aliado às suas propostas, é que pode fazer com que o eleitor tome alguma decisão em algum momento. Poder continuar o trabalho que a senadora Ana Amélia está fazendo me motivou muito a aceitar este desafio. Porque a tenho como uma mulher honrada, forte, batalhadora, que faz política porque gosta, com convicção.

"Poder continuar o trabalho que a senadora Ana Amélia está fazendo me motivou muito a aceitar este desafio" | Foto: Juliano Antunes/Sul21
“Poder continuar o trabalho que a senadora Ana Amélia está fazendo me motivou muito a aceitar este desafio” | Foto: Juliano Antunes/Sul21

Sul21¬ – Que tipo de trabalho a senhora pretende tocar em frente?
Simone –
Esta questão de abrir o gabinete e de colocar toda a sua força de trabalho em prol dos municípios. Hoje a sociedade – homem, mulher, criança, idoso – vive na cidade, só que o município está muito distante da União, como está também do estado em alguns momentos. Para onde estão canalizados os principais recursos? Para a União. Então, fazer este elo de aproximação. Vivenciei isso na prática, em dois momentos, junto com a senadora: ela não perguntava “qual teu partido”. Não, é um prefeito do meu estado, porque o Senado representa o estado em si, não o eleitor. A senadora Ana Amélia dizia: posso te ajudar, minha assessoria pode conduzir, podemos pensar juntos e resolver o assunto. É muito bacana ter esta voz e esta representação. Lembro do caso de um microempreendedor que ganhou uma licitação e, num determinado momento, precisava ter contato com o órgão responsável. Ele chegou a Brasília e estava perdido, não sabia como conduzir o processo de assinatura de contrato. Ao que a senadora disse: “ele pode vir aqui, nossa assessoria vai estar auxiliando”. E pretendemos ampliar o debate. No Senado temos muitas formas de conduzir os assuntos de saúde, de educação, do pacto federativo, de dívidas, coisas em que muitas vezes a gente tem divergências de ideias. Quando a gente traz para a mesa os atores, “a minha proposta sempre tem a última palavra primeiro”. Isso não. Tem que ouvir as partes para depois fazer o juízo, tomar uma decisão e buscar o consenso, o diálogo. Isso eu tenho feito em toda a minha caminhada profissional e como liderança empresarial. Dentro das instituições que presidi, sempre busquei o caminho do diálogo e do entendimento.

Sul21¬– A senhora foi filiada ainda muito jovem ao PSDB?
Simone –
Fui filiada ao PSDB com 18 anos. Comecei a trabalhar aos 16 anos como professora primária. Depois fiz curso de História, lecionei em escola pública de Estância Velha. Alunos me chamavam de “ssora do coração”, porque eu dividia o quadro com coração. Eu era uma professora diferenciada e por isso trago esta questão da valorização do professor. Os alunos não esqueciam a matéria, pois ao tratar sobre Idade Média eu escurecia a sala com pano preto, acendia velas ¬– só para citar que eu fazia com muita paixão aquilo. História não é coisa chata, as aulas eram legais e os alunos gostavam muito de mim. Nas aulas à noite, com estudantes do segundo grau mais velhos do que eu e num bairro um pouco complicado, os alunos iam até armados para a escola. Num episódio, dois alunos começaram uma briga, puxaram armas e os meus colegas professores se esconderam embaixo da mesa. E eu, num ímpeto, fui lá pedir calma. A briga era por causa de uma menina e conseguimos um entendimento. Eu tinha uma relação próxima com os alunos, de entender a realidade deles, muitos eram pais ou mães, trabalhavam e à noite estudavam. Na minha casa fazíamos churrasco no fim de semana. A comunidade local entendeu que eu era uma liderança naquele contexto.

