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20 de outubro de 2017
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09:45

Pílulas ainda mais amargas

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Pílulas ainda mais amargas
Pílulas ainda mais amargas
Imagem: A.P.D.G/Domínio público

Paulo Muzell

A volta da escravidão

Há muitos anos esta nossa oligarquia canalha, que sempre explorou ao extremo o trabalhador brasileiro, luta com unhas e dentes para pagar menores salários. A terceirização, até a pouco tempo só permitida para atividades meio, com a reforma trabalhista se estende às atividades fins. A consequência será o aumento da rotatividade, jornada de trabalho maior e salários mais baixos. Em 1998 governo FHC aprovou no Senado o projeto de lei 4.302 que tinha este objetivo. Felizmente, o projeto ficou por vários anos engavetado na Câmara Federal. Quem imaginava que as classes patronais estivessem saciadas, satisfeitas com a reforma trabalhista, estava completamente equivocado. Eles queriam ir e foram além. Para fazer um agrado à bancada ruralista, a turma do boi, o desgoverno Michel Temer editou a Portaria 1129/17 revogando as normativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que definem limites a serem obedecidos pelos grandes proprietários rurais, que, especialmente no Mato Grosso e Goiás usualmente exploram seus peões, impondo-lhes condições de trabalho desumanas que remontam ao século XIX, dos tempos da escravidão. Temer deu o recado e agiu rápido: demitiu André Roston, o responsável pela fiscalização e erradicação do trabalho escravo do Ministério do Trabalho e passou a censurar a “lista suja”. Com a nova portaria a inclusão de nomes na lista passará pelo crivo do ministro.

Traíra trai e por traíra será traído        

Deputados ligados a Rodrigo Maia, segundo se noticia, já estão discutindo a  formação de um governo pós-Temer. O vice golpista traiu a presidenta eleita e agora, enfraquecido por novas e graves denúncias, poderá ser derrubado pela camarilha que comprou para votar a favor do golpe.

Covardia do Supremo

O Supremo (STF) se desmoraliza mais a cada dia que passa. Os “pavões togados” não conseguem disfarçar seu desrespeito à Constituição. O casuísmo é a regra, “pau que bate em João não bate em Pedro”. Impediriam Lula de assumir um cargo de ministro alegando que era um expediente para escapar das garras de Moro e da Lava Jato. Já na clara manobra de Temer, de atribuir ao cargo de Moreira Franco status de ministro, livrando-o das garras do justiceiro do Paraná, calou. Dois pesos e duas medidas. Mais recentemente cassou o mandato e prendeu Cunha, mas, no caso de Aécio, vacilou, passando a “batata quente” para o Senado. Uma camarilha, que é maioria no Senado, não teve pejo ou vergonha, restituiu o mandato ao seu colega de crimes. De um total de 72 votantes apenas 28 votaram com dignidade, teclaram o “sim”, pela cassação do mandato de Aécio.

A ração humana de Dória

Ele é um péssimo prefeito e pensa ser um marqueteiro bem sucedido, mas desta vez, errou feio. Anunciou ter a solução para erradicar a fome da população pobre da periferia de São Paulo. A fórmula mágica: aproveitar os alimentos vencidos ou prestes a vencer na rede de supermercados da cidade que, reciclados, seriam transformados numa ração humana. Todos órgãos e entidades que tratam da alimentação humana como o Conselho Regional de Nutrição/SP classificaram a proposta como inadequada, um retrocesso. A cena burlesca que ilustra o equívoco da iniciativa é que Felipe Sabará, o secretário de assistência social de Dória, convidado num programa de televisão para testar, ao vivo e a cores, o novo “composto”, fez caretas, teve engulhos e quase vomitou.

Entreguismo escancarado

A Globo perdeu totalmente a vergonha: passou a defender abertamente a entrega do pré-sal às petrolíferas estrangeiras.

Os fascistas atacam em São Paulo

Um alegado telefonema anônimo denunciou um filho de Lula: ele teria um estoque de drogas em sua casa em São Paulo. Sem qualquer investigação preliminar a polícia fascista de Alckmin conseguiu um mandato de uma juíza – provavelmente assinado em branco como nos tempos da ditadura – para invadir de forma violenta a residência do suposto suspeito e vasculhar tudo. Não encontraram nada.

A ditadura da Venezuela

O chavismo venceu em 17 dos 22 estados do país e a mídia internacional controlada pelos Estados Unidos repete à exaustão que o país vive numa ditadura. A Organização dos Estados Americanos (OEA) teima em afirmar isso e vai além, cogita reconhecer a legitimidade de um governo paralelo.  

 Ressuscitou

Ele simplesmente “saiu do ar” por muitos meses. Em fevereiro surpreendeu a todos ao pedir demissão do cargo de Ministro de Relações Exteriores. Alegou problemas de saúde: dores na coluna e uma cirurgia nos olhos. Nas aparições públicas ele dava sinais de estar caquético, numa entrevista não conseguiu citar o nome dos países que compõe o BRICS. Alguns acreditaram num possível fim de sua carreira política decorrente de irreversíveis problemas de saúde. Outros, mais realistas, interpretaram o seu “exílio” como uma conveniente retirada temporária para se proteger das denúncias sobre depósitos ilegais no exterior de “sobras” de campanhas, o “caixa dois” de “doações” da Odebrecht e da JBS.  Assumiu a moleza do mandato no Senado permanecendo em silêncio. Para surpresa geral, neste mês de outubro ressuscitou, anunciando uma possível candidatura ao cargo de governador de São Paulo no ano que vem. É claro que ele votou “não”, contra a cassação do mandato de Aécio.       

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Paulo Muzell é economista. 


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