Por Raul Ellwanger (do livro Nas Velas do Violão)
Na esteira de um grande festival realizado em Asunción com a presença de cantautores de vários países, na época da redemocratização do Paraguai, compus esta canção de louvor ao nosso continente, depois gravada no disco Luar. E’ uma salsa, é um afoxé, o que é? o que é? Lembrando a figura de alguns líderes e nomeando alguns países queridos, tentei exaltar o lado construtivo e alegre do espírito libertário americano, evitando certo tom de tristeza que às vezes tinge nossas canções “protestativas”.
Um pouco cansado de haver composto muitas canções densas, cheias de manejos harmônicos e tretas formais, me propus o desafio aparentemente simples de compor um tema com apenas três acordes, dispostos na mesma ordem e com a mesma duração. Parece ser a tarefa mais fácil. O problema é conseguir um bom resultado, para quem fez a cabeça com os labirintos deslumbrantes de Tom Jobim e sempre se apoiou e dependeu da harmonia como esteio compositivo. No jogo rítmico tecido pelos instrumentos, as pequenas diferenças nas levadas e acentuações dão o molho e o tempero à condução e ao andamento.
Começa com a rima de “hermano” que mistura os idiomas, invocando o povo e pedindo que cantem, celebrando a liberdade, a terra, o trabalho e a paz. Coloquei a palavra “companherada” para recordar os discursos do Governador Leonel Brizola, que ainda adolescente escutava na Rádio Farroupilha nas sextas-feiras do início dos anos ’60, pois ficou no meu ouvido aquele termo enfático seguido de um bom silêncio retórico.
Citando dirigentes menos lembrados pelas histórias oficiais, destaco a figura do carbonário xeneize Giuseppe Garibaldi, que lutou por três países, comandou a pequena esquadra uruguaia e que ao lado de Napoleão foi um dos maiores líderes populares que a Europa do século XIX conheceu. Junto à lagunense Anita, destacou-se nas hostes farroupilhas pela bravura e inventividade. Gostei de citar Sandino e Artigas, gostei de rimar Garibaldi com tarde, assim como gostei de rimar Bolívar com reviva, como gostei de errar a prosódia e fazer tempo forte na última sílaba de brasileira.
Pátria grande
Raul Ellwanger
Salve meu povo latinoamericano
Salve meu hermano
Salve a companherada
Canta meu povo tua luta é santa
Tua terra liberada
Teu trabalho em paz
Toda beleza há de fazer-se cedo ou tarde
Com bandeiras de Artigas, de Sandino e Garibaldi
Nesta província verdadeiramente humana
A pátria grande latinoamericana
Salve meu povo latinoamericano
Salve meu hermano
Salve a companherada
Canta meu povo tua luta é santa
Tua terra liberada
Teu trabalho em paz