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12 de outubro de 2017
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12:00

Sem reforma, é chegada a hora da revolução política

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Sul 21
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Sem reforma, é chegada a hora da revolução política
Sem reforma, é chegada a hora da revolução política
Fisiologistas por vocação, a maioria dos deputados e senadores focou apenas naquilo que mais lhe interessava: o financiamento das suas campanhas e a preservação das suas reservas de mercado (mandato). Imagem: Wikimedia Commons.

Sergio Araujo

Pois a tão aguardada reforma política não deu praticamente em nada. Ou seja, mudou sem mudar. Uma reedição do dito popular “a montanha pariu um rato”. Ou quem sabe da máxima “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”? E não foi por ausência de motivação. Nunca o cenário política brasileiro esteve tão fértil para mudanças.

Mas os nobres edis, que se julgam senhores do tempo e da razão, divergiram (mais uma vez) dos seus representados e transformaram a expectativa de melhora em consolidação do status vigente, onde mais vale o atendimento dos próprios interesses do que os anseios da sociedade.

Com isso, a desconfiança de que o corporativismo falaria mais alto do que os apelos por ética e moralidade na política, acabou se concretizando. Para infelicidade geral da nação. Fisiologistas por vocação, a maioria dos deputados e senadores focou apenas naquilo que mais lhe interessava: o financiamento das suas campanhas e a preservação das suas reservas de mercado (mandato).

Com o fim imposto ao Caixa Dois, uma realidade hipocritamente negada por todos (eu disse por todos), a saída encontrada foi mais uma vez o bolso do contribuinte. Sai a maracutaia e entra o fundo público de financiamento de campanha, orçado em bilhões de reais. E quem faz a distribuição e a prestação de contas? Os “insuspeitáveis” partidos políticos.

Tudo estaria bem se houvesse uma fiscalização séria e eficiente por parte dos agentes públicos. Mas sejamos sinceros, a falta de controle dos gastos públicos foi e é a principal causa do ciclo corruptivo implantado no país. E até mesmo os “penduricalhos” arrecadatórios incluídos no texto da “reforma” (campanha de doações online e eventos com ingresso pago), antes mesmo de vigorarem, já são olhados com suspeição.

Quanto ao apelo popular por renovação na composição dos legislativos, o que fizeram os nobres parlamentares? Mantiveram praticamente intactas as regras atuais para 2018 (que é a que lhes interessava), desmotivando, seja por questões econômicas e/ou de chantagem política, o surgimento de novas candidaturas e, consequentemente, reduzindo as chances de êxito de quem por ventura ousar disputar as urnas com eles. Uma inescrupulosa reserva de mercado. Ou para os mais atentos, uma fábrica de fóruns privilegiados (nos dois sentidos da expressão).

É por isso que a nova ordem cidadã deve primar pela resistência e não por reformas de fachada. Um movimento no qual os cidadãos, de maneira civilizada e democrática, assumam definitivamente os destinos das suas vidas, atuando como agentes da sua própria revolução. Iniciando por fazer uma transformação nas suas atitudes e métodos, abandonando o hábito de transferir a terceiros o sucesso ou azar da concretização das suas prioridades.

Mais, precisa duvidar do que lê, ouve ou vê. Ludibriar cento e quarenta e cinco milhões de eleitores (TSE/2016) não é uma coisa simples, que pode ser gerada e implementada por um punhado de políticos de má índole. Precisa de uma organização complexa e muito bem estruturada. Coisa de gente muito organizada e de muita grana.

Ou você acha que a mobilização do tal grupo de ricos empresários, que segundo dizem quer ter a sua própria bancada no Congresso, acontece por amor à pátria e não por interesse financeiro, corporativista? Claro que não! E vamos permitir que eles fazerem isso na cara dura?

E não me diga que se trata de uma briga entre Davi e Golias. Se houve uma transformação que se processou de forma espontânea e eficaz foi a do formador de opinião virtual. Graças à Internet, especialmente às redes sociais. E é nela que se processa a nova democracia opinativa e a grande batalha cidadã.

E foi esse empoderamento popular, promovido pela web, que gerou a tentativa de censura as críticas formuladas à classe política pelas redes sociais. Menos mal que ela não logrou êxito. Mas serviu para mostrar que político acostumado à manipulação mercadológica jamais aceita a opinião livre e independente. Nem na Internet.

Trata-se de um visível sintoma de que a ortodoxia política sentiu o golpe. E que seu adeptos já não tem a certeza de que ter dinheiro significa garantia de manipulação do voto. Mesmo com especialistas em marketing, robôs eletrônicos ou apoio editorial financiado. E é esse cheiro de transformação, de mudança, que paira no ar, que está aterrorizando suas consciências. Um vacilo que oportuniza um caminho para o alcance da almejada revolução política.

A Internet é a demonstração de que o cidadão está cada vez mais desconfiado e crítico. E que isso lhe tornou protagonista e não mais apenas um simples e isolado eleitor. Agora ele é formador de opinião. Um multiplicador de ideias. Ou seja, descobriu que o mesmo dedo que aperta a tecla da urna também pode disparar a bala virtual que desperta consciências.

A batalha recém começou, mas já se observa o medo nos olhos do inimigo. E o medo transforma as pessoas. Move o mundo. E muda destinos. E aí? Está preparado para a guerra?

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Sergio Araujo é jornalista.


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