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16 de outubro de 2017
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10:46

Marchezan Jr. esbraveja, insulta e não governa

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Sul 21
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Marchezan Jr. esbraveja, insulta e não governa
Marchezan Jr. esbraveja, insulta e não governa
A eleição de Marchezan Jr. foi o resultado da conjugação de circunstâncias singulares, que dificilmente poderão se repetir. Em primeiro lugar ele foi favorecido por fortes ventos que impulsionam a direita não só aqui no Brasil, mas nos principais países do mundo. (Foto: Maia Rubim/Sul21)

Paulo Muzell

Já no décimo mês do seu primeiro ano de governo, o Júnior ainda não disse a que veio. A cidade já estava mal, piorou: o trânsito continua caótico, um transporte público ruim ficou mais caro, as vias estão mais esburacadas e mal iluminadas. O precário sistema de semáforos com frequência em pane, ramos de árvores não podadas impedem que o motorista consiga enxergar o sinal, nossas praças continuam mal cuidadas. A coleta seletiva do lixo está em colapso, foi decretado o fim do orçamento participativo, um símbolo da cidade.

Marchezan Júnior é um político conservador, privatista, neoliberal, o velho que se apresenta como o novo. Repete à exaustão os velhos chavões dos anos oitenta da era Thatcher-Reagan, que proclamava como valores maiores a busca do aumento da produtividade e da eficiência, o estímulo ao individualismo e à competição. Só será “premiado” quem fizer por merecer, a velha imagem da cenoura que faz o burro andar. A meritocracia é o valor maior, sua profissão de fé, ele se ajoelha e reza diante do deus mercado. A eleição de Marchezan Jr. foi o resultado da conjugação de circunstâncias singulares, que dificilmente poderão se repetir. Em primeiro lugar ele foi favorecido por fortes ventos que impulsionam a direita não só aqui no Brasil, mas nos principais países do mundo.

O PT encolheu, resultado de seus próprios equívocos, e, também, porque foi alvo do mais impiedoso massacre jurídico-midiático que este país já viu. Os ataques começaram lá em 2005 com a Ação Penal 470 e prosseguiram
com a operação Lava Jato.

Na eleição municipal de 2016, o ciclo de 16 anos de gestões petistas (1989/2004) era coisa do passado, apagada da memória popular. Foram esquecidos os grandes investimentos que asseguram a realização de importantes obras de infraestrutura na cidade, a melhoria da iluminação pública, as obras de saneamento e recapeamento asfáltico nas vilas da periferia, além da montagem de um grande plano de saneamento, o sócio ambiental. A Carris foi recuperada e, por vários anos, premiada por entidades nacionais como a melhor empresa pública de transporte urbano do país. Gestões transparentes viabilizaram e impulsionaram o Orçamento Participativo. Além da passagem do tempo, que tudo apaga, o PT não conseguiu formar novas lideranças que pudessem substituir e dar continuidade ao trabalho realizado por Olívio Dutra, Tarso Genro, Raul Pont, dentre outros.

Em 2005 a eleição de José Fogaça iniciou um novo ciclo. Foram três governos que se sucederam favorecidos por uma grande aliança de centro-direita comandada pelo PMDB e o PDT. Em 2010 Fortunati, o vice, assumiu em
decorrência da renúncia de Fogaça, que se afastou para concorrer à governança. Fortunati conseguiu se reeleger prefeito em 2012 e completou seu segundo período de governo em 2016. O ciclo Fogaça-Fortunati (2005/20016)
foi um completo desastre. Denúncias de desvios e indícios de corrupção ocorreram na Procempa, na Carris, no DMLU, na SMAM, no DEP, no programa socioambiental, na Fazenda (SIAT), dentre outros. Uma política salarial
desastrosa combinada com o descontrole da despesa de custeio (serviços de terceiros), desequilibrou as finanças municipais, especialmente no último biênio (2015/2016). O melancólico final da gestão Fortunati e a escolha de Sebastião Melo, um candidato com pouca expressão política, dentre outros fatores, tornaram possível a improvável eleição de Marchezan Jr.

O Júnior, um deputado de federal jovem, foi favorecido por ser a “novidade” num momento de descrédito da política. Decorridos quase dez meses do seu primeiro ano de governo não há nenhuma dúvida: os eleitores se
equivocaram, fato que não chega a ser novidade. O povo votou e elegeu Ademar de Barros, Jânio Quadros, Maluf, Quércia, Garotinho, Collor, Sérgio Cabral, Aécio Neves Antonio Brito, Yeda Crusius, José Fogaça e até Ivo
Sartori, dentre muitos e muitos outros, a lista é imensa.

Próximo do fim do seu primeiro ano, Marchezan Jr. não começou a governar. Mesmo antes de assumir começou a brigar e o pior, a insultar. Atacou seu antecessor afirmando ter encontrado uma Prefeitura falida, em situação semelhante ao do governo do Estado. Uma grande bobagem: de 2005 a 2016, apesar da pequena queda do último biênio, a receita municipal cresceu 50% acima da inflação. A dívida fundada é pequena e a questão previdenciária está equacionada. Em 2002 foi criado o Previmpa e um novo regime previdenciário, o de capitalização. Com isso, os encargos com o pagamento de aposentados e pensionistas estão diminuindo e em alguns anos serão coisa do passado. Apresentar uma solução para no médio prazo zerar o déficit previdenciário foi um dos grandes avanços promovidos pelo ciclo petista. Inexperiente, inábil, Júnior escolheu os municipários como alvo principal: não concedeu a reposição salarial prevista em lei, aumentou a contribuição previdenciária e em junho começou a parcelar o pagamento de salários. Alega que a receita é insuficiente, uma grossa mentira: os dados oficiais do Tribunal de Contas (TCE/RS) informam que a despesa de pessoal compromete apenas 44% da receita corrente líquida. Não satisfeito, encaminhou um “pacote de maldades” retirando direitos históricos dos trabalhadores. Na greve geral chamou os trabalhadores de baderneiros e vagabundos. Não dialoga, é um destemperado, parte direto para agressão.

Não limitou seus ataques aos servidores, esteve em permanente conflito com os seus auxiliares. Entre secretários e assessores diretos já são 17 “baixas”. Foram demitidos ou se demitiram o Secretário de Articulação Política, o de Planejamento, o Procurador-Geral do Município, o Diretor-Geral do DMLU e o Presidente da Carris, para citar apenas alguns cargos do primeiro escalão. Foi além, não conseguiu consolidar uma base de apoio na Câmara.
Encaminhou projetos importantes, polêmicos de forma açodada sem discutir com as bancadas que o apoiam. Por isso, rompeu com seu líder na Câmara, o vereador Clàudio Janta, e sofreu reveses. Seu projeto de mudança do IPTU foi rejeitado, vinte e três vereadores recentemente assinaram requerimento pedindo a retirada do pacote de “maldades” contra os servidores. Os municipários se mobilizaram, começando uma grave com forte adesão que já
se prolonga por dez dias e que, no mínimo, irá se estender até terça próxima, dia 17, data da assembleia geral dos servidores.

Este desastrado primeiro ano de Marchezan Jr. já é amostra que está a indicar que ele certamente vai passar para a história como o pior prefeito da capital das últimas cinco décadas.

***

Paulo Muzell é economista. 


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