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31 de maio de 2017
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10:00

Estamos acéfalos

Por
Sul 21
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Montserrat Martins

Que o governo Temer acabou é o único consenso político nacional, depois das delações da JBS que incluem a “mesada” de 500 mil para ele. O movimento pelas “Diretas Já”, no entanto, não nasce com a mesma força que teve em 1984, no fim do período militar, quando unia o país todo. Ao contrário daquela época, hoje temos um país dividido: agora o amarelo, que era o símbolo da união nacional, passou a ser visto como o oposto do vermelho que predomina no Fora Temer.

Antonio Cruz / Agência Brasil

Com um governo sem autoridade moral, um Congresso idem e com a população dividida entre ‘amarelos’ e ‘vermelhos’, vivemos uma crise política sem precedentes, que é um verdadeiro teste para nossa democracia. Qual a saída para a crise, se nem a população consegue se unir minimamente – como vemos pela guerra nas redes sociais – em torno de uma proposta comum?

Hoje, nenhum projeto e nenhuma liderança está sendo capaz agregar a simpatia da maioria da população, diariamente se “dizimam” reputações na internet, mesmo entre os políticos que não estão na Lava Jato. Não há consenso nem mesmo em torno do que pareceria o mais óbvio numa democracia, a aprovação de uma emenda para as Diretas Já, pois a partir do momento em que os ‘vermelhos’ aderiram a essa tese (que já existia desde a crise do governo anterior), os seus ‘anti’ passaram a rejeitá-la.

Temer não representa mais ninguém, hoje em dia. Quem acreditava que ele poderia representar o empresariado ou a dita “grande mídia” está vendo que não há defesa contra a corrupção escancarada dele, de seus assessores e de seus ministros.

O problema agora é outro, quem está tomando as decisões sobre os assuntos mais importantes é o Congresso, cujo percentual de flagrados em corrupção é altíssimo e diariamente ecoam novas notícias sobre venda de votos em questões fundamentais para o país.

Quando se discute a sério a Reforma da Previdência ou Trabalhista, é legítimo considerar o interesse dos trabalhadores, das empresas e da economia do país como um todo, mesmo que nem todas as propostas sejam necessariamente populares. O inaceitável é a corrupção parlamentar, ainda mais em assuntos tão importantes, a corrupção portanto se torna a maior inimiga da democracia.

Nas manifestações para a queda deste governo, é de se questionar o uso das cores do governo anterior, que enfraquece a possibilidade de coesão popular, pois condiciona o movimento a poucos partidos. A mensagem que isso passa para a população como um todo é a de que esse movimento quer apenas trocar um governo desmoralizado pelas denúncias de corrupção, pelo anterior que também foi alvo das mesmas denúncias. Sem uma visão ampla, não terá força o apelo pelas Diretas Já.

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Montserrat Martins é médico e bacharel em ciências jurídicas e sociais.


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