Sul21 – Naquele momento a senhora foi convidada a ingressar no PSDB?
Simone –
O saudoso Julio Redecker (ex-deputado, falecido), nosso amigo de Novo Hamburgo, me disse: “tu precisas entrar para a política”, dizia que precisava renovação. O PSDB em Estância Velha estava se formando e eu entrei, com a expectativa deles de que concorresse a vereadora. Mas minha vida mudou, me tornei empreendedora, fiz curso de Administração e fui buscar um novo desafio. Deixei de ser professora, virei empreendedora, casei e fui morar em Canoas. Lá foi um novo desafio: fui a uma reunião onde só estavam homens. Quando entrei na sala, já me conduziram às cadeiras onde sentam os assessores. A discussão ia acontecer na mesa, então levantei e tomei assento. Me disseram: os assessores sentam aqui. Passou um filme na cabeça: “são muito machistas”. Aí me apresentei como diretora de empresa, perguntei no que poderia contribuir e já saí falando. Eles, desconfortáveis com a situação, mas depois se desculparam. Para ver o preconceito de que mulher não pode estar naquele espaço.

“Nós, mulheres, só precisaríamos ser respeitadas. Poder participar das discussões”

"Defendo que os iguais devem ser tratados de forma igual e os desiguais de forma desigual" | Foto: Juliano Antunes/Sul21
“Defendo que os iguais devem ser tratados de forma igual e os desiguais de forma desigual” | Foto: Juliano Antunes/Sul21

Sul21 – Mas o preconceito não a impediu de seguir em frente.
Simone –
Dois anos depois me tornei a primeira presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviço de Canoas. Primeira mulher, a mais jovem em 74 anos dessa entidade, fazendo um trabalho que de fato resgatou a CICS. Considerando que Canoas, quatro anos atrás, era o segundo polo e o segundo PIB (do estado), a entidade era grande referência e a gente conseguiu fazer um bom trabalho. Surgiu a oportunidade de estar na Federasul, representando Canoas. Outro episódio foi quando eu fazia a defesa muito firme no momento em que a governadora Yeda Crusius estava propondo a prorrogação dos contratos de pedágio. A Federasul acreditava que era uma boa. Mas eu tinha conversado com lideranças do interior do estado e a forma como estavam propondo não era bom para o estado. Eu disse isso na Federasul. Perguntei: “Quem foi consultado para dizer que a opinião da nossa entidade é essa?” Um senhor disse: “Onde estão os homens que se escondem atrás de uma mulher? Porque nunca nenhuma mulher se posicionou dessa forma aqui”. Eu fiz só uma pergunta de maneira respeitosa, argumentei. Ficou um mal-estar, mas depois recebi flores em minha casa, com um pedido de desculpas. Eu disse que nós só precisaríamos ser respeitadas. É o tal empoderamento da mulher. Poder participar das discussões. Naquele episódio eu me torno referência em liderança empresarial, e também, no ano passado, quando defendi os micro e pequenos empresários, os quais têm um problema sério no RS, que é a cobrança de 5% do imposto de fronteira. Eu tenho mais uma marca: defendo que os iguais devem ser tratados de forma igual e os desiguais de forma desigual. Não podemos considerar que o grande empresário seja tratado da mesma forma que o micro ou pequeno. Não pode. Eu sou da indústria, mas naquele momento quem precisava de apoio para manter todo o desenvolvimento econômico, principalmente no interior do estado, eram os varejistas, o micro e o pequeno comerciante. E eu não hesitei em levantar a bandeira deles. Não foi nem em meu beneficio, pois eu sou de uma indústria média, de balanças e impressoras fiscais. Mas fui uma liderança muito ativa, conseguimos na Assembleia Legislativa um decreto legislativo para colocar fim nesta tributação. São alguns exemplos de nossa convicção de trabalhar pelo coletivo. Acho que por isso tenho esse direito de falar que é possível fazer esta mudança, que o gaúcho precisa aprender, tem que se reinventar e viver em harmonia com a sociedade. Eu prego e faço isso. Meu passado me dá essa possibilidade.

Sul21 – Como ingressou no PP?
Simone –
Entrei no PP a convite da vice-prefeita Beth Colombo. Ela e o prefeito Jairo Jorge são duas pessoas emblemáticas. Admiro o desprendimento deles, são de partidos opostos ¬– lembro aquilo de direita ou esquerda, homem ou mulher – e estão juntos, fazendo uma grande administração na nossa cidade de Canoas.

