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6 de maio de 2017
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14:23

Fissuras No Casco

Por
Sul 21
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Paulo Timm

Adverte o imortal Guimarães Rosa:

“O invisível todo mundo vê, só de fechar os olhos, questão essa. Mas o raro mesmo é ver o visível, a cujo ninguém não quer nem olhar. Tudo mal aperfeiçoado. Trestriste. Só sofrem a esperança de não morrer. Pode não! Pode não! Sonhice; Nem não sabem que mestre é aquele que, de repente, aprende. E que a gente só sabe bem mesmo aquilo que não entende. Oressa…”

Debruço-me sobre este dito cujo e o que vejo? Vejo fissuras no interior das forças conservadores que empolgaram o Governo, depois de quase 14 anos de reinado da esquerda, a saber os 25 Partidos com representação no Congresso Nacioanl- rigorosamente só o PT ,PCdoB e PDT são Oposição – grande empresariado e a Mass Mídia, que jamais escondeu suas reservas com o lulo-petismo. Dos Partidos, dois merecem destaque, o Partido baleia, o PMDB, com maior número de prefeitos e representantes no Congresso e o PSDB, o Partido delfim, que sem ser tão grande sói deter grande peso pela hegemonia histórica que exerce no Estado de São Paulo e pela presença do condestável Fernando Henrique Cardoso. Em ambos, turbulências à vista.

Todo mundo sabe que o PMDB é um saco de gatos, desde que Ulysses Guimarães o transformou num estuário de descontentes. Com os anos, transformou-se numa organização de interesses mútuos, sem ideologia, nutrido pela velha tradição coronelista de arrivistas sociais agarrados na escada do Estado. Lá vicejam desde fascistas até combativos nacionalistas enamorados da esquerda como o Senador Requião. E tem o impagável Renan Calheiros, ex Presidente do Senado, no corredor da morte da Lavajato e com a reeleição à perigo nas Alagoas. Com ele começam as turbulências no lado Governista. Transformou-se, no Senado, no líder da Oposição ao Governo e já avisa que nem a Reforma Trabalhista, nem a Reforma da Previdência terão curso fácil na Casa que ele considera “dele”. Temer se esforça em diminuir a tensão, mas nada acalma o que não é sequer ira, ou desavença de Renan, pois ele apenas rejeita imolar-se em nome de Temer. As reformas em curso são impopulares, rejeitadas por grande maioria da população, que promete se vingar-se nas urnas.

As ameaças de Calheiros ecoam pelos corredores do Congresso, onde aumentam as traições elevando a temperatura em Brasília, que comçam a desnudar o Rei. E ressoam em outros campos.

Uma nova geração de empresários de elite, com um trio com passagem por Harvard, acaba de lançar em São Paulo o “Movimento Acredite”, que lembra a dissidência do Pensamento Nacional das Bases Empresariais dos anos 90. Estão insatisfeitos com a radicalização conservadora e proclamam a necessidade de uma onda progressista, com projeto de médio prazo, para fazer a renovação política “do jeito certo”. – FolhaPress S.Paulo – 28.03.2017 – Paralelo a este movimento, Bresser Pereira, ex tucano, lançou semana passado, com a presença de cinco mil pessoas no Largo do São Francisco, um “Manifesto à Nação”, com duras críticas às políticas do Governo Temer. Renasce a sociedade civil relembrando sua presença em grandes momentos nacionais.: OAB, CNBB, Centrais Sindicais, etc. Como se não bastasse, sob a liderança de outro tucano ilustre, ex Governador de São Paulo, Alberto Goldman, de longa trajetória pública, voltou a reunir o “Movimento EPV – Esquerda Pra Valer”, criado em 2004, como objetivo defender os fundamentos social-democráticos do PSDB e aplicá-lo à nossa realidade contemporânea. Eles realizaram o Congresso de Líderes do Movimento de 29 de abril – 1° de maio passado e aprovaram a Carta de Mairiporã, um duro libelo contra o apoio do PSDB ao Governo Temer, que consideram de retrocesso sobre as conquistas da Constituição de 1988.

Sublinhando esta subversão no convés conservador, o ex Ministro Delfim Neto, paladino do empresariado nacional, fulminou em sua última coluna das quartas na FSP (26/03/2017), advertindo que “o Brasil se precipita na decadência”:

“(…) o liberalismo à brasileira retornou às suas origens: autoritário, oferece aos enriquecidos o roteiro para a disseminação das ilusões que vão eternizar as realidades do crescimento meia-boca. No mesmo realejo tocam a ladainha do “populismo”, para enquadrar os recalcitrantes que insistem na garantia dos direitos das classes subalternas. As reformas modernizantes fazem conluio com os ranços e rancores que ora predominam no âmbito político-jurídico.” 

Com todo esse ruído, Temer teme e treme, tendo como única “alternativa” é tentar cantar a derrota como vitória. De Pirro?

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Paulo Timm é economista, 74, pós-graduado CEPAL/ESCOLATINA – Prof. aposentado da UnB . Fundador do PDT.


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