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25 de fevereiro de 2017
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09:00

O futuro da França no contexto europeu

Por
Sul 21
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Se a burguesia européia é crepuscular , a creolla é inautêntica.
J.C. Mariátegui, escritor peruano, sec. XX

Tenho insistido em que há que se acompanhar melhor o que vai pela esquerda europeia, sobretudo, agora, às vésperas das eleições presidenciais na França. Não raro, seguimos, na esquerda brasileira,  seus passos.

A grande novidade na  Europa consiste na radicalização das posições político-ideológicas diante das recentes reavaliações da globalização e seus reflexos na sociedade. Antigas áreas tradicionalmente dominadas pela esquerda voltam–se , crescentemente, para a extrema direita. Já se disse que isso tem muito a ver com as as assimetrias e descontinuidades da expansão capitalista em escala mundial. Isso, aliás, não é novidade. Trotsky deu a este processo o sugestivo nome de desenvolvimento desigual e combinado, do qual retirou, acertadamente, a conclusão do caráter socialista da Revolução de Outubro, na Rússia. Sua comparação entre as revoluções de  1789, 1848 e 1905 é um clássico. O que estaria a mudar, nos dias de hoje, é a velocidade deste processo, associado ao uso dos recursos telemáticos que potenciaram a acumulação financeira. Além disso, com o desenvolvimento da  robótica, associado ao reescalonamento internacional das plantas industriais corresponderam dois fenômenos: 1. Decadências de antigas e prósperas regiões industriais, onde os sindicatos mantinham estreitos vínculos com as opções de esquerda;2. Requisitos  cada vez mais sofisticados no recrutamento da mão de obra, deixando para trás amplos segmentos sociais que não conseguem acompanhar o desenvolvimento tecnológico.

Isso tudo já se sabe. Mas os reflexos disso, na Europa, residem na deterioração da convergência  entre liberais e social reformistas, de vários nomes, em vários países, na promoção da globalização e que teve seu apogeu nos anos 90. Isso, aliás, não se restringiu à Europa. Tucanos no Brasil, e peronistas argentinos sob a liderança do Presidente Menem também o fizeram.  Para tanto, deve ter muito contribuído  a queda do Muro de Berlim, em 1989 e o desmantelamento da URSS dois anos depois.

Essa lua de mel – ou de fel – esgotou-se. Paradoxalmente, o único grande líder associado à esquerda que ainda defenda o sistema global é o Presidente da China  Xi Jin Ping. Até nos organismos financeiros internacionais tem crescido o entendimento de que o grande problema contemporâneo não são os déficits públicos mas a desconcertando e crescente concentração da renda, cujos efeitos, aliás, transbordam para o sistema político comprometendo a democracia. Aí se insere a recente admoestação da Presidente do FMI ao Ministro Henrique “Plácido” Meirelles.  Plácido, porque ainda navega no doce sonho da globalização dourada dos anos de 90…Tenho  registrado, no sentido de uma nova era da esquerda europeia, para  a  ruptura das alianças tradicionais entre esquerda e direita,  evidenciando a abertura  de novas tendências cada vez mais críticas ao Consenso de Washington e aos rigores fiscalistas das autoridades financeiras.

Esta fenda, situa, de um lado, os mais radicais e ortodoxos, que sempre condenaram a União Européia e que consideram que o passo para a superação da crise é o advento do socialismo; de outro, setores da esquerda, cada vez mais hegemonizados pelos gregos, que, sem abdicar do horizonte socialista continuam acreditando no movimento pela aprofundamento da democracia, através, inclusive , de uma constituinte para mudar estruturalmente o processo decsisório no interior da União Europeia. Neste sentido, a posição de Varoufakis, ex Ministro da Fazenda do Governo SYRITZA, na Grécia,  não é propriamente nova, nem , de longe, significa um retrocesso ao denominado AUSTERICÍDIO preconizados pelos técnicos da Troika. É, sim, uma nova abordagem à crise, submetendo-a aos imperativos do aprofundamento da democracia.

Continua em :

http://www.paulotimm.com.br/site/downloads/lib/pastaup/Obras%20do%20Timm/160722014246ALTERNATIVAS_PARA_A_ESQUERDA_NA_EUROPA.pdf

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Paulo Timm é economista, 72, pós-graduado CEPAL/ESCOLATINA – Prof. aposentado da UnB . Fundador do PDT.


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