Sul21 ¬– O candidato do PDT ao Senado, Lasier Martins, era tido por alguns, como imbatível. A candidatura da senhora vai dividir com ele os votos do empresariado?
Simone –
Não sei. O que me desafiou também é justamente a possibilidade de trazer esta mudança. Eu tenho mais uma convicção. Além do homem e da mulher se complementarem, a energia do jovem, junto com a experiência de pessoas que já passaram por inúmeras situações, dá um complemento muito bom e uma luz para identificar o que se precisa fazer. Uma novidade para mim e um convite inusitado foi estar participando nesta chapa majoritária. É um desafio, porque estou iniciando na vida pública; nunca me candidatei a nada, mas trago esta convicção de que Simone e Ana Amélia podem fazer o complemento da juventude e da experiência.

“Desejo trazer esta vontade de mudar”

Sul21¬ – Qual será seu segmento de apoio?
Simone –
A sociedade de forma geral, principalmente aquela que está buscando uma mudança. Que já vê nos políticos tradicionais aquilo que ele não fez a contento ou que não pôde fazer e aquelas pessoas que se identificam com o que eu penso. Tive a possibilidade de andar muito pelo interior do Estado, fazendo a defesa do micro e pequeno empresário, e percebi o quanto as pessoas estão carentes de uma defesa neste sentido, que é a defesa daquela classe que teve uma ascensão pelas políticas implementadas, a classe média, mas que fica naquele limbo da disputa entre o rico e o pobre, o trabalhador e o empregador, e não soma mais. E todos que não estão acreditando nos políticos tradicionais, (pensando) “pô, mas de novo”. Surge aí uma nova possibilidade. Eu desejo trazer esta possibilidade da vontade de mudar.

"Não preciso do Senado, mas a política precisa de novas pessoas e novas ideias." | Foto: Juliano Antunes/Sul21
“Não preciso do Senado, mas a política precisa de novas pessoas e novas ideias.” | Foto: Juliano Antunes/Sul21

Sul21¬– Na convenção do PP, foi entoado um canto religioso e, por isso, receberam críticas. Juntar política com religião é bom negócio?
Simone –
O que move as pessoas? A fé. Não entendo que tenha que juntar política e religião. A política hoje é a forma de transformar a sociedade e a fé é o que move as pessoas. Quando eu tomei a decisão de concorrer, consultei minha família, meus filhos. Não preciso do Senado, mas a política precisa de novas pessoas e novas ideias. Isso me levou a tomar a decisão do sim. Mas sempre baseada nesta questão da família. Acho que quando falam em canto religioso, foi uma canção de família que a gente traz, e nada faz sentido se não se tem uma família sólida, mesmo seguindo caminhos diferentes, quando pai e mãe resolvem se separar . Enfim, sempre com seus princípios. Um não exclui o outro, não se precisa da religião para a política, mas não concordo que os dois não se misturam, são formas diferentes de estar trabalhando.

Sul21¬– A senhora fala em fé religiosa ou em fé num partido, que para alguns se transforma numa religião?
Simone –
Cada um tem sua forma de encontrar a fé. Muitas vezes pode ser através de Deus e Jesus, da questão religiosa, sim. Mas pode ser a fé em mim mesma, no que a pessoa acredita. A gente tem diversas formas de encontrar o seu eu interno e a sua motivação para a vida. É uma questão um pouco delicada de tratar, cada um tem suas convicções, mas a fé move as pessoas para fazer a diferença.

“Política não tem espaço para o ódio; esta é a política radical”

Sul21¬– Mas isso não traria, de alguma maneira, a oportunidade de demonizar o adversário?
Simone –
Não, de forma alguma. Política não tem espaço para o ódio; esta é a política radical. E é isso que a gente tem que terminar, trazer a política do diálogo, da diversidade, trazer os diferentes para junto, porque a sociedade sempre teve diferentes e a gente tem que respeitar.

