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14 de outubro de 2014
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18:03

Tarso e Sartori realizam primeiro debate do segundo turno

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Sul 21
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Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Clima de descontração antes do debate no estúdio | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Débora Fogliatto

Os dois candidatos que disputarão o segundo turno das eleições no Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT) e José Ivo Sartori (PMDB) realizaram nesta terça-feira (14) seu primeiro debate após as eleições do dia 5. O peemedebista havia sido criticado pelo adversário e por militantes petistas por ter “fugido” de debates. Na semana passada, ele preferiu não aparecer nos embates marcados nas rádios Guaíba e ABC, e na TVE. De agora até o fim da campanha, os candidatos confirmaram presença em sete debates.

Durante uma hora e meia na Rádio Gaúcha, os candidatos falaram, com mediação do jornalista Daniel Scola, em tom respeitável, sem maiores exaltações. O atual governador optou por falar de conquistas de seu governo e associar Sartori ao governo de Antônio Britto (1995-1998), enquanto o adversário mencionou feitos em Caxias do Sul e prometeu “continuar o que está bom” da atual gestão, além de tentar mostrar que não foge de falar do passado, do que foi acusado pela campanha do PT.

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Candidatos se cumprimentam antes do debate | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Um dos momentos mais interessantes, em que se pode perceber discordâncias entre os candidatos, foi no terceiro bloco, quando foi abordado o tema do salário mínimo regional. Tarso questionou Sartori sobre a posição de seu vice, o empresário José Cairoli (PSD), que é contra o salário mínimo regional, o qual o governador considerou que “qualifica a vida dos mais pobres, melhora a vida dos que mais precisam de políticas públicas”.

Sartori, afirmando que quem irá governar será ele e não Cairoli, disse ainda que “o governo do estado não é um indutor, isso não é uma política pública. Os empresários devem evidentemente defender suas posições e os trabalhadores as suas”, dizendo que o patrão e trabalhador devem fazer suas negociações. Tarso então afirmou ter uma “divergência de princípio”, pois considera a questão uma política pública. “Para nós, o salário mínimo é uma política pública, política econômica de desenvolvimento regional. Se aumenta o rendimento dos mais pobres, aumenta consumo de produtos que são mais importantes para micro e pequenas empresas”, colocou. O adversário então mudou, dizendo que dará continuidade a esse processo.

Pedágios

Tarso foi o primeiro a perguntar, seguindo sorteio pré-estabelecido, já abordando uma medida do governo Britto, que implantou pedágios com um “contrato foi lesivo ao interesse público, com preços exorbitantes” segundo o governador. Ele lembrou que na atual gestão foi criada a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) que rebaixou “em 30% os pedágios”, questionando se as medidas do antigo governador teriam sido tomadas se houvesse “diálogo social amplo”.

Sartori respondeu criticando a EGR, que afirmou ter “dificuldades de manutenção porque foi feita para atender necessidades momentâneas”. Ele elogiou o modelo do governo federal em suas rodovias e afirmou não ter “ranço em fazer parcerias público-privadas e concessões para atender a estrutura”. Tarso, então, contou que o contrato feito por Britto teve uma visão diferente da sua de relação com a iniciativa privada e que na EGR “empresas são privadas, mas fiscalizadas e contratadas pelo estado”.

Tecnologia

Em sua primeira pergunta, Sartori afirmou que quer “fortalecer parques tecnológicos” e perguntou a visão do governador neste sentido, ao que Tarso respondeu afirmando que a Secretaria de Ciência e Tecnologia estava “praticamente destruída” quando assumiu a gestão. “Iniciamos a implementação de parques tecnológicos e relações internacionais com China, Coreia e Espanha para trazer empresas de alta tecnologia para o estado”, disse Tarso, mencionando também parcerias com o governo federal e a modificação do Fundopen para que empresas contratem pesquisadores através de isenções fiscais.

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Sartori defendeu novo pacto federativo | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sartori então, aderindo à tática de falar de governos passados, lembrou que esta secretaria foi criada pelo governo de Pedro Simon, também de seu partido (1987-1990). “Temos uma economia que é forte e diversificada e tem agronegócio pujante e agricultura familiar altamente produtiva”, destacou. Tarso criticou o adversário por ser de um partido que também participou do governo de Yeda Crusius (2006-2010), que “destruiu a pasta de ciência e tecnologia” e mencionou três pólos de ação implantadas na atual gestão: indústria oceânica, a base aos parques eólicos, e as parcerias com universidades, como o Tecnopuc, Tecnosinos.

