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5 de outubro de 2017
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10:35

A derrota do marketing de Sartori e Marchezan

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Sul 21
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A derrota do marketing de Sartori e Marchezan
A derrota do marketing de Sartori e Marchezan
Então veio o tal globalização, vitaminada pela Internet, e mesmo assim governantes e políticos ainda não aprenderam o verdadeiro sentido da comunicação social. Foto: Luiz Chaves/Palácio Piratini

Sergio Araujo

O desbocado e grande comunicador Abelardo Barbosa de Medeiros (Chacrinha) sabia o que dizia quando afirmou, há décadas, que “quem não se comunica se trumbica”. Da mesma forma, muitos anos depois, foi a vez do então presidente dos EUA, Bill Clinton, ter o seu arrobo de sinceridade ao dizer que “a comunicação representa 50% do sucesso de um governo, mas, na ação política, ela chega perto dos 100%”. Então veio o tal globalização, vitaminada pela Internet, e mesmo assim governantes e políticos ainda não aprenderam o verdadeiro sentido da comunicação social.

Cito dois casos recentes disso. O primeiro foi a decisão do pouco falante José Ivo Sartori, que em meio a uma greve do magistério por atraso de salário resolveu anunciar que iria descontar os dias paralisados. Ou seja, não vai pagar o que já não estava pagando. Coisa de gênio do mal. Se vinga dos professores colocando sob ameaça o ano letivo de milhares de alunos. Menos mal que a Justiça parece que não irá permitir que os depauperados servidores sejam ainda mais prejudicados.

Incrível que, passado 70% da gestão, Sartori continue pensando que os gaúchos ainda acreditam que ele esteja fazendo um governo para todos, mesmo quando o que se percebe é um descontentamento generalizado, fruto de uma estratégia equivocada e improdutiva da valorização do discurso do caos das finanças públicas. A única coisa certa nisso tudo é que o marketing está sendo derrotado pela comunicação inadequada.

O outro caso refere-se à mensagem postada pelo prefeito Nelson Marchezan Júnior nas redes sociais, na qual ele utiliza os danos provados pela temporal do último domingo para defender a necessidade do reajuste do IPTU, proposta fragorosamente rejeitada pela Câmara de Vereadores. Uma insensibilidade e uma inaptidão comunicativa poucas vezes vista.

Adepto do “eu mando e tu obedece”, e do “eu acerto e tu erra”, o tucano é campeão em matéria de ruído de comunicação. A ponto de fazer com que o seu então líder do seu governo, Clàudio Janta, subisse à tribuna para criticar a forma como o prefeito se relaciona com a Câmara de Vereadores.

Isso sem falar nos secretários de governo que, pouco a pouco, estão pedindo exoneração dos seus cargos. Tudo em apenas nove meses de governo. Desse jeito não há selfie, live ou coreografia que possa impedir a degradação da sua imagem enquanto gestor.

Mas essa inabilidade em se comunicar parece ser mesmo uma característica dos arrogantes. O twitteiro falastrão, Donald Trump, por exemplo, é campeão em postar bobagens inadequadas como se fossem jocosas. Aliás, me ocorre perguntar: por que o rei Juan Carlos da Espanha ainda não mandou o topetudo americano calar a boca? E, aproveitando a deixa, por que a Fernanda Lima ainda não deu a Temer o mesmo cala-a-boca que deu em Sílvio Santos?

Ok, eu sei, não precisam responder. É que as vezes baixa em mim o espírito do Dr. Luther King e eu começo a sonhar, e outras vezes o do John Lenon, e eu começo a imaginar coisas.

Dentre as conclusões possíveis dessa falta de habilidade comunicativa, envolvendo políticos que convencem nas eleições, mas que perdem a credibilidade em seus governos, é que todos eles são portadores de uma característica comportamental predatória aos interesses de quem se propõe ser representante da vontade de uma maioria, a teimosia. Com uma indisfarçável pitada de prepotência.

Bem, sendo assim, não há como não reconhecer que o Rio Grande do Sul e Porto Alegre estão muito bem servidos e, nesses casos, conforme Chacrinha, trumbicar é uma consequência inevitável.

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Sergio Araujo é jornalista.


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