"Nós temos que ter uma política mais eficiente e a política em torno do desenvolvimento em algumas regiões que precisem dele" | Foto: Juliano Antunes/Sul21
“Nós temos que ter uma política mais eficiente e a política em torno do desenvolvimento em algumas regiões que precisem dele” | Foto: Juliano Antunes/Sul21

Sul21 ¬– O que a senhora acha do sistema unicameral, sem a divisão entre Câmara e Senado? É uma defesa que o candidato do PT, Olívio Dutra, faz.
Simone –
Um complementa o outro. A Câmara representa a população e os eleitores. O Senado, da forma como está constituído, representa o estado. Por isso, a gente, grande ou pequeno, tem a mesma condição de representação. Tem que fazer as discussões macros no Senado. Ao senador também cabe propor aquilo que, para ele, é importante. Quando se trata de um assunto do município, percebemos um desgaste muito grande de energia e de recursos, um município fazendo o mesmo que o outro. Por que não vem de cima, da União, disponibilizado para os municípios? Um exemplo simples está na questão do software de gestão, da otimização de tempo, da desburocratização. A União poderia propor isso, fazendo grandes contratações de projetos de sistemas, e disponibilizar para os municípios. Tem que tirar esta coisa de que um município concorre com o outro, até na questão da guerra fiscal. Nós temos que ter uma política mais eficiente e a política em torno do desenvolvimento em algumas regiões que precisem dele. Por isso, o Senado tem que pensar de forma mais ampla, mais macro do que Câmara. Cada um tem o seu papel.

Sul21¬– O Senado recebe críticas, por ter mandato de oito anos, por ter funcionários demais, por estar afastado do povo. Como a senhora vê isso?
Simone –
Eu trago de novo o exemplo da nossa senadora, que conseguiu ter um gabinete enxuto, um dos menores, ou o menor, com pessoas técnicas, qualificadas, sempre trazendo essa possibilidade de auxiliar ou cidadão, ou estado ou o município. Vai muito da pessoa, de quem está lá, da representação que o estado tem, e aí de novo vem a questão da ideologia, do separar. Exemplos são o senador Sarney e o senador Pedro Simon, que entenderam que é o momento de parar. Eles já deram uma grande contribuição à política nacional, está na hora do novo.

Sul21 ¬– O Senado não está ficando muito atrás do que a Câmara decide?
Simone –
Porque falta o debate, o diálogo. Muitas vezes pessoas estão lá a serviço de um partido, de uma parte da sociedade, e não a serviço do todo. Muitas pessoas não conseguem sentar numa mesa e fazer o diálogo, porque têm as suas convicções, e, quando não se consegue abrir mão disso, a política se torna um ranço, uma política velha. O Senado – e a política, de forma geral – precisa se reinventar. A gente fala em inovação nos serviços, nas nossas empresas, na forma de se relacionar com a família, em tudo, assim também na política e no Senado. Acho que o Senado tem um grande espaço, pessoas muito capacitadas para fazer o debate. Tive a oportunidade de acompanhar duas sessões: parece que o senador vai para a tribuna e as pessoas não ouvem o que ele fala. Mas por que estava falando? As comissões de trabalho me parecem muito produtivas. Tem espaço e há uma necessidade de se reinventar.

"Gostaria de fazer um esforço no que diz respeito à educação, que surge como uma base. Os municípios e o estado não têm recursos para investir" |Foto: Juliano Antunes/Sul21
“Gostaria de fazer um esforço no que diz respeito à educação, que surge como uma base. Os municípios e o estado não têm recursos para investir” |Foto: Juliano Antunes/Sul21

“Tem que valorizar mais o servidor, fazer com que ele seja protagonista”

Sul21 ¬– Se eleita, quais os problemas do RS que gostaria de ajudar a resolver?
Simone –
A questão do desenvolvimento. O Rio Grande do Sul precisa voltar a ter façanhas para se orgulhar. Aí se fala na questão do endividamento do estado: hoje temos uma possibilidade restrita de recursos e, se formos trazer para o ambiente familiar, a gente não pode gastar mais do que arrecada. Se for comprar um carro novo, tenho que saber como vou pagar. Vou assumir uma prestação, tenho que saber de onde vou tirar os recursos. O “depois eu vejo” não dá. Esta questão do endividamento do estado é uma preocupação para nós, assim como retomar investimentos, a guerra fiscal, a burocracia muito excessiva. Poderíamos estar dando mecanismos para simplificar a vida. Sobre burocracia não estamos falando do empreendedor, mas do cidadão, pois qualquer serviço público que ele precisa é difícil. Na questão privada da telefonia, conseguimos simplificar. Agora, precisamos trazer isso para o setor público.