Finanças públicas

Abrindo o segundo bloco, o peemedebista questionou Tarso sobre as finanças públicas e a renegociação da dívida, ao que o governador respondeu ser um “processo muito delicado”. “Vamos aprovar esse projeto que já tem acordo e abater R$ 15 milhões e vamos ter novo espaço fiscal. A segunda etapa que começamos ano que vem que é reduzirmos os repasses mensais”, disse Tarso, e Sartori concordou em relação à redução das prestações. “Temos que trabalhar para um outro pacto federativo para que seja melhor repartido com estados e municípios”, defendeu o ex-prefeito de Caxias.

Educação

Tarso afirmou estar “tentando recuperar educação no estado” após ser, segundo ele, sucateada pelos governos de Britto e Yeda. “Recebemos sistema educacional com escolas de lata”, colocou, ao que Sartori respondeu que a “qualidade do ensino não é mais a mesma que orgulhava os gaúchos”.  Lembrando de sua gestão em Caxias, disse que a cidade recebeu certificado de cidade livre de analfabetismo e defendeu “medir e decidir com base em objetivos e metas, investir em professores e implantar escola multilíngue em áreas de colonização diversas”, referindo-se ao ensino de alemão e italiano em locais com colonização de tais culturas, por exemplo.

O governador destacou que a educação do estado saltou do 11º lugar para o 2º durante sua gestão, segundo o índice que mede a qualidade da educação básica. “Através do aumento do piso do magistério, da implementação do nível médio politécnico, de processos de formação continuada tiramos do fundo do poço educação do estado”, garantiu. O peemedebista treplicou que ainda há “escolas de lata”, defendeu o uso de tecnologias e o respeito aos professores com participação dos pais.

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Tarso falou de apreensão de drogas em seu governo | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Segurança

O próximo tema sorteado foi o da segurança pública, sobre o que Sartori disse ser “uma das questões mais importantes na vida das pessoas” e questionou as políticas de Tarso. O governador respondeu falando da desativação do Presídio Central e da instalação do Centro de Comando Integrado, e destacando que quando assumiu a gestão apenas 22% dos homicídios eram esclarecidos, número que aumentou para 72%. O peemedebista citou ter conhecido o modelo de segurança de Tel Aviv e defendeu um “cerco eletrônico”. “Temos que combater a droga que dizima nossa juventude e cuidar para não ter violência nas escolas, e começar a construir modelo de cultura da paz”, disse. O governador disse que a apreensão de drogas foi aumentada em 30%.

Meio-ambiente

Sartori criticou o fato de licenças ambientais demorarem muito para ser emitidas, ao que Tarso respondeu que existe uma “superposição de legislações” nos âmbitos federal, estadual e municipal, e voltou a mencionar feitos de seu governo. “Reestruturamos a Fepam, fizemos concurso público e melhoramos quadro salarial, fizemos licenciamento online para processos mais simples. Estamos transferindo pra prefeituras licenciamentos mais simples”, falou.

O ex-prefeito de Caxias também mencionou a importância do tratamento de esgoto, defendeu “menos burocratização” e falou da construção da barragem na cidade que governou, que foi “muito positiva para a comunidade”. Tarso concordou sobre a necessidade de saneamento. “Por isso contratamos R$ 4,4 bilhões do governo federal para investir no estado. Em 2011, tínhamos 15% de esgoto tratado. Vamos duplicar praticamente tudo que foi feito na história do saneamento básico”, disse.

Desenvolvimento

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Candidatos divergiram em termos de modelo de desenvolvimento | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sartori demonstrou uma posição mais voltada para o neoliberalismo ao defender que “diante das dificuldades financeiras, (o governo) tem que ter capacidade de ajudar as pessoas ou não interferir, permitir que processo de trabalho possa se fazer independentemente do governo”. Já Tarso discordou, apontando que para ele “estado deve ser indutor do desenvolvimento, ter estímulo para micro e pequenos empreendedores, para agricultura familiar”. O peemedebista então voltou atrás, concordando com o adversário, dizendo que “também acho que estado precisa criar condições para que desenvolvimento se faça”. O petista o criticou por “responder com generalidades” e lembrou que “dois governos que tiveram interferência fundamental do PMDB privatizaram de maneira selvagem”.

Considerações finais

Por último, Tarso disse representar a presidenta Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Lula (PT), e não o candidato Aécio Neves (PSDB) “que nunca fez nada pelo Rio Grande e não tem nenhuma ligação com nosso estado”. “Não conseguimos fazer tudo que gostaríamos, tivemos empecilhos burocráticos e problemas de natureza legal. Quero pedir ao povo gaúcho que não interrompa esse processo. Saúde, educação e segurança não são gastos, são investimentos”, afirmou.

Sartori disse que irá manter “tudo que está bom” no atual governo, sem “governar para um partido, mas para todos”. Respondeu ao questionamento de Tarso sobre o salário mínimo regional, o que afirmou que irá valorizar. “Quero agradecer aos eleitores e às pessoas que me conduziram ao segundo turno, aquelas que pesquisaram em seu coração”, concluiu.


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