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18 de novembro de 2015
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20:09

Integrantes denunciam desmonte de grupo de teatro para pacientes de saúde mental pelo governo

Por
Sul 21
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Integrantes denunciam desmonte de grupo de teatro para pacientes de saúde mental pelo governo
Integrantes denunciam desmonte de grupo de teatro para pacientes de saúde mental pelo governo
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Grupo ensaiava em uma casa, que foi recentemente fechada pelo governo | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Débora Fogliatto

O grupo Nau da Liberdade, formado por usuários e profissionais da rede de saúde mental, foi desmontado pela direção do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), subordinado à Secretaria Estadual de Saúde, no início do mês de novembro, segundo funcionários e pacientes que integravam a equipe. Alguns meses atrás, a casa que servia como sede de ensaios, eventos e apresentações para o grupo já havia sido fechada e, desde então, os participantes estavam ensaiando dentro das dependências do hospital. A Secretaria de Saúde, no entanto, não confirma o desmonte, apesar do remanejamento das profissionais que conduziam o grupo.

Desde sua criação, há dois anos e meio, o grupo já realizou 27 apresentações em 19 municípios do Estado, além de uma em Curitiba e outra no Rio de Janeiro. Há pouco mais de dez dias, ocorreu o lançamento de dois filmes, um média e um curta-metragem, sobre o trabalho da Nau: “Arte da Loucura” e “Navegantes”. O primeiro deles foi vencedor do I Prêmio Diversidade RS, na categoria Direitos Humanos, e é composto por entrevistas sobre os três meses do projeto que o grupo teatral italiano Accademia Della Follia realizou em 2013 com usuários do Rio Grande do Sul.

O encontro com o grupo italiano foi o que inspirou a criação da Nau da Liberdade, cujo trabalho já foi objeto de estudos de diversas faculdades, como IPA, Unisinos, PUC e UFRGS. A notícia foi dada às duas profissionais responsáveis pelo grupo pelo diretor do São Pedro, Gilberto Broffmann, que desde que assumiu o cargo demonstrou que seguiria a mesma linha do diretor responsável pela Saúde Mental na SES, Luiz Coronel, que acredita no fortalecimento do Hospital. Já as práticas que estavam sendo adotadas pela gestão anterior eram no sentido de promover cada vez mais o cuidado em liberdade.

Segundo relatos, nesta quarta-feira (18), o secretário-adjunto Francisco Paz reuniu-se com as profissionais responsáveis pelo Nau e os usuários que participam, para discutir o término do grupo. Na situação, segundo Fátima Fischer, uma das psicólogas que trabalhava na área, foi informado que a decisão era uma opção da gestão. “As justificativas foram de custo terapêutico e acadêmico. Eu questionei isso, não tem custo a não ser os nossos dois salários e busca dos usuários na Casa da Praça, e isso era o mínimo que podiam fazer. E do ponto de vista terapêutico, eram visíveis as melhoras, quem acompanha os usuários há algum tempo percebe”, relata Fátima.

Após pressão por parte dela e dos usuários, o secretário, que foi ao encontro acompanhado de sua equipe, teria admitido que se tratava de uma decisão de gestão. O grupo de teatro seria absorvido em uma oficina de criatividade que acontece dentro do setor de reabilitação. “Os pacientes questionaram se vão continuar realizando peças e viagens, e eles não responderam nem que sim nem que não”, relatou Fátima.

Uma das participantes da Nau, que esteve com o grupo desde o começo, Nilda Arruda Gregóski conta que percebe a diferença que o grupo tem no tratamento de seus integrantes. Ela mesma nunca esteve internada, mas considera a arte terapêutica para si e para os outros. “Eu observei desde o início que melhoraram muito e eu também, pela necessidade de expansão, de conversar, de ter mais amigos, fazer exercício físico”, afirmou ela, que tem 64 anos. Embora entenda que mudanças acontecem, ela lamenta a troca de formatos e de profissionais responsáveis.

Nilda acredita que a Secretaria poderia ter “levado em consideração o que as pessoas estavam reivindicando”, ao pedirem que o grupo fosse mantido no mesmo formato. “Quando tu vê um paciente com o olhar opaco e com o passar do tempo tu começa a ver um brilho no olho dele, isso pra mim é o que importa. E isso eu vi, vi trabalhos maravilhosos”, relata ela, que conta perceber que pessoas que nem conseguiam falar agora encontraram formas de se expressar.

A Secretaria de Saúde informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que as atividades não foram encerradas. Houve apenas o remanejamento das profissionais que eram responsáveis pelo teatro para outras áreas, mas o grupo será incorporado à oficina de criatividade. A Secretaria garantiu ainda que o diretor do hospital irá se manifestar sobre o assunto, mas somente na quinta-feira (19).


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