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24 de abril de 2015
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21:39

Após causar revolta, professor recebe aplausos nos corredores da PUCRS

Por
Sul 21
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Após causar revolta, professor recebe aplausos nos corredores da PUCRS
Após causar revolta, professor recebe aplausos nos corredores da PUCRS
Estudantes colocaram bigode para "imitar" professor, demonstrando apoio | Foto: Facebook/ Reprodução
Estudantes colocaram bigode para “imitar” professor, demonstrando apoio | Foto: Facebook/ Reprodução

Débora Fogliatto

Estudantes e egressos do curso de Direito da PUCRS se manifestaram, presencialmente e por meio de notas, em defesa do professor Fábio de Melo Azambuja, alvo de críticas desde a quarta-feira (22), quando teria dito em aula que “as leis, assim como as mulheres, foram feitas para serem violadas”. A fala, feita em tom de piada, segundo testemunhas, foi amplamente divulgada nas redes sociais.

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Enquanto as críticas ao professor cresciam, partindo tanto de alunos e ex-alunos quanto de grupos feministas, de direitos humanos e de políticos – como a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB), que disse em sua página no Facebook ter enviado uma solicitação de providência ao reitor da Universidade -, alguns optaram por defendê-lo. “O professor sempre foi muito cordial dentro da sala de aula, sempre abriu espaço para todos que quisessem expor suas ideias”, garantiu ao Sul21 Isabel Danieli Nardão Siciliana, aluna de Azambuja por dois semestres, que concluiu o curso em janeiro deste ano.

A estudante Júlia Pinto Loureiro, do oitavo semestre do curso, explica que busca defender não a fala do professor, mas o próprio docente. “Conhecemos ele, sabemos que ele age dessa maneira, conta piadas na aula. Além disso, essa fala não é dele, ele estava dando aula e simplesmente citou um caso que aconteceu na Espanha, um político espanhol que falou isso. A pessoa que propagou a informação não deveria estar prestando atenção na aula”, afirmou a aluna.

Os universitários criaram ainda a hashtag #somostodosazambuja para se manifestar a favor do professor. Um ato foi realizado na manhã desta sexta-feira (24) na Faculdade de Direito, quando estudantes vestidos de preto aplaudiram Azambuja na chegada ao prédio. “Esperamos o horário dele ir para a sala dele, quando ele chegou batemos palma, dissemos que estávamos com ele e ele tinha ajuda para se explicar, que jamais desejamos o desligamento dele. Até por ser uma pessoa de idade, que dá aula aqui há 40 anos”, contou Júlia.

Ela relata que tem ouvido muitas críticas por parte de outros estudantes que acusam os que defenderam Azambuja de serem machistas, mas reitera que isto não é verdade. “A nossa defesa não era dessa fala, mas dele como professor. Ele não teve chance de se explicar em nenhum momento, teve seu nome exposto e carreira manchada ao ser tachado como machista e a questão como apologia ao estupro”, afirmou, destacando que a maioria dos presentes no ato de apoio eram mulheres.

Já Isabel, que não pode comparecer ao ato, redigiu uma carta em apoio ao professor, que divulgou no Facebook e irá encaminhar à diretoria da universidade, em que se coloca contra qualquer atitude que “vise a promoção de discurso de ódio, seja pelo machismo, racismo, homofobia ou qualquer outra forma de discriminação”. Entretanto, reconhece que “seres humanos estão sujeitos a erros e a cometer deslizes, bem como a praticar atos impensados”.

Para Isabel e outros estudantes que assinam a nota, o professor está sendo “demonizado sem qualquer possibilidade de defesa”. “Importante salientar que temos a plena confiança de que ao proferir os dizeres que originaram esta polêmica, este professor jamais teria por objetivo fazer apologia a qualquer espécie de violência contra mulher, seja psicológica ou física. (…) Assim demonstramos contrariedade aos que defendem seu desligamento do corpo docente de professores da faculdade de Direito PUCRS”, afirma o texto.

Política estudantil

A polêmica cresce devido ao envolvimento de grupos de movimento estudantil, como o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a atual gestão do Centro Acadêmico Maurício Cardoso (CAMC), do curso de Direito. O CAMC também divulgou nota expressando apoio ao professor e criticando Luan Sanchotene, que foi o primeiro a divulgar a fala de Azambuja nas redes sociais. “O referido aluno, com estreita ligação com partidos políticos, postou a notícia sem preocupar-se com os termos utilizados e, pior, sem permitir que o professor ali acusado se defendesse”, manifestaram.

Na visão do Centro Acadêmico, a postagem, em que consta apenas a frase dita pelo professor, foi “sensacionalista” e houve “uma tentativa de destruir a imagem de um professor sem que este pudesse se defender”. “Como acadêmicos, defensores dos princípios que regem a nossa Constituição, acreditamos que se aproveitar de um fato como este, por mais infeliz que tenha sido, para criar um ataque desenfreado contra um ser humano, um pai, um professor com uma carreira na Universidade, é absolutamente desproporcional, e aponta uma conduta política e antidemocrática”, dizem.

Por outro lado, representantes da gestão do DCE afirmam que o CAMC é ligado ao Movimento Apartidário de Estudantes (MAE), que perdeu as eleições para o Diretório realizadas no início deste mês. O próprio Centro Acadêmico tem sido alvo de disputas, visto que não realiza eleições com pluralidade de chapas há anos, caso que está atualmente tramitando no Supremo Tribunal de Justuiça (STJ).

O DCE propôs que, a partir do episódio, fossem realizadas ações de formação para professores sobre diversidade sexual e de gênero. Estudantes que se opuseram à fala do professor se reuniram com a diretoria da Faculdade e pediram a abertura de uma sindicância para apurar o caso. A expulsão do professor não foi pedida na reunião, nem pelo DCE nem pelas alunas. Alguns acadêmicos de Direito também encaminharam uma nota criticando o professor e pedindo que a universidade oriente os professores para que não se perpetue humor baseado em opressões.

PUCRS irá apurar

O professor Azambuja foi procurado em seus telefones, mas não foi localizado. Oficialmente, a PUCRS informou ao Sul21 que ele não iria se manifestar. A Universidade se posicionou por meio da seguinte nota: “Representantes da Faculdade de Direito ouviram as partes envolvidas no fato relatado durante os dias de ontem e hoje. Estão sendo tomadas todas as medidas cabíveis para solucionar o caso. A PUCRS e a Faculdade de Direito não compactuam com qualquer manifestação ofensiva”.


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