Colunas>Núbia Silveira
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27 de fevereiro de 2012
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16:15

O pior de todos os acontecimentos

Por
Sul 21
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No ranking das piores coisas que podem nos acontecer, nada bate a falta de saúde. Principalmente se formos acometidos por uma dessas doenças que nos mantêm presos ao leito de um hospital. A afirmação pode parecer piegas. Não é. Estou apenas sendo realista e me rendendo aos que nos desejam “saúde, porque o resto a gente corre atrás”. Esta frase sempre entrou por um dos meus ouvidos e saiu pelo outro rapidamente, sem que eu avaliasse o seu real sentido. Hoje, ao ver pessoas que amo lutando para recuperar a saúde perdida, me dou conta do quanto ela é verdadeira e reveladora da sabedoria popular.

Desemprego, desamor, falta de grana e outros tantos males que nos afetam são facilmente superados quando estamos saudáveis, com disposição para “correr atrás”. Podemos ficar tristes, desiludidos, deprimidos e até revoltados, mas com saúde temos forças para buscar um novo emprego, encontrar outro amor e formas de pagar as nossas contas. A doença, quando grave, em fase terminal, no entanto, nos torna impotentes. Acaba com a nossa vontade, privacidade e autonomia.

A impotência é o sentimento predominante, também, entre os que acompanham o doente. A toda hora nos perguntamos: Como agir? O que dizer? O que fazer? Há uma única resposta para todos os questionamentos, segundo os médicos: dar conforto à pessoa. Mas, o que é dar conforto? É ministrar medicamentos que impeçam o paciente de sentir dor? É dar-lhe carinho? Mostrar-lhe que é amado? Até onde remédios e carinho são suficientes, para quem sente a vida chegando ao fim?

Quando a doença domina as nossas vidas, passamos a ter como companhias inseparáveis, além da impotência, dúvidas, angústias, estresse e desesperança. Todos fatores de um mesmo produto: a tristeza profunda que, se não enfrentarmos, destruirá a nossa capacidade de ver e beleza do mundo e de sorrir. Da dor causada pela perda, ninguém escapa. Em seu discurso de posse, a presidenta Dilma Rousseff citou o escritor João Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e fria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Mais do que isso: a vida exige coragem para superar os problemas, os dramas, as tragédias, as dores.

Os mais fortes são aqueles que fazem como na composição de Paulo Vanzolini, interpretada por grandes nomes da música brasileira, entre eles Jorge Aragão e Beth Carvalho: levantam, sacodem a poeira e dão a volta por cima.


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