Sul21 ¬– Além da dívida do estado, há outro problema imediato a tratar?
Simone –
De forma imediata, fazer um esforço no que diz respeito à educação, que surge como uma base. Os municípios e o estado não têm recursos para investir. Como se poderia trazer uma força-tarefa da União, e não só para o RS? E outros assuntos, tais como reforma tributária e reforma de gestão, pois temos um gasto excessivo com pessoas. E se se trabalha de cima para baixo, da União para o estado e município, temos muitos CCs, nos três níveis. O servidor público é capacitado, passou por processo de seleção e é tão bom quanto qualquer um que se possa trazer em cargo de confiança. Tem que valorizar mais o servidor, fazer com que ele seja protagonista de todos os serviços que a sociedade precisa.

Sul21 ¬– Nas eleições deste ano, o gasto deve aumentar, segundo previsões dos partidos, em 50%. A senhora é a favor de que empresas doem às campanhas?
Simone –
Sou a favor de tudo que é lícito. Sobre financiamento público de campanha, hoje os partidos já recebem recursos públicos que vêm do Fundo (Partidário). Será que precisamos fazer campanhas tão caras? Nós temos que reinventar e também fazer uma reforma política que valorize mais as ações, o passado e propostas, senão fica a disputa de quem tem a faixa maior ou quem tem mais bandeiras nas ruas. Isso custa dinheiro. A própria campanha de televisão é feita de uma forma muito cara, não para mim, mas para todos. Todos entram para poder competir de igual para igual. Uma forma seria a reforma para todos.

“Qualquer reforma que se fizer não pode ser pensada para amanhã”

Sul21 ¬– Mas, a senhora vê algum mal na contribuição das empresas?
Simone –
Não, desde que não atrapalhe a própria empresa e não seja trazida depois como moeda de troca: eu te ajudo, mas depois tu me ajudas. Tem que ser algo de convicção daquele que está fazendo a doação. Acredito neste projeto, nesta pessoa, e por isso vou dedicar recursos a esta campanha.

"Reforma política tem que ser pensada e amadurecida de acordo com os anseios da sociedade"  |Foto: Juliano Antunes/Sul21
“Reforma política tem que ser pensada e amadurecida de acordo com os anseios da sociedade” |Foto: Juliano Antunes/Sul21

Sul21¬ – É a favor de uma constituinte específica para a reforma política?
Simone –
Não sei se é a forma, tenho dúvidas. A constituinte deve ser muito bem trabalhada. Volto com o que coloquei: preparar a terra, plantar, para depois colher. Não vamos conseguir nada de forma imediata. Qualquer reforma que se fizer não pode ser pensada para amanhã, para o governo seguinte ou para a minha reeleição. Hoje há políticos que são profissionais, entraram na vida política jovens e ainda seguem e, de alguma forma, precisam ser respeitados, tem que ter espaço para todos. Reforma política tem que ser pensada e amadurecida de acordo com os anseios da sociedade. A própria questão de fazer uma constituinte ou não deve ser discutida com a sociedade, se ela entende que é a melhor forma. Vamos preparar um bom debate sobre isso também. É tudo diálogo. E não dizer: “a Simone acha que sim”.

Sul21 ¬– A senhora, agora, vai colocar o pé na estrada?
Simone –
Já estou, desde que assumi o desafio de estar como vice-presidente de integração da Federasul, levando esta mensagem de que, juntos, nós somos mais fortes. O trabalho que tenho feito no interior me deu respaldo para receber este convite e conseguimos ter bons frutos neste sistema associativo, que é voluntário. O que eu ganho é o que a sociedade ganha. Estou colocando minha energia em favor de um projeto. Andei pelo estado todo com recursos próprios, levando à frente aquilo que tenho convicção e promovendo a união do empresário gaúcho. Porque a questão do “ganha e perde” não vai construir. Vamos seguir com a campanha na rua, e se hoje terminasse este projeto eu já sairia vitoriosa, por todo o carinho, apoio e estímulo que tenho recebido de pessoas que eu nem imaginava ou nem conheço – e isso faz parte deste ser público. Que bom, dizem elas, precisamos de pessoas novas.

*Colaborou Lorena Paim


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