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15 de agosto de 2015
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19:37

“Eu vejo flores em você”: projeto ilustra cartas de mulheres para mulheres

Por
Sul 21
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Ilustração de Helena Barbieri
Detalhe de uma das cartas enviadas, de filha para mãe | Ilustração de Helena Barbieri

Débora Fogliatto

Com o objetivo de incentivar o carinho e a união entre mulheres, um grupo de jovens administra um projeto que as conecta de forma ao mesmo tempo retrô e inovadora: a partir de cartas ilustradas. O “Eu vejo flores em você” consiste no envio de cartas, que são mandadas por qualquer uma que esteja interessada para as organizadoras, que por sua vez as datilografam e ilustram e depois as mandam para a destinatária. A ação acontece sem custo algum e, com sua premissa simples, tem atraído bastante atenção das mulheres brasileiras, que até hoje já enviaram 225 cartas.

O projeto começou oficialmente no início desse ano, criado pela brasiliense Daniela de Carvalho Duarte, que teve a ideia em novembro do ano passado, quando começou a reunir participantes. No começo de fevereiro de 2015, as primeiras cartas começaram a ser mandadas. A ideia veio por motivos pessoais de Daniela, estudante de Ciência Política, que passou por problemas de saúde. Paralelamente, uma amiga que morava com ela foi diagnosticada com ansiedade, então as duas estavam “muito mal”. “E eu vi uma ilustração que me lembrou ela, eu imprimi e datilografei uma carta, que é a carta-piloto. Daí isso fez muita diferença pra ela naquele momento e eu pensei em fazer isso para outras meninas”, conta Daniela.

Ilustração de Larissa Ferreira
Detalhe de uma carta enviada entre irmãs | Ilustração de Larissa Ferreira

A partir daí, ela procurou grupos de ilustradoras nas redes sociais e falou da ideia, que foi recebida com entusiasmo. Atualmente, são 36 integrantes, das quais a maioria são ilustradoras,  e há mais cerca de três pessoas querendo entrar no momento. Daniela conta que tem recebido também propostas de diversos tipos, de mulheres que trabalham com audiovisual e educação, por exemplo. “Estamos tentando estruturar o projeto, antes só tinha as organizadoras, as administradoras e alguns outros cargos, tipo uma datilógrafa. Mas vamos ter que reestruturar a diretoria, porque cresceu muito”, conta a idealizadora.

O “Eu vejo flores” consiste, basicamente, em transformar um texto simples em uma carta com uma ilustração, que sempre está relacionada a flores. “Escrevemos a carta e repassamos para as ilustradoras via sorteio. E aí elas devolvem via e-mail e a gente imprime e datilografa por máquina de escrever”, relata Daniela. A ilustração é feita a partir do conteúdo da carta, mas a remetente pode também mandar uma foto de referência e uma flor preferida.

A grande maioria dos casos são cartas enviadas de filhas para mães, segundo a organizadora. “Foi super inesperado, eu pensei que ia ser mais entre amigas, entre feministas, mas as cartas para mãe são disparado as que mais mandam”, relata Daniela. Após o recebimento, as cartas ficam disponíveis no site do projeto, o que pode ocorrer de forma anônima se as participantes assim preferirem.

Todas as organizadoras são voluntárias e trabalham ou estudam paralelamente ao desenvolvimento do projeto. Daniela está fazendo seu trabalho de conclusão e trabalha com fotografia — a correria inclusive fez com que a entrevista para esta matéria quase precisasse ser feita às 23h30. “Todo mundo faz as coisas com muito amor, é muito gostoso ver a paixão das meninas em todas as ilustrações. Enviamos pelo correio e umas duas semanas depois começamos a postar no site, porque o correio dá um prazo de uma semana para postar”, conta.

Uma das coisas que Daniela percebeu, ao começar o projeto, é a união entre as mulheres que participam de redes feminista e de ajuda mútua. “Tem muito a crença de que juntas a gente consegue realizar qualquer coisa. Todo mundo está voltado para as mesmas coisas e todo mundo quer se ver crescer, todo mundo está sempre se ajudando”, reflete.

Detalhe de uma carta enviada de filha para mãe| Ilustração de Carolina Rodrigues
Detalhe de uma carta enviada de filha para mãe| Ilustração de Carolina Rodrigues

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