Débora Fogliatto
Anualmente, 1,3 bilhões de toneladas de alimento são desperdiçadas no mundo, número que representa um terço de toda a produção mundial e gera custos superiores a US$ 750 bilhões por ano. Frente às 870 milhões de pessoas que passam fome no mundo, o número é alarmante e indica que a diminuição do desperdício poderia ser um dos pilares no combate à fome. Os dados são da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Diante desses números, o restaurante vegetariano Prato Verde, na região central de Porto Alegre, começou a se preocupar com seu próprio desperdício, lançando campanhas e uma exposição para conscientizar os clientes sobre o problema.
As informações sobre desperdício estão contidas na última edição da revista publicada pelo restaurante, que também aponta como um dos principais fatores que levam a estes números as dificuldades de armazenamento, estrutura e transporte. Outro dado destacado na publicação é da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que constatou que 64% do que se planta no Brasil se perde na cadeia produtiva, fase inicial por onde passam os alimentos. No transporte de alimentos, feito principalmente por rodovias, com frequência os produtos não recebem os cuidados necessários de conservação, trazendo mais um risco que leva ao desperdício.
Já nas fases finais, em residências e pontos de venda, também acontece desperdício, devido à falta de informações sobre a responsabilidade e a forma de tratar os alimentos. Em restaurantes com o formato de buffet, por exemplo, há o agravante de que as comidas não são servidas por porções, mas sim têm que estar disponíveis independente da demanda. Foi por isso que surgiu a preocupação por parte de Tiago Flores, um dos sócios e gerente do Prato Verde, restaurante aberto em 1991, em abordar este assunto.
Há cerca de seis meses, ele decidiu fazer desse o tema da edição atual da revista. “No período em que estávamos planejando, começamos a rever o nosso consumo e ações em termos de processos para evitar fazer demais, começamos a ter um controle mais rigoroso para não haver desperdício”, relata. A exposição “Desperdício, um novo olhar”, aberta nesta sexta-feira (9), com fotos, infográficos e telas, surgiu nesse contexto, para possibilitar que os clientes também pensem sobre o assunto.
A ideia nasceu de modo informal, quando Tiago pediu que a fotógrafa Daniela Maccali, que é cliente do Prato Verde, fotografasse o desperdício na cidade. “Eu lancei esse desafio para ela, temos uma parceria e ela sempre faz as fotos para a revista. E quando eu recebi o material, disse que precisava fazer a exposição”, relata o gerente. A partir daí, ele começou a conversar com outros clientes, artistas e designers, e a mostra foi tomando forma. “É um trabalho colaborativo, não teve um processo linear, cada um colocou o seu olhar”, resumiu Tiago. A ideia inicial é que a exposição fique no restaurante até o fim de novembro, mas o prazo pode ser encurtado, pois já há interessados em levá-la para outros espaços.
Paralelamente ao processo de conscientização do Prato Verde, o restaurante passou também a doar refeições para o Projeto Pescar, que promove qualificação de jovens de 16 a 19 anos. A Unimed, vizinha do Prato Verde, é uma das mantenedoras de uma turma, o que levou a educadora social da empresa a procurar Tiago para estabelecer a parceria para o fornecimento de almoço aos jovens. “Inclusive, eles também foram convidados a participar da exposição, mas não ficou pronto a tempo. Talvez eles ainda entreguem algo nos próximos dias, alguma arte que eles pensaram”, contou.
Além de Daniela, que tirou as fotografias, o artista plástico Martín Flores é responsável por duas telas, e a exposição contou com a participação ainda de Artur de La Justina, Francisco Kaminsky, Gabriela Porte e Marta Dueñas.
