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22 de abril de 2017
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10:00

Odebrecht: “O Estado sou eu”

Por
Sul 21
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Paulo Timm – Especial para A FOLHA, Torres

Ainda é muito cedo para se fazer um juízo definitivo sobre o sentido histórico da Operação Lavajato no Brasil. Para grande parte de esquerda, ela é parte de uma conspiração, com raízes no Norte, para desmontar a promissora economia brasileira e o avanço popular representado pela Era Petista. Já fazem até cálculos de prejuízos gigantescos e falências irrecorríveis. Bastaria, aliás, olhar para nossa cidade de Rio Grande, para o comprovarmos.  Para a direita,  Governo Temer inclusive, a Lavajato foi alardeada, até há pouco, como a faxina ajudaria a encerrar a Era Lulo -Petista no país. Cada vez mais, porém, é  por todos – ou quase todos – como uma Espada de Dâmocles capaz de decepar cabeças de todos os lados com métodos pouco recomendáveis, como o prolongamento de prisões temporárias como técnica de obtenção de in-críveis delações. A verdade é que se comprova, com a Lavajato, que, se a vida é breve e longa a arte, mais longa ainda é a conivência entre a Política e as Empreiteiras  em nosso país e ela acabou gerando uma cultura política deplorável, na qual o patriarca deste segmento, Emilio Odebrecht poderia, orgulhosamente, parodiar Luiz XIV, dizendo: -“O Estado sou Eu”.

 Duvido que esta operação consiga, por si só, produzir uma mudança nesta cultura. Isso exigIRIA mobilização da vontade nacional, tal como o movimento novecentista liderado por Ortega y Gasset na Espanha, reorganização da presença popular na vida pública, de forma a captar valores positivos na sua reconstrução, como fez os Estados Unidos contra o domínio dos “Barões Ladrões” e  a Europa no pós-guerra, grandes alterações nas instituições e na legislação sobre Partidos e Eleições, como fizeram alguns países escandinavos.  Até agora o Juiz Moro não nos disse como isso tudo vai trans-correr, ou seja, correr ao longo dos processos judiciais. Fica parecendo que, por um lado, vai o padre, por outro, a missa. Veja-se a letra da reação do Palácio do Planalto diante das estarrecedoras declarações de Marcelo Oderbrecht, que coroaram a liberação da lista de Janot/Fachin, envolvendo o próprio Presidente Temer e diversos de seus Ministros: “Nada de novo…”. Ou seja, fica tudo “naturalizado”. Corremos o risco de ter que conviver, por mais uma geração, com líderes em plena mobilidade, usando, apenas, tornozeleiras, além do terno e gravata.

O grave de tudo isso é que sacode a nação, deixando-a quase prostrada diante de tanta conversa, que tanto pode ser fiada como confiada, pois, até agora, poucas provas materiais foram apresentadas, remetendo-se tudo isso para os escaninhos judiciais de longue durée com o risco de, apresentadas provas, fiquem superadas pela caducidade das penas. Isso sem falar nos prejuízos de imagem de acusados. 

O pior de tudo, porém, é que nos damos conta da promiscuidade nada republicana entre Estado e  interesses privados e dos relatos copiosos recolhemos, enfim, sob o véu da certeza,  tantas dúvidas quanto são as indagações. E nos perguntando se ainda podemos depositar esperanças na democracia como governo das leis pelas leis e para a Lei. Em Roma, para enfrentar estes momentos criou-se a figura do ditador que deveria governar por si mesmo, sobre a Lei, por um período de tempo, findo o qual, se persistisse no Poder seria um Tirano. Ele procederia cirurgicamente corte do nó górdio das crises. A machadadas… Espero que não caiamos na mesma tentação. Afinal, dois milênios nos separam…

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Paulo Timm é economista, 72, pós-graduado CEPAL/ESCOLATINA – Prof. aposentado da UnB . Fundador do PDT.


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