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21 de abril de 2017
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10:00

Canções catarinenses: Praia do Rosa

Por
Sul 21
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Por Raul Ellwanger (do livro Nas Velas do Violão)

Conto aqui o caso da canção que nasceu contra a vontade do autor. No começo dos anos ’80, andava com Pery Souza e Jerônimo Jardim em constante parceria criativa no Rio de Janeiro. Grande amigo nosso, Ivan Lins produziu alguns pilotos que depois levávamos aos selos gravadores sugerindo que gravassem discos conosco. Como sempre, pouco resultou disso, sendo a parte mais evidente desta amizade musical a participação vencedora de Jerônimo num Festival da Globo com sua Purpurina, cantada magnificamente por Lucinha Lins. As parcerias eram boas, criativas e não foram em vão; terminaram por diversos caminhos achando seu lugar no cenário musical discográfico. Não por acaso, três discos foram lançados pelo selo RBS no final de 1984, exatamente dos três parceiros do bairro Peixoto, e neles há muitas obras dessa safrinha.

No pacote de canções que eu tentava produzir não estava esta Praia do Rosa. Mas Ivan, que aprendia e tocava aplicadamente a harmonia de cada canção, insistia com ela, mesmo eu dizendo que era apenas um caco, uma metade de tema sem fôlego nem poético nem musical. Tanto fez que me convenceu e lá fomos com Pery e seu bombo leguero (!) para o estúdio de Júlio Hungria em Santa Teresa. Gravamos quatro ou cinco temas, com resultados bem bonitos.

O pouco fôlego musical não teve solução, ficou nisso mesmo: três ou quatros frases normais e agradáveis, sempre contrastadas por um vocalize adequado, que se tornou parte do tema, não apenas arranjo. No aspecto poético, compus uma segunda parte de letra, sempre assentada naquela única parte A da música, e assim chegamos a ter uma canção minimamente formatada. É interessante observar que cada estrofe forma uma décima, se contarmos a repetição dos dois últimos versos.

Sem eu ter consciência disso, o texto desta segunda parte comenta muito sutilmente a perda de nosso colega Carlinhos Hartlieb, justamente naquela praia e naquele momento de gravação do disco Gaudério, quando fala “nascemos pra ser felizes /apesar do que pesar”. O mesmo Carlinhos, com quem compus temas na vizinha Garopaba, 18 anos antes, o mesmo Carlinhos que no verão imediatamente anterior estava conosco no Rio de Janeiro levando as fitas-rolo de seu futuro disco póstumo Risco no céu.

Considero o arranjo de Jota Moraes de uma felicidade extraordinária, na gravação para o vinil Gaudério. A começar pela indefinição do estilo e ritmo originais, com suas partituras ele conseguiu “levantar” o tema, no que foi brilhantemente acompanhado por Jamil Joanes, Téo Lima, Sidinho e Jaime Alem, que criaram uma levada pra lá de gostosa, com variações constantes de baixo/pé direito da bateria, percussão vivaz e aquelas beliscadas saltitantes da guitarra. Como se vê, Praia do Rosa teve boas companhias e terminou sendo uma das minhas canções mais conhecidas.

Praia do Rosa

Raul Ellwanger

Menina que terra linda
Praia do Rosa do mar
Balaio cheio de encantos
Tem pra vender, tem pra dar
O sonho que a gente sonha
Nem carece imaginar
Menina que terra linda
Praia do Rosa do mar

Cada noite que eu pise
No teu leito de luar
O segredo que me dizes
Tem a força do teu mar
Nascemos pra ser felizes
Apesar do que pesar
Menina que terra linda
Praia do Rosa do mar.


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